Ferrovias investem R$ 3,512 bi no ano
23/07/07
As empresas concessionárias de ferrovias prevêem investir R$ 3,512 bilhões neste ano em locomotivas, vagões, tecnologia, melhoria e expansão da malha, aumento de 58% na comparação aos R$ 2,222 bilhões aplicados em 2006. O valor será o maior investido desde o início da desestatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), há 10 anos, revela a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Os investimentos permitirão incrementar a capacidade de transporte ferroviário de carga para atender, principalmente, à demanda da produção agrícola, que deverá crescer 14% neste ano, para 133,4 milhões de toneladas, segundo projeção do IBGE. O aumento da atividade extrativa mineral, principalmente de minério de ferro, também puxará o crescimento do aporte de recursos no setor ferroviário. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior controladora de ferrovias no País, irá aportar, por exemplo, cerca US$ 200 milhões para aumentar a capacidade a capacidade de transporte da Estrada de Ferro Vitória- Minas (EFVM), que liga o Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais ao Porto de Vitória, no Espírito Santo. A ferrovia deverá transportar 140 milhões de toneladas neste ano, 3,2% a mais frente ao ano passado, quando movimentou 135,61 milhões de toneladas. Já a MRS Logística, concessionária da malha Minas, Rio, São Paulo, prevê investir neste ano aproximadamente R$ 700 milhões, o que permitirá ampliar em 15% a capacidade de movimentação de carga da empresa. A empresa está adquirindo neste ano 10 locomotivas novas, 38 usadas e 273 vagões. Os recursos fazem parte do ambicioso plano da ferrovia – que tem como principais acionistas a CSN, a Vale do Rio Doce, MBR, entre outras – de movimentar 180 milhões de toneladas no ano de 2010. Os investimentos da MRS neste ano poderão ser ainda maiores caso consiga iniciar a construção da Correia Transportadora do Porto de Santos (SP), projeto de R$ 200 milhões, e o Ferroanel, contorno ferroviário com 66 quilômetros de trilhos que permitirá retirar da região metropolitana de São Paulo a carga transportada por trens da MRS. Esse projeto está orçado em R$ 528 milhões. Segundo o diretor-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, somando-se os investimentos previstos para este ano, chega a R$ 15,3 bilhões o total investido pelas concessionárias de ferrovias desde 1997, valor que incluiu aquisição e recuperação de material rodante, em melhorias na via permanente, introdução de novas tecnologias, capacitação de pessoal entre outros. Outra empresa que está investindo pesado neste ano é a América Latina Logística (ALL), que adquiriu no ano passado a malha da Brasil Ferrovias. A concessionária deverá aplicar cerca de R$ 500 milhões neste ano, o que permitirá a recuperação de 40 locomotivas e 1.800 vagões da Brasil Ferrovias, além da substituição de 20 mil toneladas de trilhos. Com malha ferroviária de 21 mil quilômetros, desde o Rio Grande do Sul até São Paulo, a ALL obteve em janeiro deste ano financiamento R$ 1,12 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para a realização de investimentos de R$ 2,87 bilhões até 2009. Do total do crédito, R$ 985,3 milhões foram concedidos à ALL do Brasil e R$ 138,4 milhões irão para a Brasil Ferrovias. Grande parte dos investimentos previstos para este ano será realizado, contudo, pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na construção da Ferrovia Nova Transnordestina, que permitirá a exportação de produtos agrícolas, ligando o oeste da Bahia, o sul do Maranhão e o sudoeste do Piauí até os portos de Pecém (CE) e Suape (PE). A ferrovia demandará R$ 4,5 bilhões e já começou a ser construída. Produção Vilaça explica que os investimentos realizados pelas empresas nos últimos 10 a 11 anos aumentaram a produção ferroviária nacional em 70%, passando de 137,2 bilhões de TKU (tonelada por quilômetro útil transportada) para 232,3 bilhões no ano passado. Segundo ele, contudo, a continuidade desse crescimento depende de recursos do governo, que aplicou R$ 649 milhões no setor entre 1997 e 2006. “Se a contrapartida da União continuar reduzida, a produção do setor poderá parar de crescer entre 2010 e 2012, comprometendo a eficiência da infra-estrutura logística e o desenvolvimento econômico do País”, afirma Vilaça, lembrando que a arrecadação em tributos federais, estaduais e municipais sobre as ferrovias, nos primeiros dez anos de operação, atingiu a soma de R$ 3,7 bilhões. Ele acrescenta que, além da arrecadação de impostos, as empresas pagaram R$ 2,6 bilhões a título de concessão e arrendamento pelas malhas. “É preciso expandir a malha que atualmente conta com 28 mil quilômetros e deveria ter hoje em torno de 55 mil quilômetros, caso os projetos propostos pelas concessionárias e os programas de expansão da infra-estrutura de estados e do Governo federal já estivessem implantados”, afirma o diretor-executivo da associação. PacNo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Governo federal prevê aportes de R$ 7,863 bilhões em ferrovias até 2010, dos quais R$ 1,6 bilhão apenas neste ano. Os recursos englobam 13 projetos considerados prioritários, mas os recursos ainda não foram aplicados até agora, segundo Vilaça. O primeiro balanço do PAC mostra que apenas quatro dos 13 projetos caminham dentro do prazo. As empresas do setor querem ainda a criação de um regime tributário especial chamado Retrem, que tem como finalidade desonerar produtos e componentes importados, a fim de garantir a continuidade dos investimentos e do processo de expansão das ferrovias e da cadeia de compras desse setor. “Desta maneira, o setor ferroviário poderá acelerar os seus planos de investimento”, explica. Ele lembra que, quando a iniciativa privada assumiu as operações em 1997, as ferrovias contavam com 43.796 vagões disponibilizados às operações, dos quais 42% estavam sucateados. Das 1.144 locomotivas em atividade na época, 30% estavam em péssima conservação. Em dez anos, as concessionárias praticamente dobraram a frota de, que atualmente conta com 81.642 vagões e 2.227 locomotivas.
Jornal do Commércio – RJ