Brasil deve preparar-se para exportar
23/06/08
Há hoje no mundo um mercado muito ativo de exploração de urânio e com a grande demanda que virá nos próximos anos, o Brasil deverá considerar a possibilidade de exportar parte de sua produção. Esse foi um dos principais temas de discussão no Simpósio Anual da Seção Latino-Americana da American Nuclear Society (LAS-ANS), que reuniu na semana passada especialistas autoridades internacionais do setor no Rio de Janeiro. Um dos organizadores do evento, Jorge Spitalnik, diretor da LAS-ANS, disse, porém, essa abertura de mercado deve ser feita de forma cautelosa, levando-se sempre em conta que as centrais nucleares Angra 1 e Angra 2, em operação, e Angra 3, cujas obras serão retomadas no segundo semestre, além de uma quarta usina que será erguida no Nordeste, vão precisar de combustível. `Ao se falar sobre a abertura, não se defendeu a venda de todo o urânio`, explicou.` Há que se fazer um balanço do que será necessário e reservar estoques suficientes para as usinas que operarão e serão instaladas, com uma visão de futuro para as seis a oito décadas de vida útil das unidades,` acrescentou .Segundo as conclusões dos participantes no simpósio, se o mundo hoje está ávido por energia, esse quadro tenderá a ampliar-se nos próximos anos e o Brasil, por ter a quinta reserva de urânio do mundo, não poderá ignorar a existência desse mercado. `O cenário mudou muito nos últimos anos. O urânio agora é considerado quase como uma commodity e até mesmo o Canadá já abriu as suas minas para as subsidiárias de mineração da francesa Areva, assim como empresas internacionais com tradição em exploração de urânio estão entrando na Austrália`, lembrou. Por isso, ele alerta que essa oportunidade de participar desse mercado internacional deverá fazer parte da pauta das decisões em curto prazo a serem tomadas pelo Brasil. eficiência. Com os recursos provenientes desse `plus` que o Brasil exportaria, os participantes do evento ressaltaram que as empresas nacionais do sistema poderão melhorar as suas receitas e, conseqüentemente, a eficiência operacional. `Com isso, não dependeriam tanto do dinheiro do Estado`, observou Spitalnik. Como a questão tem ser decidida no Congresso, Spitalnik acha que é hora de haver um grande empenho de todos os setores no sentido de esclarecer os parlamentares em geral sobre a importância dessa abertura para o Brasil e as implicações e limitações que deverão ser contempladas. Ele reconhece as prioridades da exploração do potencial hidráulico brasileiro, mas aposta na opção nuclear como complementação. `Não tenho dúvidas de que a opção nuclear ressurge hoje de forma muito natural, ou seja, ela reaparece no atual horizonte de opções energéticas`, comentou. Spitalnik observou ainda que o debate desencadeou uma outra discussão importante sobre as indústrias do ciclo do combustível nuclear. Isso, disse ele, demonstra que o Brasil está muito avançado no que se refere ao enriquecimento do urânio por ultracentrifugas (máquinas que enriquecem urânio). `A tecnologia que o Brasil desenvolveu e de que dispõe hoje é um elemento de independência e de soberania. O Brasil é dono de seu ciclo de combustível completo. É necessário, porém, um investimento maior nas ultracentrífugas, o que terá que ser feito em algum momento`, disse. iperó. O Brasil enriquece urânio em escala piloto no Centro Experimental Aramar, em Iperó, São Paulo, e em sua fábrica de combustível, no município de Resende. É lá que, na opinião de Spitalnik, o governo terá que aumentar o número de ultracentrífugas. `Trata-se um patrimônio que o Brasil conquistou e que não se pode desprezar. Há que se fazer algum esforço para que tudo isso funcione da melhor forma possível, com a ampliação do número dessas máquinas`.Na opinião do diretor da LAS/ANS, o fato de todos esses temas terem sido abertamente discutidos no Simpósio Anual representou um avanço muito grande. O evento reuniu especialistas dos Estados Unidos, da França, Espanha, Argentina, México, Chile, entre outros. Em 2009, o Simpósio será realizado em Buenos Aires. Os temas principais de discussão já foram selecionados: a integração regional e as salvaguardas, tomando por base o acordo nuclear assinado pelo Brasil e a Argentina em fevereiro deste ano.
Jornal do Commércio Brasil – RJ