Construção industrial tem trabalho "até 2020"
12/04/10
Reeleito no fim de março para um segundo mandato à frente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), o executivo Carlos Maurício de Paula Barros, presidente da EBSE (grupo MPE), disse ao Valor que a combinação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o aumento do conteúdo nacional nas obras e equipamentos da Petrobras -que compõem a maioria do PAC-, as empresas de construção industrial brasileiras nunca tiveram tamanho volume de obras.
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Barros afirmou que chega a “ficar tonto” quando tenta fazer um levantamento detalhado do que há para fazer nos próximos cinco anos e disse que há trabalho para fazer “pelo menos até 2020”. Segundo ele, “todas as empresas (do setor) hoje têm uma perspectiva que nunca tiveram, nem na década de 1970”.
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Somente em obras para a Petrobras, o faturamento foi multiplicado por oito em cinco anos, passando do equivalente a US$ 3 bilhões em 2003 para US$ 24 bilhões em 2008. De acordo com o executivo, em 2003 a indústria naval estava praticamente parada e muitas outras fábricas operavam com, no máximo, 30% de uso da capacidade instalada.
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Hoje, em contrapartida, são mais de 40 estaleiros operando, de vários portes, e as demais empresas estão chegando ao limite de uso da capacidade. A freada provocada pela crise de 2008/2009 já está ficando para trás e Barros vê para os próximos meses o reaquecimento para além do setor petróleo, com a retomada de projetos congelados em setores como o de mineração e siderurgia.
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Para dar uma dimensão da arrancada dada pelo setor de engenharia industrial, o presidente da Abemi conta que no período de quatro anos, encerrado em março de 2010, o Programa Nacional de Qualificação Profissional (PNQP), destinado ao setor petróleo, que foi gerenciado pela entidade, formou 80 mil pessoas, espalhadas por 12 Estados, em 156 categorias profissionais, das quais 86% foram empregados. Mesmo assim, a segunda fase do PNQP, que deve começar nos próximos meses, parte de uma carência de 210 mil novos profissionais, o mesmo número do início da primeira fase.
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“A nossa bandeira maior chama-se conteúdo nacional”, define Barros. Segundo ele, foi a elevação do conteúdo nacional mínimo de 46% para 65% nas obras da Petrobras, a partir de 2003, que desencadeou o atual ciclo de bonança. “Agora fala-se em 72%.”, torce, afirmando que, se confirmado o novo piso, haverá uma nova elevação expressiva nos volumes de obras e de empregos.
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Barros ressalta que em 1997, quando a empresa que dirige participou das construções das plataformas P-19, P-31 e P-34, quase todos os componentes foram comprados no exterior. “Até estruturas metálicas vieram de barcaças dos Emirados Árabes, porque não havia competitividade no Brasil”, ressaltou.
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Apesar de dizer que houve muito avanço, o presidente da Abemi admite que ainda há problema de competitividade Mas reclama que o câmbio sobrevalorizado é o responsável por grande parte dessa persistência. Segundo ele, com o câmbio na casa de R$ 1,70 não dá para competir com países como China e Índia, países onde, afirma, os custos de mão de obra são muito mais baixos do que os brasileiros.
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Como resolver o problema do câmbio? Barros diz que não daria certo fazer um câmbio especial para o setor petróleo, por exemplo. O caminho, segundo ele, é sobretaxar com imposto de importação os produtos considerados artificialmente competitivos como, ressalta, “os Estados Unidos fazem com o Brasil”.
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Mas Barros admite que ainda há muito ganho de produtividade a ser conquistado. “Não atingimos a competitividade dos países desenvolvidos. Não dá para comparar o operário recém-formado nosso com o europeu ou o americano. Eles são muito mais produtivos”, disse.
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Para o presidente da Abemi, até agora a engenharia industrial brasileira cresceu, basicamente, com o que ela já tinha, embora tenha havido elevações do nível tecnológico importantes, como seria o caso do Estaleiro Atlântico Sul (Pernambuco). “Não foi ainda (no geral) um salto radical de tecnologia. Acho que, a partir de agora, esse salto será indispensável. Quem ficar fora, não vai competir”, prevê.
Valor Econômico