Funai admite hostilidade
26/02/07
A Fundação Nacional do Índio (Funai), entidade governamental teoricamente responsável pela coordenação das iniciativas voltadas para as comunidades indígenas, está em pé de guerra contra a iniciativa privada. Pelo menos, é o que se deduz do último número da revista Brasil Indígena, editada pela entidade. Nela, o presidente da Funai, o antropólogo Mércio Pereira Gomes, deixa clara, no editorial da revista, sua posição hostil em relação a empreendimentos privados no país. Gomes, por exemplo, diz que todas as empresas ?só vêem o índio como parceiro passivo, na melhor das hipóteses, ou como atravancador do desenvolvimento nacional?. Cita especificamente a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que ?recebeu doação do governo brasileiro de terras conhecidas como Serra dos Carajás, e que hoje se recusa a acatar a responsabilidade histórica e o compromisso legal com os índios xikrins?. Sobram flechadas também para a estatal Eletronorte, que teria um compromisso com o povo waimiri atroari, ?por conta da construção desastrada da hidrelétrica de Balbina, e com o povo parakanã, pela construção e expansão da hidrelétrica de Tucuruí?. Segundo o antropólogo, ?os índios querem das empresas, ao menos a troco de custo, sua moeda corrente, o vil metal, aquilo que lhes faz sentido?. Mais claro, impossível. Em outro ponto da revista, o cacique Paulinho Paiakan, que já foi acusado de estupro, diz que a Vale já está trazendo riscos para a terra kayapó em função da mineração de Onça Puma (níquel), no Maranhão. Por fim, Paiakan critica o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. ?Se tivesse diálogo com as autoridades indígenas, aí poderia haver interesse dos dois lados?, diz o cacique. A posição da Funai é preocupante. Hoje, a entidade está analisando nada menos que 300 projetos de infra-estrutura que afetam, direta ou indiretamente, as comunidades indígenas. Entre eles, estão as hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia (estimada em US$ 20 bilhões) e Belo Monte (US$ 3,7 bilhões) e a BR-163, entre Mato Grosso e Pará, além de linhas de transmissão, gasodutos e mineração. No caso de Rio Madeira, considerada estratégica pelo governo para evitar novos apagões, a Funai faz um alerta: segundo a entidade, está comprovada a presença de índios não contactados na região. Ou seja, o projeto, que já anda em ritmo lento, pode parar de vez. (PP)
Jornal Estado de Minas