Brasil na rota da exploração do níquel
13/10/06
Enquanto a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) aguarda a resposta dos acionistas da produtora de níquel canadense Inco à sua proposta de compra, feita em agosto passado, cresce o interesse das companhias nacionais e internacionais pela exploração do minério no Brasil.
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Em 2005, foram protocolados no Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) 693 pedidos de autorização para exploração de minério de níquel no País, mais que o dobro dos 278 requerimentos encaminhados ao órgão em 2004. Entre as requerentes estão empresas que ainda não atuam neste mercado no Brasil, como a americana Falconbridge, e companhias brasileiras como a Mineração Minas Bahia e a própria Vale do Rio Doce, hoje com dois projetos de níquel em seu portfólio, o Níquel do Vermelho e o Onça Puma, ambos no Pará.
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Os investimentos da Vale nos dois projetos e os recursos previstos pelas duas únicas produtoras de níquel no País, a Anglo American e a Votorantim Metais, superam os US$ 3 bilhões nos próximos anos. A razão que leva o País a ingressar na rota das empresas que se dedicam à exploração do metal são os sucessivos recordes de preço do níquel no mercado internacional. Esta semana a tonelada do minério foi negociada na London Metals Exchange (LME) por cerca de US$ 32 mil, no mercado spot (pagamentos à vista), e US$ 29.700 para contratos de três meses. ?O elevado preço do níquel tem levado as empresas a buscar novas oportunidades de negócios?, diz o gerente executivo do Instituto de Metais Não Ferrosos, Douglas Ballemule. Pelas estimativas do instituto, apenas com os investimentos previstos por Anglo American, Votorantim Metais e Vale do Rio Doce o Brasil vai passar das cerca de 30 mil toneladas de níquel produzidas anualmente para 140 mil toneladas em 2010, alçando o País ao grupo dos cinco maiores produtores de níquel do mundo.
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Hoje não estamos sequer entre os dez maiores. O maior impulso à produção nacional virá dos projetos da Vale, que somados devem consumir US$ 2,2 bilhões e cuja entrada em operação está prevista para 2008. O Níquel do Vermelho tem capacidade de produção estimada em 46 mil toneladas anuais do minério, além de 2.800 toneladas de cobalto. De acordo com a mineradora, os principais equipamentos foram encomendados. O projeto de Onça Puma ainda depende da aprovação do conselho de administração da companhia. A mina pertencia à Canico, adquirida pela Vale em fevereiro. A capacidade nominal de produção é estimada em 57 mil toneladas anuais. A Vale entrou com pedido de autorização para pesquisa do minério em ao menos um estado além do Pará: Tocantins. Uma das sinergias com a possível compra da Inco, a ser decidida na próxima segunda-feira, é o aproveitamento da expertise (perícia) de seus técnicos em exploração de níquel.
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Outro projeto de porte é o da Anglo American. A empresa planeja investir mais de US$ 1 bilhão na produção de uma mina no município de Barro Alto (GO), com capacidade anual estimada de 35 a 50 mil toneladas de níquel contido e vida útil de 30 anos. De acordo com o CEO da Anglo American Brasil, Walter De Simoni, o investimento ainda depende de aprovação do conselho de administração do grupo, mas a companhia já vem adiantando os trâmites burocráticos necessários à operação. ?O projeto Barro Alto está na carteira do grupo há alguns anos e a decisão de se apresentá-lo ao Conselho seguiu um processo-padrão dentro do grupo. Este processo leva em consideração ó os aspectos econômicos, a posição do grupo em determinados mercados e, acima de tudo, a confiança de se poder implementar um projeto sustentável no longo prazo. De qualquer forma, a Anglo American Brasil já tem aprovadas todas as licenças necessárias para a implantação do projeto?, diz De Simoni. A nova mina fica a 170 quilômetros das operações da empresa na cidade de Niquelândia, também em Goiás. A capacidade produtiva desta planta é de 10 mil toneladas anuais, com grande parte da produção vendida internamente.
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A Votorantim Metais vem crescendo no segmento há mais tempo. Em 2003, a empresa adquiriu a Fortaleza de Minas, ampliando sua atuação no mercado de níquel brasileiro. Desde então, investiu R$ 287 milhões em projetos de expansão, elevando a produção para 27 mil toneladas de níquel em 2005 nas suas três unidades: Niquelândia (GO), Fortaleza de Minas (MG) e São Miguel Paulista (SP). A empresa não revela novos projetos de expansão, mas confirma que está realizando novas pesquisas, para as quais reservou R$ 47 milhões em 2006, incluindo os estudos de zinco.
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O DNPM afirma que não é possível precisar se os pedidos de exploração feitos por novas empresas terão efeitos concretos. Mas há uma tendência à descentralização geográfica da pesquisa. Embora Goiás e Pará ainda concentrem os pedidos de autorização, com mais 80% dos requerimentos em 2005, Bahia, Tocantins e Mato Grosso do Sul já começam a entrar na lista. ?São reservas pouco exploradas, e que abrem oportunidades ?, diz Cristina da Silva, responsável pelo setor de economia mineral do Distrito do DNPM de Goiás. O faturamento do setor de níquel no Brasil foi de US$ 509 milhões em 2005, 1,7% maior que em 2004.