China investiga Vale, BHP e Rio Tinto
14/04/10
Para o governo chinês, as três mineradoras agem como cartel e impõem mudanças contratuais semelhantes à dos produtores de aço
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O governo chinês prepara uma investigação por suspeita de formação de cartel contra os três maiores produtores mundiais de minério de ferro – a brasileira Vale e as australianas BHP Billiton e Rio Tinto -, informou ontem o jornal econômico “Jingji Cankao Bao”, editado pela agência oficial de notícias Xinhua.
O movimento ocorre pouco mais de uma semana depois de a Associação Mundial do Aço, que reúne as maiores siderúrgicas do planeta, ter pedido ações às autoridades antitruste de todo o mundo contra as três mineradoras, que controlam quase 70% do comércio global do produto.
No fim de março, a Associação da Indústria de Ferro e Aço da Europa (Eurofer) já havia solicitado ao organismo de defesa da concorrência na União Europeia que investigasse a suspeita de abuso de posição dominante por parte das mineradoras.
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O confronto entre os produtores de minério de ferro e as siderúrgicas ao redor do mundo se intensificou depois que a Vale negociou com clientes japoneses o reajuste de 97% na cotação do minério e alterou a periodicidade da revisão de preços de anual para trimestral.
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Em seguida, a BHP anunciou que também modificaria seu mecanismo de negociação e, na sexta-feira, a Rio Tinto disse que seguiria o mesmo caminho. A mudança quase simultânea no formato do reajuste de preços é um dos argumentos dos chineses para sustentar que há uma ação coordenada dos fornecedores nesse mercado.
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A imprensa oficial do país afirma que as “três gigantes” atuam de maneira semelhante em relação ao fornecimento, à definição de preços, transporte e prazos, o que indicaria um “claro abuso monopolístico”. A reportagem cita declarações de uma autoridade não identificada do setor, segundo a qual o governo já está colhendo provas para dar início à investigação.
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Em nota divulgada dia 1.º de abril, a Associação Mundial do Aço afirmou que o poder das mineradoras de “impor” mudanças no sistema de reajuste decorre da falta de competição no mercado internacional de minério de ferro, com a Vale em posição monopolista no Oceano Atlântico e as duas australianas, no Pacífico.
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As autoridades precisam “decidir se a natureza não competitiva desse negócio é do interesse público, considerando que o aço é utilizado em virtualmente todos os aspectos da economia moderna”, ressaltava a nota da entidade, que reúne siderúrgicas responsáveis por 85% da produção de aço mundial.
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A ameaça de abertura de processo por suspeita de cartel é realizada em meio às negociações para definição dos preços do minério de ferro para 2010. A Vale chegou a um acordo com os japoneses, mas continua a negociar com os chineses, que são seus principais clientes e maiores compradores do produto em todo o mundo.
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PARA LEMBRAR
Crise fez preço cair até 33%
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Com a queda na demanda por minério de ferro no ano passado, em razão da crise global, os preços despencaram e as mineradoras concordaram com redução de 33% nas cotações em relação a 2008. Mas a China queria um corte maior, de 40%, e não houve acordo com as grandes mineradoras, que fecharam contratos individuais com as siderúrgicas. A produção de aço da China equivalente a 46,5% do total global.
O Estado de São Paulo