Editorial – Istoé Dinheiro
04/06/07
Carlos José MarquesCom medo do apagãoCrescimento, mesmo o econômico, é fruto de pura energia. E a falta dela pode comprometer todo e qualquer projeto neste sentido. A Argentina já vive por esses dias o problema. A bordo de taxas anuais consecutivas de 9% a 10% de aumento do seu PIB, o país entrou na milonga dos apagões. Semana sim, semana não, mesmo na capital Buenos Aires, os conterrâneos de Kirchner estão experimentando horas, e até dias, sem luz. É o outro lado da moeda na chamada corrida pela pujança econômica. Sem investimento na infra-estrutura básica, o desenvolvimento é estrangulado pela falta de fôlego. O Brasil está olhando para o vizinho e muitos começam a temer que por aqui ocorra o mesmo. A gigante da mineração Vale do Rio Doce, por exemplo, tomou nos últimos dias uma atitude firme para não se ver vítima dessa asfixia. A companhia está revendo seus planos de longo prazo porque acredita que o risco de desabastecimento energético é grande. Calculou até data para ele ocorrer: acha que com a atual capacidade instalada do País pode haver um colapso a partir de 2012. O presidente da Vale, Roger Agnelli, fala em incertezas quanto ao fornecimento das usinas e diz que o risco já tem afetado inclusive os projetos na área de cobre e níquel. O movimento do grupo deve servir como um sinal de alerta. Num efeito cascata, vários outros podem começar a engavetar seus investimentos, numa reação que vai de encontro ao plano oficial de aceleração do crescimento. O Brasil tem todas as ferramentas e o momento ideal para levar adiante a tarefa do PAC, mas depende essencialmente de uma alavanca, que são as novas plantas energéticas. Não contribui em nada para acalmar tais receios os constantes atrasos nas obras de hidrelétricas, barradas por decisões lentas do Ibama. O próprio presidente Lula já fez cobranças públicas ao instituto, mas esse teima em manter uma postura alheia a urgência da questão. Nessa toada, quem vai acabar pagando o pato somos todos nós. Carlos José Marques
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