Brasil já enriquece urânio para usina de Angra
26/01/09
O Brasil já enriquece urânio em território nacional, uma tecnologia que poucos países dominam. A planta das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em Resende, no sul fluminense, passou ontem pelas últimas inspeções de observadores brasileiros e também da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para iniciar a operação em regime industrial.Segundo o diretor de enriquecimento da INB, Mario Botelho, a consolidação da produção poderá resultar em economia de cerca de US$ 100 milhões anuais para o Brasil, que importa os serviços de enriquecimento para abastecer Angra 1 e 2. O gasto, porém, não será eliminado antes de 2014, quando a INB deve alcançar a capacidade de atender à demanda de todo o parque nuclear, incluindo a futura usina Angra 3 e as outras seis em planejamento até 2030.A planta da INB começou a operar após a autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no final do ano passado, formalizada no último dia 5. Tem duas cascatas de ultracentrífugas, produzidas pela Marinha, que serão responsáveis por uma parcela muito pequena da demanda atual das duas usinas brasileiras em operação no litoral fluminense. Por isso, a produção inicial vai compor um estoque estratégico em vez de alimentar os reatores de Angra 1 e 2, que continuarão a utilizar o material beneficiado no exterior.A conta da importação só deverá começar a cair perto de 2012, quando a INB deverá contar com dez cascatas de centrífugas para atender a 100% da demanda de Angra 1 e 20% de Angra 2. ?Nosso planejamento estratégico é de que, a partir de 2014, sejamos autossuficientes no enriquecimento de urânio?, promete o diretor de Enriquecimento da INB, Mario Botelho. CONSUMOAs duas usinas consomem o equivalente a 400 toneladas anuais de urânio concentrado. O material, obtido na etapa de mineração, precisa ser convertido para estado gasoso antes de ser enriquecido a cerca de 4% e entrar na cadeia de produção das pastilhas que compõem o elemento combustível que abastece o reator das usinas.Até hoje, o Brasil só realizava a primeira e a última etapas, enviando o urânio para conversão e enriquecimento no exterior. A planta da INB iniciou agora o enriquecimento, mas a conversão ainda será feita no Canadá. Embora o Brasil também domine essa tecnologia, ainda não há instalação industrial para essa fase. A tendência é de que uma unidade de conversão também seja construída em Resende.?Isso é o que está sendo discutido agora. A planta de conversão estando próxima do enriquecimento diminui os problemas do transporte de urânio, que é cercado de muitos cuidados?, diz Botelho. Além do fator econômico, a capacidade de alimentar as suas usinas nucleares é questão estratégica mundial. ?É o momento em que vamos começar a andar com as próprias pernas, após muitas expectativas. O mundo está de olho no Brasil?, comemora Botelho, oficial da Marinha, origem do desenvolvimento da tecnologia.
O Estado de S.Paulo