30/01/09

As incertezas provocadas pela crise econômica levaram as empresas brasileiras a reduzir em 10% suas previsões de investimentos para o quadriênio 2009 a 2012, de R$ 1,46 trilhão para R$ 1,3 trilhão. Os números foram levantados pelo BNDES a partir do mapeamento dos projetos em carteira, em pesquisas feitas entre agosto e dezembro de 2008. A maior queda ocorreu na área de insumos básicos, cuja intenção de investimentos baixou 48% de agosto para dezembro. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, reconheceu que esta foi a área onde o efeito da crise se manifestou de forma mais intensa por conta do esfriamento da economia dos países desenvolvidos.
Segundo ele, a desaceleração do cenário internacional levou a uma forte contração na demanda por commodities com consequente queda dos preços destes produtos, o que influiu fortemente na postergação de planos de investimento dos setores de mineração, siderurgia, papel e celulose e petroquímica. Coutinho, que acaba de voltar de uma reunião com bancos de todo o mundo realizada no International Institute of Finance (IIF) destacou que os mercados estão em forte contração global. “O FMI e os grandes bancos apontam para uma recessão em 2009 e de pelo menos dois anos de esfriamento das economias em desenvolvimento”, destacou. O IFF prevê uma taxa negativa de 1,1% para o crescimento da economia global este ano, ante uma taxa de 0,5% prevista pelo FMI.
Pelo que a pesquisa do BNDES aponta, a indústria brasileira não escapará impune da turbulência que tomou conta dos mercados e contaminou a economia real, mas os projetos de infra-estrutura foram menos afetados, com retração de 5,7%. Os números revelados pelo banco informam que houve uma retração de 18% nos projetos apresentados pela indústria junto ao banco. A área de insumos básicos foi a que mais sofreu o impacto da crise, mas também os setores voltados para o mercado interno apresentaram um declínio de 21% nos investimentos previstos em agosto em relação ao portfólio de dezembro. Para Coutinho, é nos setores voltados para o mercado interno que reside “a maior incerteza em relação ao futuro”. Ele cita o setor automobilístico, eletroeletrônico, dentre outros, que vão depender do processo de ajuste de estoques que está em curso.

“A queda da demanda interna gerou uma redução de estoques e uma contração na produção através de férias coletivas para os empregados”, analisou o presidente do BNDES. Ele lembrou que o Governo está estabelecendo medidas para reaquecer as vendas e ainda está em curso o ajuste da cadeia automotiva. “É muito importante saber como será este ajuste e quando o setor voltará a crescer. Amanhã (hoje), temos uma reunião com a Anfavea. Tudo vai depender dá volta do crédito”.
Nos números do banco, a construção residencial sofreu uma restrição menor de projetos postergados, com redução de apenas 6% da intenção de investir do setor. Há uma expectativa do governo lançar um pacote para habitação que vai reaquecer o setor na avaliação do banco.
Os grandes baluartes dos investimentos “firmes” em 2009, segundo o levantamento do banco e as avaliações de Coutinho, serão a infra-estrutura e os investimentos no setor de intensivos em recursos naturais, que inclui petróleo e gás, ou seja, a Petrobras que anunciou recentemente um plano estratégico para os próximos cinco anos de US$ 174 bilhões. Na área de infra-estrutura os projetos de investimento encolheram apenas 5,7% e na área de petróleo e gás, só 7%. Coutinho prevê que os desembolsos em infra-estrutura vão continuar crescendo. No ano passado, somaram R$ 35 bilhões, com avanço de 37% na comparação com o resultado de 2007, sustentados principalmente por projetos de energia. Este resultado só foi superado pelos desembolsos para a industria, que fecharam o ano em R$ 39 bilhões.
Segundo o presidente do BNDES, depois de desembolsar R$ 92,2 bilhões em 2008, dos prováveis R$ 120 bilhões de desembolso do banco em 2009, num pior cenário de stress de demanda junto ao banco, a infra-estrutura e a área de petróleo e gás vão responder por metade desta performance. Ele garantiu que não faltarão recursos para a Petrobras, que este ano já contará com R$ 25 bilhões do banco.
A instituição está avaliando também dar garantia para os fornecedores da estatal, visando elevar os investimentos no país e criar emprego neste período difícil. O presidente do banco, contudo, não vê razão para a economia brasileira “comer o pão que o diabo amassou”, pois acredita que ela tem capacidade de resistir a crise.

Valor Econômico