Dia da Consciência Negra: setor mineral avança ao promover ambientes de trabalho mais igualitários
20/11/23
O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é uma data de celebração e de conscientização sobre a força, a resistência e o sofrimento da população negra brasileira, desde a colonização. Apesar dos 135 anos da Lei Áurea, que deu fim à escravidão, ainda há heranças de tratamento desigual entre raças na sociedade e, assim, o racismo continua presente nas estruturas sociais e institucionais deste país e é manifestado pela falta de oportunidades de educação, de trabalho, por falta de remuneração, pelas tentativas de apagamento da cultura e diversas outras situações que envolvem pessoas negras.
O setor mineral avança para mudar esta realidade e a temática de Diversidade & Inclusão (D&I) é uma das metas da Agenda ESG da Mineração do Brasil e questões como raça/etnia, gênero, classe e orientação sexual fazem parte do trabalho do grupo (GT Diversidade e Inclusão)
Para o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, embora seja clara mudança em prol da diversidade e inclusão, o setor ainda precisa evoluir. “Assumimos o compromisso de implementar ações na mineração em prol do desenvolvimento de novas oportunidades e de ambientes de trabalho mais igualitários, mas precisamos avançar. Como uma das metas da Agenda ESG da Mineração do Brasil, o setor mineral implementa ações para reverter o cenário da desigualdade social e do preconceito em relação às pessoas negras. A busca é por igualdade em todos os níveis hierárquicos nas empresas”, avalia.
As mulheres negras são o maior grupo na sociedade brasileira, considerando os recortes de gênero e raça. São 41 milhões de mulheres autodeclaradas negras (pretas ou pardas), ou 23,4% do total da população.
Para Thaís Porfírio, especialista em meio ambiente e líder do Grupo de Afinidade Diversidade Racial da ArcelorMittal Brasil e cofundadora do Coletivo Quantos – Negras e Negros na Mineração, “as mulheres negras cosntituem um dos principais grupos impactados pelos empreendimentos minerários, se considerarmos a localização, geralmente rural e periférica das minas. Também representam o grande potencial de mão-de-obra local”.
Entretanto, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, com o perfil social, racial e de gênero, as pessoas negras ocupavam apenas 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país, em 2016. Quando se fala de mulher negra, o percentual é de apenas 0,4%.
“Apesar de uma grande representatividade de profissionais negros na mineração, quando se faz a análise em cargos técnicos ou de liderança e à medida que se aumenta os salários, a presença negra cai significativamente. Se fizermos um recorte de gênero, chegamos a uma disparidade absurda com a proporção que este grupo significa na população do Brasil. Assim, entendo que há um grande potencial para que o setor minerário olhe para este grupo, estimule-o e capacite-o para estar preparado para ser inserido no mercado de trabalho, para ser mais atrativo a este público”, avalia Thaís Porfírio.
Para celebrar o Dia da Consciência Negra, o IBRAM apresenta a história de três profissionais do setor mineral que mostram que com força, oportunidades e dedicação é possível traçar um caminho de sucesso:
Sara Quaresma – Analista de Relações Comunitárias na Mineração Rio do Norte (MRN)
Mulher negra, amazônida, engenheira florestal e integrante do primeiro Quilombo do Brasil titulado. “Meus ancestrais foram escravizados e, fugindo, povoaram a região do Trombetas (PA). Meus avós e meus pais não tiveram acesso à educação, mas sempre me incentivaram. Minha mãe enfrentava o rio, cedo, de canoa, para me deixar em um ponto onde o barco buscava os alunos, pois eu era a aluna que morava mais distante. Eu tinha que acordar de madrugada, por volta de 4 horas da madrugada”, conta Sara Quaresma.
A engenheira florestal iniciou seu o trabalho na MRN como trainee, em 2015. “Durante o programa tive a oportunidade de desenvolver um projeto pioneiro na região, um banco de germoplasma de castanha-do-pará. Atuando com a comunidade hoje em dia, me sinto privilegiada em facilitar o diálogo com os povos tradicionais, dos quais eu, como quilombola, também faço parte. Contribuir com as ações da empresa na região onde eu nasci e cresci é muito satisfatório”, destaca.
Um dos maiores desafios para a profissional foi o acesso às oportunidades de qualificação. “As políticas públicas escassas deixam muito a desejar na reparação histórica que o povo negro busca. O apoio da iniciativa privada, no caso da MRN, que apoia o ingresso de alunos no ensino básico e superior, é muito importante. Fui contemplada com esse apoio financeiro e fez a diferença na minha carreira”, ressalta.
Quaresma ainda avalia que “no setor mineral, por ser majoritariamente masculino, foi muito difícil resistir e competir pelo espaço. Sem falar no preconceito que ainda existe, e vem há séculos resistindo de forma sutil. Mas, com resiliência e ciente do meu potencial, sigo avançando”.
Para a analista da MRN, o processo de diversidade e inclusão está em evolução, com um caminho muito longo e desafiador para percorrer. “O mercado de trabalho de modo geral ainda carrega vícios preconceituosos. No setor mineral, não é diferente. Entendo que mais oportunidades precisam ser dadas a negros para que os espaços sejam ocupados por nossa gente preta. Oportunizar o acesso à educação se mostra como a chave fundamental para que isso se torne realidade”, finaliza.
Thaís Porfírio – Especialista em meio ambiente e líder do Grupo de Afinidade Diversidade Racial da ArcelorMittal Brasil. Cofundadora do Coletivo Quantos – Negras e Negros na Mineração
Thaís Porfírio é graduada em Engenharia Florestal e mestre em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Atuou como consultora, docente e, no momento, como especialista na área Ambiental e Direito Minerário. Atualmente integra a área de Diversidade e Inclusão, como líder do Grupo de Afinidade Diversidade Racial.
A especialista avalia que seu maior desafio no início de carreira foi a insegurança que sentia. “Por ser mulher e negra, ao longo da minha graduação, eu tinha muito medo de não conseguir me inserir em um mercado de trabalho que é majoritariamente masculino. Depois de efetivamente entrar para o setor minerário, a minha maior dificuldade era me fazer ser ouvida em discussões técnicas com outros profissionais. A sensação de ter suas ideias ignoradas e depois serem repetidas por um homem e não ser levada em consideração. O medo de não conseguir evoluir na carreira”, disse.
Thaís ainda ressalta que, quanto à questão racial, o maior desafio foi ter sua identidade questionada em diversas situações, por não a considerarem negra e também ser confundida recorrentemente com a equipe de limpeza dentro do escritório, apesar de estar claramente com o uniforme da equipe técnica. “Muitas vezes, as barreiras eram invisíveis, já que as pessoas sabem que podem responder criminalmente sobre racismo e injúria racial. Então, muitas vezes, ouvi comentários de colegas que me afetavam, mas eu demorava muito tempo para entender a carga discriminatória que havia naquela fala”, relata.
Mariana Luíza Souza da Silva – Estagiária em Engenharia Metalúrgica da AMG Brasil, em São João Del Rei (MG).
Mariana despertou seu interesse pelo setor mineral durante o ensino médio, período em que frequentou as aulas regulares e um curso técnico no IFMG-OP (Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Ouro Preto). Após ingressar no curso de Engenharia Metalúrgica na Universidade Federal de Ouro Preto teve a oportunidade de estagiar na AMG Mineração.
Para Mariana, a participação das mulheres e das pessoas negras no setor mineral era historicamente limitada, com uma representatividade reduzida em diversas áreas, mas tem evoluído. “O fato de hoje em dia haver conscientização sobre a importância da diversidade e inclusão no setor pode ser um dos motivos para tal evolução, além de iniciativas de programas com o intuito de promover uma maior representação, oferecendo oportunidades. Acredito que essas iniciativas contribuam para romper com os padrões estabelecidos, criando um ambiente mais inclusivo e diversificado”, ressalta.
Para seu futuro profissional, a estagiária da AMG almeja continuar crescendo no setor mineral. “Tenho a aspiração de que meu trabalho seja reconhecido e valorizado por sua qualidade, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Além do reconhecimento, busco também o desenvolvimento de uma reputação, em que as minhas contribuições sejam vistas como significativas e relevantes para aqueles ao meu redor”, afirma.