China assume riscos para comprar minas pelo mundo
25/07/10
Na caça mundial por ativos de mineração, a China surgiu como o líder das compras: poucos anos depois de notórios fracassos na tentativa de fechar grandes aquisições, compradores chineses de todos os tamanhos estão selando negócios mais sofisticados com uma taxa maior de sucesso.
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Empresas sediadas na China e em Hong Kong participaram no ano passado de aquisições internacionais na área de mineração e investimentos avaliados em US$ 13 bilhões ? 100 vezes o nível de 2005, de acordo com empresa de acompanhamento de dados Dealogic.
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As empresas sediadas na China estão mantendo um ritmo semelhante em 2010. Na semana passada, o Shandong Iron & Steel Group Co. anunciou um investimento de US$ 1,5 bilhão em um projeto de minério de ferro da African Minerals Ltd. em Serra Leoa, o mais recente de 76 negócios internacionais anunciados por compradores da China neste ano, até o momento, no valor de US$ 8,3 bilhões, de acordo com a Dealogic.
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A fome da China por metais e minerais será um dos principais motores a puxar os investimentos no exterior para mais de US$ 100 bilhões em 2014, prevê Derek Scissors, um pesquisador da Heritage Foundation, que montou um banco de dados para acompanhar esses negócios.
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O sucesso da China em abocanhar produtores de minério de ferro, níquel, molibdênio e outros minerais acontece depois que a maioria do mundo aprendeu com a crise financeira global. Em 2009, a China respondeu por um terço do valor de todas as fusões e aquisicões na área de mineração envolvendo países diferentes, ante 7,4% em 2007 e menos de 1% em 2004, apurou a Dealogic.
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Na Austrália, que sempre foi um grande destino dos investimentos chineses em mineração, compradores da China responderam por quase 40% do negócios no setor com capital estrangeiro ano passado, segundo a análise anual de fusões e aquisições feita pela PricewaterhouseCoopers. No Canadá, um mercado mais recente para os chineses, o número foi de cerca de um quarto.
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Os negócios recentes introduzem uma nova classe de pretendentes. Nos últimos anos, os compradores chineses de ativos de petróleo e minério no exterior eram normalmente grandes empresas estatais que favoreciam aquisições completas e tinham reputação de fechar negócios que não exigiam muita habilidade ? e sofreram uma série de rejeições públicas, como a tentativa fracassada da China Minmetals Corp. de comprar a mineradora canadense Noranda Inc., em 2005.
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Agora, os investidores em potencial vão da indústria privada a investidores de Hong Kong e ao fundo soberano da China, a Corporação para Investimento da China. Os que acompanham os negócios da China dizem que esses investidores são mais espertos e mais flexíveis do que eram poucos anos atrás, testando joint ventures e participações minoritárias.
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Há apenas um ano, o CST Mining Group Ltd., de Hong Kong, era chamado de China Sci-Tech Holdings LTD., uma empresa de capital aberto, formada por 15 pessoas, que investia principalmente no setor imobiliário. Este ano, a empresa comprou duas minas de cobre por US$ 380 milhões ? uma canadense e outra australiana ?, contratou um punhado de veteranos ocidentais do setor de mineração para administrá-las, captou US$ 600 milhões por meio de uma colocação privada de ações e mudou o nome para CST Mining Group Ltd.
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Os investidores chineses estão encontrando “mais e mais maneiras de fazer negócios com o mundo”, diz Amy Cheng, banqueira do CST e líder do grupo de mineração do BOC International, braço de banco de investimentos do estatal Banco da China Ltd.
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Cheng estima que os investidores chineses do setor de mineração tenham conseguido fechar cerca de três quartos dos negócios que tentaram fazer; poucos anos atrás, diz ela, eles eram quase sempre recusados. A crise financeira criou uma abertura. “Todo projeto [que precisa de dinheiro] olha para as empresas chinesas”, disse ela.
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O governo chinês não fez pressão pública para essas aquisições, mas a explosão de negócios nos últimos anos, muitos fechados por companhias estatais, sugere que eles são uma prioridade.
A China já consome um terço de todo o cobre do mundo e 40% dos metais básicos, e produz metade do aço do mundo. Embora a demanda por commodities tenha sofrido uma baixa com a desaceleração da expansão chinesa este ano, é esperado que ela se mantenha forte no longo prazo.
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A China já se queixou de que as empresas estrangeiras cobram muito pelo minério de ferro e outras commodities, uma preocupação que se tornou aguda em 2007, quando a maior mineradora do mundo, a BHP Billiton Ltd., tentou comprar a Rio Tinto, um negócio que prometia criar uma fornecedora com enorme poder de estabelecer preços.
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A tentativa fracassou, mas logo depois a China fechou o que continua a ser sua maior aquisição internacional na área mineral, a compra de 9% da Rio Tinto pela Chinalco, um negócio de US$ 14 bilhões. Graças a esse investimento, as companhias chinesas e de Hong Kong realizaram um recorde de US$ 17,5 bilhões em fusões e aquisições no exterior em 2008, de acordo com a Dealogic.
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O surto comprador da China pode em algum momento aumentar a oferta mundial de muitos minérios, diz Tim Goldsmith, líder da área global de mineração da PricewaterhouseCoopers, que vive na Austrália e diz que seu trabalho exige que ele passe uma semana por mês na China. Se a demanda chinesa continuar forte, e outras economias com a da Índia também crescerem rapidamente, o aumento da oferta poderá ajudar a amenizar as altas dos preços das commodities, diz ele.
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Uma demanda global mais fraca poderia levar a quedas de preços, um cenário que Goldsmith acredita ser menos provável. Os grandes mineradores mundiais devem se sair bem de uma forma ou de outra, diz ele, uma vez que suas minas tendem a ser mais rentáveis, com retornos esperados mais altos, que aquelas em que muitas empresas chinesas estão investindo.
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Alguns investidores chineses estão comprando empresas com minas ainda em estágio inicial de desenvolvimento e exploração, uma proposta mais arriscada mas potencialmente mais rentável.
“Houve um tempo em que eles não investiam em nada que ainda não estivesse produzindo”, lembra Howard Balloch, ex-embaixador canadense na China, que fundou, em 2001, o Balloch Group, um banco de investimento butique sediado em Pequim. Agora, “os chineses estão dispostos a (…) experimentar níveis de risco um pouco mais altos”.
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Isso está trazendo mais negociadores chineses para Toronto e Vancouver, onde ocorrem muitas operações para levantar dinheiro para a exploração mineral. “Do lado chinês, é quase como se alguém tivesse virado um botão há poucos anos e o interesse foi de zero para um signicativo investimento em empresas canadenses”, diz o advogado David Redford, que atua na área de mineração da Goodmans LLC.
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O interesse é recíproco: Redford estima que cerca de 80% dos clientes atuais da área de mineração estejam buscando investimentos de fontes chinesas.
Zwela Angola