Empréstimos externos de US$ 24 bi
25/07/07
A crise no mercado de hipotecas de maior risco nos Estados Unidos está começando a afetar os empréstimos às empresas americanas, principalmente as de maior risco de crédito. Mas, passa longe do mercado de empréstimos externos ao Brasil. As maiores empresas, tradicionalmente as grandes tomadoras, estão cheias de caixa e precisam de crédito externo só para grandes aquisições. A liquidez disponível nos bancos para o país é tão ampla que há companhias pagando prêmios de risco menores do que seus pares americanos com a mesma classificação de risco de crédito. A queda nos spreads para as maiores empresas chega a 20 pontos básicos em seis meses. Levantamento feito pelo Valor junto a sete bancos líderes mostra um total de mais de US$ 24 bilhões em empréstimos sindicalizados (nos quais participam mais de um banco) já fechadas neste ano ou em andamento (ver tabela na página C2). No primeiro semestre, foram desembolsados US$ 10 bilhões. Em sua maior parte, são empréstimos para aquisições e investimentos, além de linhas de crédito (“stand-by” ou “revolving”) que funcionam como uma espécie de cheque especial, ampliando a liquidez disponível no curto prazo pelas empresas sem engordar seu caixa. Nas grandes aquisições, um só banco chega a dar garantia firme de financiamentos de até US$ 4,6 bilhões, como acontece com o JPMorgan, que está atuando como conselheiro financeiro exclusivo para a Gerdau Ameristeel na compra da americana Chaparral. Foi também o JPMorgan que, sozinho, deu a garantia firme de quase US$ 1,5 bilhão para o Friboi fazer a oferta definitiva de compra da Swift. “Nas grandes aquisições internacionais, muitas companhias têm preferido que só um banco abra seu talão de cheque de forma a manter o negócio sob maior sigilo”, diz Ricardo Stern, presidente do JPMorgan no Brasil. O banco está também entre os líderes, com o Credit Suisse, o Citigroup, o UBS e o Banco do Brasil, de uma operação que promete movimentar o mercado de empréstimos externos: o empréstimo-ponte de US$ 6,5 bilhões para a Telemar Oi comprar a fatia dos minoritários, em dois leilões, um realizado ontem e outro em agosto, em valor que pode superar R$ 20 bilhões. Depois do empréstimo-ponte para as aquisições, que é aprovado rapidamente e tem prazos curtos, geralmente de não mais do que dois anos, há as operações de rolagem desse empréstimo. “Como o mercado de capitais está favorável ao país, os bancos têm mais conforto de que vão conseguir rolar os empréstimos-ponte de forma satisfatória”, diz Stern. A Braskem deve anunciar em breve a rolagem do US$ 1,2 bilhão em empréstimo-ponte, tomado em abril sob a liderança do Calyon, ABN Amro e Citigroup, para a compra de ativos do Grupo Ipiranga. “As grandes empresas têm captado quase que só para aquisições estratégicas, mas há um número crescente de novas companhias no mercado de empréstimos externos”, diz David Jana, presidente do Calyon. Ele cita como exemplo empréstimo de US$ 331 milhões, o primeiro sindicalizado feito pela TAM, sob a liderança do Calyon e do Natixis. Neste momento, o Calyon está liderando, junto com o HSBC, linha de crédito “stand-by” de US$ 300 milhões para a Usiminas. A empresa tem três anos para sacar o dinheiro, se quiser, e pode ficar com os recursos por mais dois anos após o saque. “O apetite pela linha está fantástico e já temos mais oferta que os US$ 300 milhões”, diz Jana, que não quis revelar os juros a serem pagos. Segundo o Valor apurou no mercado, considerando-se a comissão pela disponibilidade da linha e mais o prêmio de risco, a Usiminas vai pagar 39 pontos básicos sobre a Libor, taxa interbancária de Londres, se sacar os recursos. É a segunda menor taxa para o prazo de cinco anos já paga por uma empresa brasileira. A mais baixa foi a obtida pela Companhia Vale do Rio Doce, na sua linha de crédito rotativo de US$ 650 milhões, em operação fechada em maio sob a liderança do BNP Paribas: 32,5 pontos básicos sobre a Libor. “A Vale conseguiu o menor prêmio já pago por uma empresa na história do mercado de empréstimos sindicalizados do país”, comenta Ernesto Meyer, coordenador de financiamentos para aquisição e operações sindicalizadas para a América Latina do BNP Paribas. Segundo ele, o prêmio é o mesmo pago por uma empresa de classificação de risco de crédito “A-” nos Estados Unidos, dois degraus acima do “BBB” que é a nota do crédito da Vale. Isso acontece, segundo ele, por causa da forte liquidez disponível para as grandes empresas na América Latina e o pequeno volume de recursos tomados. O BNP Paribas acaba de lançar no mercado operação em ienes, para o Banco Itaú, pelo prazo de dois anos. Ele não quis revelar as taxas a serem pagas pelo banco. Segundo o mercado, no entanto, elas chegam a 35 pontos básicos sobre a Jibor, a taxa de juros interbancária do Japão. Já o WestLB está distribuindo empréstimo de US$ 480 milhões para a Delba Marítima, que vai construir sondas de perfuração de petróleo para a Petrobras. A operação é lastreada no aluguel da sonda que a Petrobras vai pagar à Delba e por isso fica com o risco da Petrobras, o que permite o alongamento de prazos para até dez anos, com três de carência, e redução de custos, conta Angélica Wiegand, chefe da área de finanças estruturadas e corporativas do WestLB. “A perspectiva de o Brasil atingir o grau de investimento amplia ainda mais a disponibilidade de recursos para o país”, afirma.
Valor Econômico