De Beers sai do país mas deixa sucessores
27/03/07
Patrícia Nakamura27/03/2007;
Bruno Magalhães / Agência Nitro
Ribeiro, da Brazilian Diamonds, vai explorar área cedida pela gigante De Beers com uso de tecnologia de ponta
;Após quase quarenta anos de atividades, a De Beers está fechando suas portas no Brasil de forma melancólica. Apesar de ter acumulado um vastíssimo material de pesquisa, a gigante sul-africana controlada pela família Oppenheimer (que também é acionista majoritária da Anglo American) não explorou comercialmente as jazidas de diamantes estudadas. A empresa não possui mais representantes no Brasil. Homero Silva, ex-presidente da subsidiária local, não quis dar declarações, mas confirmou o fim das operações.
Um dos motivos para o encerramento das atividades no Brasil, de acordo com fontes ouvidas pelo Valor, é o baixo teor de diamantes contidos em suas áreas de prospecção em relação às enormes minas da empresa na África do Sul e em Botswana. Desde o início da década passada, a companhia vinha repassando suas terras a outras empresas.
Uma delas, a canadense Brazilian Diamonds, está finalizando os estudos de viabilidade econômica de uma área cedida pela De Beers em 2002 e que poderá se tornar a primeira jazida de diamantes do Brasil até o fim deste ano. Localizada próxima à área do Parque Nacional da Serra da Canastra, a mina tem reservas estimadas entre 550 mil e 2 milhões de quilates (cada quilate pesa 200 miligramas), de acordo com estudos preliminares. Os investimentos na área – realizados tanto pela De Beers como pela Brazilian Diamonds – já somaram US$ 30 milhões.
A jazida de diamantes em Canastra é formada por kimberlitos (depósito de diamantes primários retirados de rochas deslocadas do centro da Terra em direção à crosta), semelhantes às minas consideradas de “classe mundial”. As maiores delas estão concentradas na África. A maior parte dos kimberlitos encontrados no mundo é estéril. Desde o século XVIII (quando liderou a produção mundial) até hoje, o Brasil só explorou diamantes por meio de garimpo, processo considerado poluidor e de difícil recuperação ambiental.
“Onde há fumaça há fogo” afirmou ao Valor Érico Ribeiro, diretor da Samsul Mineração, subsidiária da Brazilian Diamonds, lembrando a exploração de diamantes feita no local 300 anos atrás. Canastra recebeu no fim do ano passado a licença ambiental e deve ter vida útil de cerca de oito anos, desde o início de suas atividades até a recuperação ambiental. Os custos com a instalação da mina serão marginais – o trabalho de prospecção já deixa demarcada a área a ser explorada.
A Brazilian Diamonds existe há cerca de oito anos e já investiu cerca de R$ 50 milhões apenas em pesquisa mineral, boa parte desses recursos captados na Bolsa de Toronto. Além da área de Canastra, adquiriu da De Beers parte de seu banco de dados e um projeto de kimberlitos na Chapada Diamantina, na Bahia, que se encontra em fase inicial de estudos. No acordo assinado na cessão de direitos de Chapada, há uma cláusula que garante à De Beers o direito de recompra de 40% do projeto caso a reserva apresente mais de 200 quilates. A empresa também possui outros projetos de prospecção em Minas Gerais. Ainda não tem operação comercial.
Ribeiro disse acalentar o sonho de repetir no Brasil o êxito da exploração de diamantes no Canadá. Vinte anos atrás, o país não registrava a incidência de diamantes em seu solo – os primeiros indícios de kimberlitos exploráveis são de 1991. A operação comercial teve início em 1998 nas proximidades do parque Yellowknife, no norte do país. A BHP Billiton é responsável pela extração.
Hoje, o Canadá possui duas enormes jazidas e é o terceiro maior produtor em termos de valor (atrás apenas de Botswana e Rússia), com faturamento de US$ 1 bilhão por ano. O Brasil, que no ano passado só extraiu 300 mil quilates, faturou US$ 27 milhões com a atividade. No mundo, a indústria de diamantes movimentou US$ 160 bilhões no ano passado, por conta da alta demanda industrial – ao contrário do que se pensa, a joalheria não é o principal destino dessas pedras. Pelo seu grau de dureza, o diamante é usado em equipamentos de corte e precisão. Dona do slogan “os diamantes são eternos”, a De Beers é o maior produtor mundial, com faturamento de US$ 6 bilhões no ano passado.
Além da Brazilian Diamonds, companhias de pequeno porte como Majescor, Vaaldiam e Diagem também ficaram com áreas que pertenciam à De Beers. “Por serem pequenas, têm espaço e tempo para arriscarem mais”, disse um diretor de uma empresa de mineração. O Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) negocia com a De Beers a transferência de seus estudos geológicos (cujos depósitos somam um quilômetro de extensão) às faculdades de geologia em todo o Brasil.
Valor Econômico