Galvani põe em prática parceria com a INB
12/08/08
São Paulo, 12 de Agosto de 2008 – A mineradora Galvani está prestes a consolidar seu plano estratégico para explorar a jazida de Santa Quitéria, no Ceará, projeto realizado em parceria com a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e que prevê a extração de urânio associado ao fosfato a partir de 2012. “Estamos em fase de consolidação de tecnologias para início da etapa de engenharia do projeto, que receberá investimentos de US$ 350 milhões”, diz Rodolfo Galvani Júnior, presidente do conselho de administração da empresa. “Esta é uma jazida que pertence a INB e para explorar só o urânio da mina ficaria muito caro, por isso buscamos esta parceria”, justifica Alfredo Tranjan, presidente da INB. É a primeira vez na história que a INB – que detém a exclusividade na exploração do urânio no País – fecha parceria com uma empresa privada. Para receber o direito de explorar a mina cearense, a Galvani concorreu com duas empresas de peso, a Vale e a Bunge Fertilizantes. A expectativa dos parceiros é começar a produzir em 2012 e atingir a plena capacidade – de 240 mil toneladas de fosfato e 1,5 mil toneladas de urânio por ano – entre 3 e 4 anos depois do início das operações. “Com esse projeto, teremos a oportunidade de contribuir de forma relevante com o País em dois setores fundamentais: o agrícola, por meio do aumento da oferta de fertilizantes e a conseqüente diminuição da dependência dos importados, e o energético, com a maior disponibilidade de urânio para a geração de energia elétrica, que é de responsabilidade da INB”, afirma o executivo da Galvani. Tranjan, da INB, esclarece que o resíduo que sobra da exploração do fosfato é a matéria-prima para produzir o combustível nuclear. Segundo cálculos da INB, a Galvani terá um resultado de US$ 250 milhões por ano com a exploração do fosfato. “A INB conseguirá algo em torno de US$ 220 milhões por ano em urânio”, afirma o presidente da companhia. Nas contas de Galvani Júnior, a preços de hoje, o projeto de Santa Quitéria representaria um faturamento bruto da ordem de US$ 600 milhões por ano quando alcançar a capacidade plena. Tranjan esclarece que o aumento na oferta de urânio se dará por conta da conseqüente ampliação da demanda, prevista para 2014, quando Angra 3 entrará em operação. “Este urânio será usado para atender à demanda brasileira, que até 2030 deverá ter, além de Angra 1, 2 e 3, outras quatro usinas novas de 1 mil megawatt de potência cada”, comenta o presidente da INB. Caso as novas unidades não venham a ser construídas, o Tranjan considera a possibilidade de exportar o excedente ou mesmo de reduzir a produção. Novas parcerias Questionado sobre a possibilidade de a INB travar novas parcerias com a iniciativa privada, Tranjan não descarta a possibilidade. “Há uma outra jazida da INB que ainda não estamos explorando”, afirma o executivo. “Chama-se Rio Cristalino, é no Sul do Pará, mas ela é diferente de Santa Quitéria porque é de urânio puro”, esclarece Tranjan. Porém, ele ressalta que nada impede a INB de fazer uma nova parceria. “Podemos até criar uma subsidiária que pode ser a comunhão da INB com outra empresa , desde que tenhamos o monopólio (51%, no mínimo)”, explica o presidente da INB. Abertura de mercado A parceria inédita entre a estatal e uma mineradora da iniciativa privada é vista por analistas como o primeiro passo para a abertura do mercado no País. “A parceria é positiva para o setor. Primeiro porque está colocando em produção mais uma jazida, que está parada desde 1980. E, além disso, fica claro que está se abrindo um caminho para a flexibilização do monopólio do urânio”, afirma Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram). Apesar de comemorar a iniciativa da INB, Tunes salienta que o processamento do urânio por parte da Galvani deveria ter entrado na parceria. “Já demos o primeiro passo para a flexibilização do mercado, sem dúvida, mas o urânio deveria ter entrado na parceria também”, diz o executivo. O especialista do Ibram acredita que a parceria foi fechada por falta de recursos disponíveis na INB para iniciar a exploração. “A INB está sem recursos para fazer isso sozinha e se uniu a Galvani”, esclarece Tunes, do Ibram. (Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 6)(Roberta Scrivano)
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