Família Moreira Salles adquire participação da Chevron na CBMM
31/01/07
Cristiane Perini Lucchesi31/01/2007
A Brasil Warrants, empresa de participações da família Moreira Salles, acaba de comprar a fatia de 35% da sócia americana Molycorp, controlada pela Chevron, na Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia (CBMM). Com sede em Araxá, Minas Gerais, a CBMM é a maior exportadora de nióbio do mundo, com vendas externas de US$ 500 milhões por ano. O nióbio é usado na indústria siderúrgica – para a produção desde aço inoxidável a semicondutores – em oleodutos e em gasodutos.
Com a aquisição, a Brasil Warrants passa a deter 98,5% da CBMM. Cerca de 1,5% do capital é de José Alberto Camargo, executivo que foi por anos presidente da companhia. É importante notar que os investimentos da família Moreira Salles no Unibanco se dão por meio de outra empresa, a E. Johnston. A Brasil Warrants não faz parte das empresas da Unibanco Holdings. Outra empresa ainda, a Santana, concentra o caixa e investimentos em imóveis dos Moreira Salles.
Israel Vainboim, vice-presidente da Brasil Warrants, não quis revelar o valor da aquisição. Mas confirmou ao Valor que a empresa tomou empréstimo sindicalizado (com a participação de vários bancos) de US$ 300 milhões, um pré-pagamento à exportação, para financiar a compra. O empréstimo, sob a liderança do ABN Amro, tem prazo de vencimento em cinco anos. O custo para a empresa ficou em torno de 1% ao ano sobre a Libor, a taxa interbancária de Londres. Como a Brasil Warrants é uma holding e não uma companhia exportadora, vai comprar performance de exportação da CBMM e de outras empresas no mercado específico para isso.
Segundo Vainboim, a Brasil Warrants não costuma se alavancar. “Uma holding não é um lugar para se fazer estripulias”, diz. “É sempre necessário observar se o fluxo de dividendos das companhias operacionais será suficientes para pagar a dívida”, lembra o experiente executivo. A opção de tomar o pré-pagamento à exportação se deveu ao custo “baixíssimo” do empréstimo, conta Vainboim, que faz parte do conselho do Unibanco e é presidente da diretoria da holding que o controla.
Segundo Vainboim, a decisão foi tomada pela própria Chevron. Em agosto de 2005, a gigante americana comprou a Unocal (Union Oil of California), que controlava a Molycorp, a sócia dos Moreira Salles na CBMM. Conforme o executivo, não fazia sentido estratégico à gigante do petróleo manter uma participação tão pequena, de 35% na CBMM, apesar de a empresa ser um “ótimo negócio”, que rende dividendos “excelentes” e é líder no seu setor no mundo todo.
A Brasil Warrants viu então uma boa oportunidade de investimento e resolveu ampliar sua participação na CBMM. Na verdade, desde 2004, quando foi comprada pela Unocal, a Molycorp vinha reduzindo sua participação na empresa e a Brasil Warrants, ampliando. Inicialmente, a fatia era de 44,59%. A venda de 4,59% em 2004 rendeu ganhos de US$ 15 milhões antes dos impostos, à época. Depois, foram vendidos mais 5% e agora, outros 35%.
A filosofia da discreta Brasil Warrants é investir em empresas “éticas e certinhas”, como definiu Vainboim, que não tenham contingências fiscais, por exemplo, para manter o legado do patriarca banqueiro e embaixador Walther Moreira Salles, morto em fevereiro de 2001. A holding só está presente nos conselhos, nunca nas diretorias, das empresas nas quais participa, dando amplos poderes aos executivos. Mas ajuda a selecionar e acompanhar a administração dessas companhias. “Nosso principal `know-how` é financeiro e, por isso, buscamos sempre ver se as atividades de nossas controladas estão financiadas da melhor forma, no melhor prazo e na melhor moeda”, diz Vainboim.
Recentemente, a Brasil Warrants fez um desinvestimento importante: vendeu os direitos de explorar a marca Blockbuster no Brasil para a Lojas Americanas, da GP Investimentos, por R$ 186,2 milhões. A marca americana foi implantada no país pela Brasil Warrants em parceira com o Unibanco, 40% a 60%, há 11 anos, mas os ganhos ano a ano foram “medíocres”, não muito superiores à Libor, taxa interbancária de Londres, diz o executivo. No entanto, como a empresa estava desvalorizada por causa disso, sua venda vai proporcionar ganho contábil “considerável”, que ele preferiu não revelar.
Mais rentável foi a participação na incorporação do Centro Empresarial Nações Unidas (CENU), na avenida Roberto Marinho com a Marginal Pinheiros, por meio da Imopar. O empreendimento foi vendido para o Hilton, Funcep e Tishman Speyer. “Obtivemos ganhos mais próximos ao DI”, disse.
A holding ainda tem algumas salas no CENU que aluga e vende. Tem participação na Aracruz e já esteve na rede Novo Hotel e na Carbocloro, entre outras empresas.
A empresa nasceu nos anos 50, quando a Brazilian Warrants foi adquirida pelo patriarca Walther Moreira Salles na bolsa de Londres. Na época, a companhia era uma grande fazenda em Matão (SP), de 55 mil hectares, que havia sido usada para a produção de café antes da crise de 29. Logo foi nacionalizada e virou Brasil Warrants. Aos poucos, partes da fazenda foram sendo vendidas para capitalizar o Unibanco e hoje restam 15 mil hectares na Fazenda de Cambuí.
Valor Econômico