Extração em Carajás completa 25 anos
02/03/10
Não vai haver bolo nem festa. Não ainda, pelo menos. Mas a data tem um caráter histórico para o grupo Vale S. A., para o Pará e para a economia brasileira. Neste domingo, se completam 25 anos de operação da mina N4E, a primeira grande mina de ferro da província mineral de Carajás.
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No primeiro ano, a produção limitou-se a um milhão de toneladas de minério, produzidas à época numa usina de beneficiamento semi-industrial. No segundo ano, com a entrada em operação da usina de beneficiamento em escala industrial, foram produzidas em Carajás 13,5 milhões de toneladas.
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Em 1985, quando a província de Carajás iniciou a produção de minério de ferro, o Sudeste do Pará tinha uma conformação geopolítica muito diferente da atual. A mina ficava localizada no município de Marabá, simplesmente porque Parauapebas, então um pobre vilarejo em formação, ainda não existia como município autônomo. E não só ele. Curionópolis, Eldorado e Canaã dos Carajás, todos na mesma região, só viriam a figurar no mapa algum tempo mais tarde, em parte pelo rápido crescimento de seus núcleos urbanos, mas em parte também impulsionados pela febre divisionista que, nos anos seguintes, elevou de 87 para 143 o número de municípios do Pará.
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As mudanças, porém, não se limitaram ao campo geopolítico. Criada em 1942, durante o governo Getúlio Vargas, a Companhia Vale do Rio Doce, que deu partida ao projeto Carajás, era ainda estatal. Privatizada em 1997, ela se tornou uma das maiores empresas do mundo, estendeu sua presença a mais de trinta países e conta hoje com uma força de trabalho de mais de cem mil empregados. Transformada em gigante mundial no setor de mineração, mais recentemente a antiga Companhia Vale do Rio Doce passou a ser apenas Vale S.A.
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Atualmente a produção de minério de ferro em Carajás anda em torno de 100 milhões de toneladas. O complexo minerador administrado pela Vale engloba a operação simultânea de quatro minas a céu aberto, o que faz de Carajás a maior produtora de minério de ferro em operação do planeta. Nada a surpreender, portanto, no fato de serem todos os seus números rigorosamente portentosos. Para realizar o transporte do minério da mina até a usina de beneficiamento, são utilizados caminhões fora-de-estrada com capacidade para transportar até 240 toneladas de carga, volume dez vezes maior que o dos caminhões comuns.
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Para se ter uma ideia da dimensão: os caminhões da Vale medem 6,5 metros de altura, cerca de 8 de largura e quase 13 metros de comprimento. Cada um dos pneus mede três metros de altura.
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As origens históricas de Carajás, que viria a se revelar como a maior, mais rica e diversificada província mineral do planeta, remontam à segunda metade década de 1960, ainda nos primeiros anos do regime militar. No dia 31 de julho de 1967, uma segunda-feira, o geólogo Breno Augusto dos Santos, a bordo de um helicóptero em trabalhos de pesquisa na região, pousou numa clareira na Serra dos Carajás, então município de Marabá.
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Para esse episódio há duas versões. Uma diz que, por problemas mecânicos, o piloto teve que fazer um pouso de emergência. Já a outra sustenta que Breno Santos teve sua atenção despertada para a vegetação da área, característica de rochas mineralizadas, e por isso recomendou ao piloto uma breve parada de observação no local. Profissional experiente, apesar de ainda relativamente jovem ? ele tinha 27 anos ?, Breno não teve dificuldade para identificar de imediato o tipo de material que tinha ao alcance da mão. Ele acabara de descobrir o maior depósito de minério de ferro do planeta.
O nome de Breno Santos, nascido em Olímpia, pequena cidade do interior de São Paulo, está fortemente associado não apenas a Carajás, mas a várias das maiores descobertas minerais do Pará e da Amazônia. Foi ele, por exemplo, que elaborou o planejamento do reconhecimento geológico que conduziu à descoberta do depósito de manganês de Buritirama, hoje em produção no município de Marabá. A descoberta, realizada pelo geólogo Erasto Boretti de Almeida, ocorreu no final de agosto de 1967 ? menos de um mês depois da descoberta de Carajás.
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A partir de 1969, a área de atuação de Breno Santos foi ampliada para toda a Amazônia. Dada a falta de mapas e imagens confiáveis para os trabalhos de prospecção mineral, participou sistematicamente de numerosos voos de reconhecimento e elaborou mapas das áreas mais favoráveis. Esses voos cobriram a área das abas sul e norte do Amazonas, entre Belém e Manaus.
No Pará, ele coordenou durante 13 anos o maior programa de prospecção mineral já realizado no Norte e que cobriu quase todas as áreas potenciais de seu território, do Maranhão a Roraima. Como resultados desse trabalho, que chegou a mobilizar 40 geólogos e um exército de 1.500 trabalhadores, podem ser apontadas numerosas e importantes descobertas no Pará. Entre elas, vários depósitos de bauxita, de cobre e ouro em Carajás, além de níquel, cassiterita, fosfato, titânio e manganês.
Diário do Pará