Brasil – Decisão para Alcoa pode estar no Pará
30/07/08
Como foi mera coincidência, ninguém se referiu a ela: no mesmo dia 4 de julho em que os Estados Unidos comemoravam mais um aniversário da sua independência, uma das mais representativas empresas americanas doava 405 mil reais a três entidades que atuam em Belém na inclusão social de crianças, adolescentes e jovens. A entrega dos cheques, em solenidade simples no hotel Hilton (de bandeira americana), era o primeiro ato da ampliação da presença em Belém da Alcoa, a maior produtora mundial de alumínio, em atividade no mercado há 130 anos, que faturou 15 bilhões de dólares no primeiro semestre deste ano, com lucro líquido de mais de US$ 850 milhões. O segundo momento será até o final do mês, quando a empresa pretende inaugurar a Casa Alcoa na capital paraense.
O presidente da multinacional para América Latina e Caribe, Franklin Feder, admite que sua empresa demorou, no Pará, mais do que em Minas Gerais e no Maranhão, os Estados brasileiros anteriores nos quais se implantou, para marcar presença na respectiva capital. Na década de 90 a Alcoa fincou uma de suas pernas em Oriximiná, quando se tornou sócia da Mineração Rio do Norte na exploração da jazida de bauxita do Trombetas. Desde 2005 vem implantando um projeto de mineração todo seu do outro lado do rio Amazonas, em Juruti.Talvez por causa da resistência local que enfrentou, a Alcoa descurou a importância de Belém como centro de ressonância e de formação de opinião em todo Estado. Agora com o apoio de 89% da população de Juruti, segundo resultado de pesquisa do Ibope que anunciou, a Alcoa parece considerar que essa frente está em vias de se resolver. Ao marcar presença maior em Belém a partir deste mês, quer convencer a sociedade que veio para ficar no Pará. Não será apenas uma multinacional predadora, que extrai recursos naturais sem compromisso com a história do Estado.Mesmo que se ponha em dúvida a sinceridade de propósitos da empresa, há um dado inquestionável que contextualiza a sua estratégia: o Pará se tornou mais importante para a economia internacional, sobretudo para o setor de alumínio – e especificamente para a Alcoa. A empresa vem sendo alvo de ofertas hostis de compra feitas pela Companhia Vale do Rio Doce, sua sócia na MRN, e por outras empresas mundiais. A hostilidade se caracteriza pelo método de aquisição adotado, com oferta de compra apresentada aos acionistas através da bolsa. Feder disse que a direção da Alcoa espera que a empresa continue em atividade por pelo menos mais 130 anos, mas ela precisará de argumentos sólidos para manter o controle da empresa se os pretendentes à compra fizerem propostas de maior apelo comercial aos detentores dos papéis da companhia. O Pará é o melhor local para ela fortalecer sua espinha dorsal, que é a integração produtiva, desde a mina até a fundição do metal. Em poucos lugares do mundo a multinacional tem condições para manter essa integração produtiva em patamares elevados de produção.Por isso, certamente a Alcoa não pretende manter a mina de Juruti em 2,6 milhões de toneladas anuais. É uma escala de produção modesta, ainda mais para quem está investindo pesado em infraestrutura, com mina, ferrovia e porto. Na entrega dos cheques, Feder disse que a Alcoa continua pensando em chegar até a metalurgia de alumínio, mas que para isso precisa de uma definição do governo, sobretudo para garantir o fornecimento de energia elétrica na escala necessária para uma indústria de alumínio, a mais eletrointensiva de todas.
De fato, sem uma definição do governo, a expansão do planejamento da Alcoa é temerária, por vários motivos, inclusive os ecológicos e de responsabilidade social. Um projeto modelar no Pará, entretanto, pode afastar o risco de que a Alcoa venha a ser absorvida por qualquer das suas concorrentes vorazes, como a BHP Billiton, a Rio Tinto e a Vale. É um momento propício para que o governo, em troca de compromisso com o suprimento de energia, consiga quebrar a barreira estabelecida pela Albrás na escala de transformação do metal primário. Uma nova planta industrial limitada ao lingote pode ser interessante para a Alcoa, mas não tem o mesmo interesse para o Pará, que já experimenta os benefícios e as fortes limitações de um empreendimento como o da Albrás há quase um quarto de século. É preciso ir além desse limite, chegando aos transformados de alumínio.
Se a Alcoa quer ser parceira nessa travessia, ótimo (desde que, naturalmente, o possível novo aproveitamento hidrelétrico se ajuste a um modelo diferente dos atuais). Caso contrário, melhor que seja essa mina de médio porte que no próximo ano começará a funcionar em Juruti. Começando sob o nome de sua atual bandeira e, quem sabe, logo passando para outra.
Adital