Brasil investe quase R$1 bi para produzir todo o urânio de Angra 3
19/01/11
Marinha fabricará máquinas para que enriquecimento seja feito em Resende
ANGRA 2 e Angra 1 usam urânio enriquecido por consórcio europeu. Angra 3, em obras, não precisará importar a partir de 2016
O Brasil vai aumentar sua capacidade de enriquecer urânio para usinas nucleares. A Marinha inicia, este ano, a construção de uma fábrica para ampliar a produção dos conjuntos de máquinas (cascatas) de enriquecimento do minério. A nova unidade ficará em Aramar (SP) e receberá um investimento de US$120 milhões, ou cerca de R$200 milhões. A informação foi dada ontem pelo diretor de Produção do Combustível da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) ? estatal responsável pelo ciclo do combustível ?, Samuel Fayad Filho.
A Marinha também está construindo uma usina-piloto para nacionalizar outra etapa do ciclo do combustível nuclear que ainda é feita no exterior: a conversão do urânio, da forma de uma pasta amarela (yellow cake) em gás, o UF6. Segundo Fayad, após o piloto, a INB começará a construir, em 2012, a fábrica em Resende, um investimento estimado em R$700 milhões.
Os dois projetos, que somam R$900 milhões, permitirão que a INB tenha condições, a partir de 2016, de enriquecer e fazer a conversão no Brasil de todo o urânio para a segunda recarga da usina Angra 3. Hoje, para Angra 1 e 2, essas etapas são feitas no exterior. A economia para o país com a realização dos processos internamente será de US$30 milhões por ano, a partir de 2016.
Os novos equipamentos fabricados pela Marinha em Aramar serão instalados em Resende. A Marinha, que desenvolveu a tecnologia de enriquecimento de urânio por ultracentrifugação nos anos 80, já instalou na unidade da INB os primeiros módulos do processo de enriquecimento, em pequena escala industrial, insuficiente para atender uma central nuclear.
? No futuro o Brasil poderá até estudar a possibilidade de exportar serviços de enriquecimento ? afirmou Fayad.
Grupo que financiará usina é liderado por Société Générale
Em paralelo, o projeto de financiamento da usina nuclear Angra 3, que está em fase inicial de obras, avança. A Eletrobras escolheu ontem o consórcio de bancos internacionais que financiará parte da construção.
O grupo, que dará crédito para a compra de serviços e componentes no mercado internacional, é formado por cinco bancos franceses, liderados pelo Société Générale. Segundo o gerente de Planejamento e Orçamento da Eletronuclear (subsidiária da Eletrobras), Roberto Cardoso Travassos, o financiamento, no valor de 1,5 bilhão, está sendo avaliado para aprovação pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda.
O parecer dos ministérios deverá ser dado nos próximos dois meses, sendo então enviado ao Congresso para a aprovação do Senado, informou Travassos, que participou ontem do 2º Seminário Nacional de Energia Nuclear, no Rio. Ele disse esperar que essa aprovação ocorra ainda este ano.
O custo de Angra 3 será de R$10,4 bilhões. O BNDES já aprovou financiamento de R$6,1 bilhões para encomendas feitas no mercado nacional, e R$890 milhões de empréstimos da Eletrobras. A usina deve entrar em operação em 2015, com capacidade de 1.405 megawatts (MW).
Novas usinas devem ser construídas no Nordeste
Até o fim do primeiro semestre deste ano, a Eletronuclear vai encaminhar ao governo federal os estudos técnicos sobre os locais com melhores condições para a instalação das próximas usinas nucleares que serão construídas no país. A informação foi dada ontem pelo presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, ao explicar que deverão ser apresentadas sugestões de cerca de 40 locais com condições técnicas e econômicas para implantação das usinas nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
Segundo Pinheiro, o local mais provável para o primeiro grupo de centrais nucleares deverá ser a Região Nordeste.
? Vamos apresentar um cardápio de possibilidades dos melhores sítios, dos mais adequados. Quem vai escolher é o governo federal, mas muito provavelmente será o Nordeste, que vem apresentando um forte crescimento econômico ? disse.
A escolha do primeiro local pelo governo federal terá de ser aprovada pelo Congresso. A ideia do governo é construir inicialmente duas usinas nucleares em cada local, com 1.000 MW de potência cada. Mas as regiões terão capacidade para ter até três. De acordo com o executivo, o custo estimado por usina é de US$3 bilhões.
O Globo