Custo da compra de máquinas no longo prazo pode cair 21%
30/06/09
O pacote de redução de juros do BNDES, um dos pilares das medidas anunciadas ontem pelo governo, tem como meta principal levar as empresas a antecipar investimentos produtivos. As novas condições dos empréstimos do banco devem reduzir em 21% o custo dos investimentos em máquinas e equipamentos financiados em prazo de dez anos, segundo apurou o Valor. Hoje a diretoria do BNDES vai aprovar as medidas e até amanhã o banco deve enviar carta circular aos agentes financeiros informando-os das mudanças.
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Apenas os bens de capital financiados nas diversas modalidades do programa Finame, que estão na lista dos beneficiados pela redução de juros, representaram, em 2008, quase um terço do desembolso total do BNDES, de R$ 92 bilhões naquele ano. Fonte do governo tem a expectativa de que as novas condições trarão de volta os investimentos e levarão a um novo recorde de desembolsos em 2009, superior a R$ 110 bilhões.
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A entrada em operação das novas condições de financiamento vai depender de portaria de equalização do Tesouro Nacional, que, em geral, leva duas semanas para ser publicada no “Diário Oficial da União”. A equalização será necessária porque o custo de captação para o banco vai superar o juro final dos empréstimos aos tomadores. Nos bens de capital, por exemplo, a taxa final foi reduzida de 10,25% para 4,5% ao ano. O novo percentual inclui 3% de spread do agente financeiro e 1,5% do BNDES. O custo mínimo de captação do BNDES nos empréstimos passará a ser de 7% (6% do novo valor da TJLP mais 1% de spread básico). O Tesouro, neste caso, terá que equalizar 5,5%.
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O pacote do BNDES foi bem recebido por executivos e entidades de classe. Fernando Bueno, vice-presidente da Abimaq, disse que as medidas deverão permitir “desengavetar” projetos. A dúvida é se os benefícios chegarão às pequenas e médias empresas.
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Na avaliação de executivos da área de bens de capital, a redução dos juros nas linhas do BNDES é uma tentativa de reverter a forte queda do investimento fixo nos cinco primeiros meses do ano. Segundo a Abimaq, os investimentos no setor produtivo caíram cerca de 25% de janeiro a maio em relação ao mesmo período de 2008.
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O diretor corporativo e de operações do grupo Randon, Erino Tonon, explicou que o aumento dos prazos e a redução dos juros para a aquisição de caminhões por pessoas físicas e jurídicas foram pauta de conversa de empresários e executivos com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, durante a missão comercial à África no início deste mês. De acordo com ele, a medida é mais importante do que a manutenção do IPI sobre o produto e sobre semirreboques rodoviários em 0% até o fim do ano.
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“Em financiamentos com quase cem meses de prazo, mesmo uma pequena redução da taxa de juros faz uma grande diferença”, comentou o executivo. O incentivo para a venda de caminhões também tem impacto positivo sobre o segmento de autopeças, que representa cerca de 50% do faturamento do grupo, explicou.
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Mesmo assim, Tonon afirmou que a isenção do IPI de 5% sobre semirreboques desde abril ajudou o grupo a encerrar o segundo trimestre com desempenho superior ao do primeiro, quando o número de implementos rodoviários vendidos ficou em 4,4 mil. O volume ainda não alcançou o registrado no segundo trimestre de 2008, quando a Randon vendeu 6,4 mil unidades, mas o executivo reconhece que aquele número representou um “ponto fora da curva”.
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Fontes de empresas fabricantes de equipamentos para a indústria de mineração e siderurgia receberam a notícia com cautela. A constatação é de que esses setores estão praticamente parados em função da crise. As fontes reconheceram que as condições financeiras do BNDES se tornaram muito favoráveis, mas têm dúvidas se elas serão suficientes para levar os empresários desses setores a retomar investimentos, pois as empresas do setor trabalham com capacidade ociosa entre 30% e 40%.
Valor Econômico