Clima deve provocar um realinhamento estratégico
28/10/16
Quais as implicações do aquecimento global sobre as atividades mineradoras? Há vários riscos. Fenômenos climáticos extremos podem danificar estruturas de energia e transporte com maior frequência, paralisando a produção e elevando preços. “A água também fica mais escassa e provoca uma competição entre as mineradoras e a comunidade”, diz Abdul Koroma, vice-ministro de mineração e recursos naturais de Serra Leoa. Segundo ele, a mudança climática pode frustrar os esforços de seu país para agregar valor à mineração. O setor responde por 22% do PIB e 83% das exportações da nação africana. O uso da energia também será decisivo nas próximas décadas. O insumo representa de 20% a 30% do custo das mineradoras e é responsável por grande parte da pegada de carbono da indústria de mineração. Um dos países mais bem-sucedidos na redução de emissões no setor é o Canadá. Hoje, elas estão em um nível inferior ao registrado em 1990. Os canadenses acreditam que é possível reduzir ainda mais a pegada de carbono do setor. Para isso, as mineradoras canadenses apostam na eletrificação das minas. “Em cinco anos, o Canadá terá sua primeira mina 100% elétrica”, diz Pierre Gratton, presidente da Associação de Mineração canadense. O Canadá foi o primeiro país a adotar um sistema de carbon pricing, que estabelece um preço para o minério de acordo com a emissão de carbono da mina. O `carbon pricing` é um dos fatores de maior impacto no setor nas próximas décadas, mas as regras para um sistema internacional de precificação ainda não estão claras.
O processo, no entanto, será inevitável. “O carbon pricing já está virando uma realidade e vamos levar isso em conta nas nossas tomadas de decisão no futuro”, diz Jennifer Hooper, vice¬presidente de sustentabilidade da Vale. Ela ressalta também que o investimento em tecnologias verdes aumenta a produtividade das mineradoras. “Na mina S11¬D, em Carajás, tivemos queda de 50% na emissão de gases, reduzimos o uso de terra e conseguimos um sistema de transporte 35% mais eficiente.” O consultor de mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável do Banco Mundial John Drexhage observa que a demanda global por minérios seguirá crescendo, mesmo com a intensificação das medidas contra o aquecimento global. E isso pode favorecer alguns segmentos, como os de níquel, alumínio e cobre, usados de forma intensiva na produção de equipamentos para geração de energia renovável. “Só a demanda por cobre, por exemplo, deve crescer de 275% a 350% em 2050, se forem adotadas medidas agressivas para a redução de gases do efeito estufa”, diz.
Valor Econômico