Extração mineral cresce bem mais que a indústria
02/03/07
A valorização do real verificada desde 2005 enfraquece o setor de transformação, já que as empresas preferem utilizar insumos importados
Nilson Brandão Junior, RIO
Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 mostram uma mudança estrutural na indústria. Pelo segundo ano seguido, a indústria de transformação cresce muito abaixo da média da economia e do setor de recursos naturais. Esse movimento está ligado à valorização do real entre 2005 e 2006, avalia o Carlos Frederico Rocha, do Grupo de Indústria do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ).?Esse processo se torna mais evidente nos últimos dois anos. Está havendo uma especialização da indústria ligada aos recursos naturais?, diz o professor, citando áreas de mineração e petróleo. A indústria de transformação cresceu 1,3% em 2005 e 1,9% em 2006, média de 1,6% ao ano. Essa taxa representa um quinto da velocidade média de expansão do PIB do setor extrativo no período.Rocha explica que esses dados expressam uma mudança preocupante porque o setor manufatureiro é altamente empregador e tem efeito multiplicador no resto da cadeia produtiva, superior ao da indústria extrativa. Segundo ele, as maiores contratações nesses segmentos são apenas nos investimentos, como construção de plataformas.A gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, concorda que o câmbio fraco e a maior concorrência de produtos importados afetam o setor. Dados da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex) confirmam que os importados estão tirando espaço da fabricação nacional. Enquanto a produção de bens de consumo duráveis no País cresce 5,76%, a quantidade de importação sobe 73,5%.No caso dos bens de capital e matérias-primas industriais (intermediários), o volume de importação também avança mais que a produção física local. O economista da Funcex, Fernando Ribeiro, explica que isso é ?um sinal claro de substituição de produção local por importada?. ?Se isso é bom ou não, isso é outra discussão?, comentou. Nos últimos dois anos, caiu a produção dos segmentos de vestuário, calçados, madeira e químicos, entre outros.O economista da LCA, Bráulio Borges, conta que as empresas estão substituindo insumos nacionais por importados, barateados pelo dólar fraco, para manter a competitividade. Segundo ele, o PIB da indústria da transformação saiu fraco (1,9%) em 2006 por conta do aumento das importações.O caso da Bravox é um exemplo dos problemas cambiais. Há dois anos, a empresa tinha 200 empregados a mais e receita de exportações maior, conta o superintendente, Firmino Lima e Freitas. Por causa do câmbio, as vendas externas foram prejudicadas e aumentou a entrada de produtos do exterior. ?O câmbio afeta nas duas pontas. Estamos sofrendo uma invasão de produtos chineses?, diz ele.Em 2006 a indústria de transformação cresceu menos que a extrativa (5,6%), construção (4,5%) e serviços industriais de utilidade pública (3,3%). A fraca expansão do setor limitou o crescimento industrial a 3%.
O Estado de São Paulo