Emprego se estabiliza no setor mineral
12/01/09
Sob controleEmpresas descartam a possibilidade de novos ajustes
Keila FerreiraDa Redação
A situação do mercado de trabalho no setor mineral paraense, o mais afetado pela crise financeira no Estado, divide opiniões. De um lado sindicalistas demonstram preocupação com as demissões ocorridas até agora e que atingem principalmente o pólo mineral de Marabá, onde, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do Pará (Simetal), já foram registrados mais de mil desligamentos. De outro, os representantes das grandes empresas do setor afirmam que as demissões não foram significativas e dizem que a possibilidade de que mais trabalhadores percam o emprego é pequena. Para os sindicalistas, no entanto, a hipótese não está descartada e deve fazer, ainda, ser uma sombra presente ao longo de 2009.
Algumas indústrias do interior do Estado já sofrem com a quebra da economia e tiveram sua produção reduzida pela metade, ou até paralisada. Isso contribuiu para agravar o quadro de demissões que o setor de mineração vivencia. Ivo Borges de Freitas, presidente da Força Sindical e do Simetal, afirma que a região de Marabá é a que mais sofre. Lá, cerca de oito mil pessoas trabalhavam no setor. Logo que a crise se espalhou, a Sidenorte e a Usimar, ambas localizadas no distrito industrial da cidade, deram férias coletivas a aproximadamente 600 empregados e interromperam suas atividades.
Porém o caso se tornou muito mais grave. Segundo Ivo Borges, desde outubro, mais de mil desligamentos já foram registrados na região. Algumas empresas fecharam e outras demitiram 50% do seu quadro de efetivados. Os casos mais graves ocorreram nas indústrias de ferro-gusa, que viram a produção despencar quando os norte -americanos, principais compradores, simplesmente decidiram parar de fechar novos contratos de compra.
A situação mais díficil é da Usipar, que trabalha com ferro-gusa. Segundo Lúcio Maciel a empresa parou e 150 pessoas foram mandadas pra rua. `O acordo que nós fizemos com eles é que, assim que a situação melhorar, esses trabalhadores voltem as suas atividades`.
Além disso, a Usipar deu férias coletivas para trinta pessoas em dezembro e mais trinta em janeiro. `A expectativa é que as coisas comecem a mudar a partir de abril, com uma possível melhora da economia`.
De acordo com o Simetal, outras empresas do setor mineral também estão demitindo nas cidades de Castanhal, Belém e Parauapebas. De acordo com os registros do Sindicato 100 trabalhadores perderam o emprego na capital, 250 em Castanhal e 150 em Parauapebas. `Vale lembrar que só passa no Sindicato quem tem mais de um ano de empresa. Não chega ao nosso conhecimento as pessoas com menos tempo que são demitidas. Isso leva a conclusão de que o número é bem maior do que se imagina`, ressaltou Ivo Borges.
Sem sinal de recuperação dessas empresas menores, a questão preocupa o representante dos trabalhadores. `Nós estamos muito apreensivos. O que a gente já viu foi sinal de recuo nas demissões. Mas o caso ainda é grave`, finaliza Ivo Borges.
Segundo o presidente da unidade do Sindicato dos Metalúrgicos de Barcarena, Lúcio Maciel, das três grandes empresas da região – Alubar, Albras/Alunorte e Usipar – apenas a Albras demitiu funcionários, 18 no total. Segundo a empresa isso aconteceu para ajuste da gerência de Recursos Humanos. Maciel acrescenta, ainda, que a Alubar já firmou compromisso, afirmando que todos os empregos este ano estavam garantidos.
No recém-criado Sindicato da Mineração, que tem como afiliadas grandes empresas como a Vale, Alcoa, Mineração Rio do Norte, Cadam e Imerys, a informação é de que tudo está sob controle. Segundo Eugenio Victorasso, presidente da instituição, a única mineradora que registrou demissões do Pará foi a Vale, porém, nada significativo. `A Companhia apresentou 1.300 demissões no mundo inteiro. Mas o número, se comparado com a quantidade de efetivados que ela tem, é muito baixo. Além disso, no Brasil e no Pará as demissões apresentadas foram insignificantes. Isso ocorreu proque grande parte dos seus investimentos está mantida. O que houve mais foi adequação do pessoal, como ocorre todo ano`.
Já a Cadam não teria realizado demissões no Estado e sim no Amapá, em função da redução do mercado comprador de Caulim. Ainda segundo Victorasso até o momento nenhuma empresa anunciou redução de produção e nem demonstrou interesse em dar férias coletivas para os funcionários. `Elas estão aproveitando o pessoal em outras atividades que podem ser desenvolvidas nesse período, como treinamento e manutenção de equipamentos`.
O presidente do Sindicato afirma também que no Pará os impactos da crise serão menores. `Nós temos minério de alta qualidade, que faz a procura ser grande`, finalizou. Segundo último levantamento do PDF, Programa de Desenvolvimento de Fornecedores do Pará, da Fiepa, Federação das Indústrias, de 2007, o setor mineral empregou em torno de 52 mil pessoas, sendo que cerca 13 mil de forma direta e cerca 39 mil de forma indireta.
Célio Bordallo, diretor de Trabalho e Emprego da Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Renda (Seter) e coordenador do Sistema Nacional de Empregos (Sine) no Pará (Sistema Nacional de Empregos), explica que as empresas que mais sofreram com a crise e, consequentemente, realizaram demissões, foram as que têm vendem para o exterior e têm os preços de seus produtos cotados em dólar. Muitas desses empresas não tiveram condições de manter a produção.`Não considero que os desligamentos feitos até agora signifiquem situação de caos na área. Quando os preços melhorarem a tendência é que essas pessoas voltem para as suas atividades`, garantiu Bordallo.
Os dados de janeiro a novembro de 2008 do Ministério do Trabalho e Emprego reforçam a opinião de Bordallo. Os registros mostram que a atividade Extrativa Mineral realizou, em onze meses do ano passado, 3.135 admissões, contra 1.331 desligamentos, com saldo positivo de 1.804 postos de trabalho. Número 19,92% maior que o mesmo período de 2007. `Foi o quarto setor que mais gerou vagas, graças a grande projetos que estão sendo mantidos no Estado, como da Alcoa em Juruti, da Onça-puma em Ourilândia e Alunorte em Barcarena. Além desses, temos a usina termoelétrica em Barcarena e uma nova siderúrgica em Marabá. Isso faz com que a indústria tenha um crescimento muito forte`, finalizou Bordallo.
Histórico
O medo de retração no número de empregos do setor mineral começou a se espalhar no Pará a partir de novembro de 2008, quando a Vale anunciou em dezembro de 2008 a demissão de 1.500 funcionários e férias coletivas para 5.500 pessoas em todas as suas unidades espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil. Não foram divulgados dados por região, mas a assessoria da empresa no Pará já havia confirmado que parte desses desligamentos ocorreu no Estado.
Na última quarta-feira, dia 7, outra grande indústria também divulgou cortes. A Alcoa, que produz alumínio, dispensou 13.500 trabalhadores e anunciou o congelamento de contratações e salários, também no mundo inteiro. A empresa garante, no entanto, que nenhum desses desligamentos ocorreu no Brasil, onde possui um quadro de funcionários de aproximadamente 6.200 pessoas, e diz que os projetos de expansão no País continuam a todo vapor.
O Liberal – PA