18/02/09

Cássia EponineRepórterAs expectativas do empresariado mineiro para os próximos seis meses despencaram e já estão entre as piores dos últimos dez anos. As grandes empresas – mais afetadas pela redução da demanda externa, queda nos preços de commodities e escassez de crédito- foram as que registram as piores quedas nos níveis de confiança e otimismo.De acordo com a Sondagem Industrial, pesquisa divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), as expectativas em relação à compra de matéria-prima e às exportações baixaram aos menores níveis desde o início da série histórica, em 1999.A expectativa em relação à compra de matéria-prima nos próximos seis meses, por exemplo, recuou de 54 pontos no terceiro trimestre de 2008 para 41,4 pontos nos últimos três meses do ano. Em relação às exportações, a queda foi de 49,7 para 43,6.A pesquisa – que também captou o sentimento do empresário do Estado em relação à economia brasileira, à própria empresa, à demanda, e ao número de empregados – ouviu 35 grandes, 58 médias e 157 pequenas empresas, entre 5 e 26 de janeiro deste ano. Valores acima de 50 pontos indicam expectativa positiva. Abaixo, negativa. Pela primeira vez desde o início da série histórica, o indicador de demanda ficou abaixo da linha dos 50 pontos: 43,4, uma retração de 13 pontos em relação ao trimestre imediatamente anterior. ?A crise chegou ao Brasil pelo mercado externo, e as grandes empresas – tradicionalmente mais otimistas – são as que mais estão sofrendo, e isso se reflete no sentimento em relação ao futuro?, avaliou o vice-presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg, Sérgio Cavalieri, lembrando que as empresas de maior porte apresentaram quedas mais intensas no nível de produção e altas mais significativas de estoques não planejados no quarto trimestre do ano passado.Se no quarto trimestre de 2007 o aquecimento da economia mundial elevou o ânimo do industrial mineiro – cinco dos seis indicadores tiveram pontuação acima de 50, no quarto trimestre de 2008, a crise inverteu o sentimento do empresariado e disseminou o pessimismo – cinco dos seis indicadores ficaram com pontuação abaixo de 50, portanto, pessimistas. ?O que diferenciou o Brasil das outras economias do mundo é que elas já vinham desacelerando desde o final de 2007. O Brasil vinha incólume até que, no último trimestre do ano passado, a queda foi brusca, muito rápida?, opina Cavalieri.O ranking dos principais problemas enfrentados pelas empresas também mudou. A falta de demanda, que no quarto trimestre de 2007 era o 7º colocado na lista de preocupações do industrial, citada por 18,4% dos entrevistados, saltou para o terceiro lugar, como fonte de dor de cabeça para 38,6% dos ouvidos.Para Cavalieri, o período mais crítico já chegou. ?Acho que já estamos passando pelo fundo do vale. Esperamos que, no segundo semestre, as coisas se normalizem, ainda que em um patamar de atividade mais baixo?, opinou. A projeção de crescimento de 2,5% para o faturamento da indústria mineira em 2009 está mantida, mas pode passar por revisão.Após oito trimestres sucessivos de crescimento, o índice de expectativa em relação ao número de empregados também despencou, de 51,5 pontos, no terceiro trimestre de 2008, para 42 pontos, no último trimestre do ano. MPT avalia acordos até maio O Ministério Público do Trabalho (MPT) deve concluir até maio a análise dos acordos coletivos assinados em Minas em decorrência da turbulência econômica. Segundo o Procurador do Trabalho de Minas Gerais Geraldo Emediato de Souza, o MPT já começou a receber a documentação de alguns acordos de flexibilização assinados no Estado em função da crise. ?Os problemas estão concentrados nas empresas exportadoras, principalmente mineração e siderurgia. Vamos começar pelos acordos firmados pela Vale, mas também estamos aguardando informações dos sindicatos que assinaram documentos com Gerdau, Arcelor Mittal, Novellis e Usiminas?, informou o procurador, que espera concluir o trabalho de análise até maio.?Para fazer uso de dispositivos legais como a redução de salários e jornada, as empresas têm de comprovar o prejuízo financeiro. Elas não podem agir preventivamente, reduzir os direitos dos trabalhadores como parte do seu planejamento estratégico. Isso, a lei não autoriza?, enfatiza.Segundo Emediato, se as empresas não comprovarem o prejuízo financeiro, o MPT irá ajuizar ações civis coletivas de reparação aos trabalhadores que tiveram o salário reduzido ilegalmente. A Vale informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que não irá comentar o assunto.Para o vice-presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg, Sérgio Cavalieri, a ação da procuradoria deve ser ?prudente?, para não criar uma clima de insegurança que pode inviabilizar novos acordos.?É preciso respeitar o que as duas partes (empresas e sindicatos) acordaram. Mas é claro que qualquer abuso é condenável, e o Ministério Público tem autonomia para zelar pela justiça?, opinou. Cavalieri destaca ainda que, respaldada por boa parte desses acordos, a indústria mineira registrou, em dezembro, uma queda no emprego de 0,55%, frente a uma redução da produção física da ordem de 16%. ?O empresário tem buscado arranjos para preservar os empregos?, reforça.Ontem, a Fiat e 14 fornecedores de autopeças assinaram um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, que prevê a garantia de emprego a 40 mil trabalhadores da indústria automotiva até 10 de março.O presidente do sindicato do Metalúrgicos, Marcelino da Rocha, destacou que a expectativa dos trabalhadores é de que o Governo federal prorrogue a redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre a venda de automóveis. ?Esperamos que a redução seja renovada por mais três meses com a contrapartida de manutenção dos níveis de emprego?, afirmou, após a assinatura do acordo.

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