Ferrovia Norte-Sul avança no Centro-Oeste
09/07/07
O fazendeiro Raimundo Nonato Brasil tem 6 mil hectares de terra em Campos Lindos, no Tocantins, onde produz soja orgânica para exportação. Ele gasta R$ 4 para transportar por caminhões uma saca de soja de 60 quilos até o Porto de Itaquí, no Maranhão. São 1.280 quilômetros de estradas mal conservadas. O fazendeiro acredita que passará a economizar cerca de R$ 0,50 por saca, equivalentes a 12,5% deste custo, na safra 2007/2008, quando entrará em operação o novo trecho da Ferrovia Norte-Sul, que liga Estreito (MA) a Araguaína (TO). O projeto da Ferrovia Norte-Sul prevê a construção de 1.980 quilômetros de trilhos, cortando os estados do Pará, Maranhão, Tocantins e Goiás. Ele ligará o Porto de Belém (PA) a Anápolis (GO), a um custo de R$ 3,2 bilhões. Do traçado projetado, o trecho que liga as cidades maranhenses de Açailândia a Estreito está concluído e em operação comercial desde 1996. O Governo federal concluiu no ano passado mais um trecho, de cerca de 180 quilômetros, de Estreito a Araguaína, cuja exploração será iniciada nos próximos dois meses. Com outros fazendeiros da região, Raimundo Nonato Brasil adquiriu em junho o direito de explorar um dos lotes do pátio multimodal de Araguaína, onde realizará o transbordo da carga de caminhões para vagões do trem da Norte-Sul. `Eu e outros fazendeiros queremos crescer, mas precisamos reduzir nosso custo de transporte. Vou me preparar para começar, na próxima safra, a operação do terminal`, explica o fazendeiro, há 10 anos na região, que está em conversas com bancos. Do pátio multimodal de Araguaína, a soja de Raimundo Nonato seguirá por 240 quilômetros pela linha da Norte-Sul até o município Açailândia, onde a ferrovia se conecta à linha da Estrada de Ferro Carajás (EFC), operada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Pela malha da EFC, a carga será transportada por mais 400 quilômetros até o Porto de Itaquí, em São Luís do Maranhão. Raimundo Nonato e seus vizinhos da região produzem cerca de 400 mil toneladas de grãos por safra. No mesmo pátio de Araguaína, onde Raimundo Nonato Brasil construirá seu terminal, a empresa Renova Energia, especializada em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), irá embarcar sua produção de biodiesel, mercado que começa a explorar neste ano. A empresa decidiu instalar na região sua primeira unidade de biodiesel, com capacidade de 150 milhões de litros ao ano, que utilizará como matéria-prima pinhão-manso. O projeto demandará investimento inicial de R$ 45 milhões. Segundo o diretor financeiro da empresa, Ricardo Lopes Delneri, o plantio de pinhão-manso será iniciado em agosto e produtores locais, que serão responsáveis por uma parcela significativa da matéria-prima da usina, já começa a receber sementes. Serão plantados entre 20 mil e 25 mil hectares, segundo estimativas da empresa. Já a unidade industrial será construída a partir de janeiro do próximo ano, com previsão de início de operação para o segundo semestre de 2008. `Existem outras regiões com ótimas condições pluviométricas, mas em Araguaína teremos a ferrovia na nossa porta`, afirma o diretor, acrescentando que a ausência de um operador ferroviário do novo trecho, que será licitado nos próximos dois meses, não aumenta o risco do negócio. `Uma vez que a linha foi construída, alguém vai operar.` O secretário de Agricultura do Tocantins, Roberto Jorge Sahium, explica que a região também concentra uma das maiores produções de carne bovina do País. São 1,5 milhão de cabeças de gado abatidas anualmente. O estado detém ainda reservas de 2 milhões de toneladas de calcário. `Tocantins é o eixo da ferrovia, mas o Mato Grosso, Goiás e a região Oeste da Bahia também serão beneficiados`, acrescenta Sahium, lembrando da importância para expansão da fronteira agrícola. Segundo José Francisco das Neves, presidente da Valec, estatal ligada ao Ministério dos Transportes e responsável pela construção da ferrovia, o edital de licitação para exploração do novo trecho pode ser lançado ainda neste mês, a depender da análise do Tribunal de Contas da União. O maior interessado em explorar a malha é a Vale do Rio Doce. A empresa vencedora da licitação, que deverá ser conhecida em agosto, terá que desembolsar R$ 1,478 bilhão pelo contrato de 30 anos . Neves lembra que o Governo federal liberou, no final do ano passado, por meio de Medida Provisória, cerca de R$ 295 milhões para as obras de outro trecho da ferrovia, que liga Araguaína ao município de Miracema do Tocantins e, depois, até a capital Palmas. Do R$ 1,478 bilhão que será obtido com a licitação de exploração do novo trecho, cerca de R$ 600 milhões serão destinados para esta obra, que tem conclusão prevista para o final do próximo ano. Iniciativa Privada`É uma forma de a iniciativa privada contribuir para a expansão da malha ferroviária. O governo não pode ser responsável sozinho tanto pela malha rodoviária quanto ferroviária. Temos também que usar a criatividade para fazer a infra-estrutura brasileira, melhorar o País. Essa foi uma forma encontrada de, com os recursos da concessão, ir tocando o resto da obra`, explica o presidente da Valec, estatal também responsável pela modelagem do trem expresso que ligará Rio de Janeiro e São Paulo. Os recursos restantes que serão recebidos pela exploração do novo trecho da Norte-Sul – cerca de R$ 880 milhões, descontados os R$ 600 milhões – serão utilizados para avançar as obras da ferrovia pelo lado de Goiás. O trecho entre os municípios de Anápolis e Ouro Verde de Goiás estão com as obras atrasadas, pela falta de recursos. De Ouro Verde de Goiás à cidade de Uruaçu, as obras já foram licitadas, mas a ausência de recursos não permitiu o início das obras. O ex-ministro e atual secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, explica que a Norte-Sul foi alçada a condição de projeto prioritário do Governo. Por isso, o Governo federal continuará liberando recursos para sua construção. Ele afirma que a Valec começa a estudar ramais ferroviários, que cruzarão a Norte-Sul em direção ao estado do Mato Grosso e ao estado da Bahia. `Será fundamental para desenvolver o potencial econômico do Nordeste e Centro-Oeste`.
Jornal do Commércio – RJ