Evo anuncia exploração de reservas de Mutum e instalação de siderúrgica
20/07/07
A pobre e esquecida província de Germán Busch, que integra as comunidades bolivianas situadas na fronteira com Corumbá, esqueceu a oposição ao presidente indígena Evo Morales e festejou ontem o que pode ser a redenção econômica e o fim da miséria que assola o povo da região: a exploração das reservas minerais de Mutum associada à instalação de uma siderúrgica movida a gás natural. Depois de muita controvérsia que se arrastou por um ano, o Governo boliviano e o grupo indiano Jindal Steel & Power chegaram ao acordo que garante investimentos na fronteira da ordem de US$ 2,1 bilhões, em oito anos. O contrato assinado em Santa Cruz de la Sierra, e mostrado aos fronteiriços, prevê a exploração de 50% da jazida de ferro de Mutum por 40 anos, com controle estatal. Os bolivianos que vivem na região aguardaram por quatro décadas a extração de minério da reserva e chegaram a fechar a fronteira com o Brasil em protesto contra a recusa do presidente em assinar o contrato com a empresa indiana. Pela proposta anterior, no entanto, a Jindal Steel & Power investiria somente US$ 500 milhões, com concessão por 40 anos e garantia de renovação por igual período. “Missão cumprida”, disse Morales ao povo concentrado na Avenida Bolívar, em Puerto Suárez (18 quilômetros de Corumbá). Ele estava sendo esperado às 10h e chegou às 12h30min. O ato terminou às 14h20min, com Morales dançando com a miss da cidade uma música em sua homenagem. Em seguida, o locutor informou que seria distribuído almoço na praça, gerando correria na disputa por um prato de comida. A exploração de Mutum, cuja reserva de 40 bilhões de toneladas de ferro foi descoberta em 1848, vai gerar quatro mil empregos diretos e 12 mil indiretos, mercado de trabalho que pode atrair inclusive os corumbaenses. Evo Morales garantiu que 95% das vagas serão ocupadas por bolivianos. Na fase de produção de 3,1 milhões de toneladas de ferro-esponja e laminados serão abertos 6,7 mil empregos. Durante o ato em Puerto Suárez, o presidente da empresa indiana, Vikrant Gujral, assumiu um compromisso que tem muito a ver com o jeitinho brasileiro: para ganhar a simpatia dos fronteiriços, que clamam por emprego, ele prometeu doar ambulâncias e equipamentos para o hospital, computadores e biblioteca para o comitê cívico e ainda ajudar os clubes de futebol. Foi aplaudido. EBX na mira Sem mencionar a siderúrgica da EBX, do Grupo Eike Batista, em Puerto Suárez, praticamente pronta, mas embargada por supostas irregularidades, o presidente disse, num longo discurso, que a exploração e industrialização de Mutum viabilizarão a construção do terminal em Puerto Busch, na tríplice fronteira com Brasil e Paraguai. O projeto é prioridade e “la plata” está garantida, segundo ele. Embora Morales tenha ignorado a EBX, a agência oficial de notícias de seu Governo divulgou um histórico do acordo “feito por baixo da manga”, como definiu o presidente, que entregaria as reservas minerais a estrangeiros. A agência critica o ex-presidente Carlos Meza por ter autorizado “a depredação e exploração ilegal” de Mutum e forjado uma licitação para favorecer a empresa brasileira. A EBX é acusada de pressionar o Governo a liberar licença para operar os fornos da usina com carvão vegetal, quando é de interesse do país a industrialização dos recursos naturais com indústria movida a gás natural. O contrato com o grupo indiano prevê a construção de um gasoduto para atender exclusivamente a sua siderúrgica. O contrato ainda depende de aprovação do congresso boliviano.
Correio do Estado – MS