BHP avalia ativos estratégicos da Rio Tinto
11/12/08
Apesar da retirada da oferta de compra da Rio Tinto em razão da crise financeira, a mineradora anglo-australiana BHP Billiton disse continuar atraída por alguns ativos da rival.
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“Temos muito interesse nos 30% de participação que eles têm na mina de Escondida”, disse ontem ao Valor o diretor financeiro mundial da BHP, o executivo brasileiro Alex Vanselow, referindo-se à mina de cobre no Chile.
Como parte do plano para redução de dívida, após a compra da Alcan, a Rio Tinto anunciou ontem um forte ajuste de contas: corte de 14 mil funcionários, redução de despesas e investimentos e venda de ativos “significativos”.
A BHP, que possui 57,5% de participação nesta mina, uma das mais competitivas do mundo, desistiu de adquirir a Rio Tinto, numa operação de troca de ações, avaliada em quase US$ 70 bilhões, diante da situação de escassez de crédito, queda nos preços das commodities e risco de ter sua dívida elevada.
Sem a aquisição da rival, a mineradora optou por analisar ativos selecionados. “A gente continua investindo e olhando as oportunidades de quais as empresas que estão em dificuldades de caixa ou dívidas difíceis de serem renegociadas e que precisam vender ativos”, disse Vanselow. “Nossa situação é de uma empresa com pouca dívida, bastante caixa e fluxo de recursos bem forte.”
Em 30 de junho, último ano fiscal, a BHP – maior mineradora diversificada do mundo – tinha US$ 4 bilhões em caixa frente à dívida de US$ 12 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões foram amortizados depois desta data. Nos 12 meses até junho, a geração de caixa da mineradora somou US$ 28 bilhões.
Ele disse que os ativos de interesse precisam ser alinhados à estratégia de baixo custo e retorno de investimento da BHP. “A maioria das nossas operações está na parte baixa da curva de custos, mesmo em situação de preços até mais baixa do que os atuais.” Como exemplo, citou as operações de exploração de petróleo: “O custo caixa de óleo é de US$ 5 por barril.”
Mas Vanselow vê poucas empresas em condições de comprar os ativos da Rio Tinto. “Não será muito fácil eles venderem ativos porque as únicas empresas de mineração com caixa e sem grande dívidas são a Vale do Rio Doce e a BHP”, disse, contrastando com a situação vivida hoje pelas mineradoras Anglo American e Xstrata, mais endividadas.
O executivo financeiro, que está há duas décadas na BHP Billiton, praticamente descartou o interesse pelos ativos da Rio Tinto no Brasil – uma mina de ferro em Corumbá (MS) e a participação de 10% na produtora de alumínio Alumar. “Corumbá não é uma Carajás. É difícil dizer sim ou não, mas nosso interesse não é alto.”
Vanselow, que havia cruzado de trem o Canal da Mancha, desembarcando em Londres, depois de reuniões com banqueiros em Paris, quando concedeu entrevista ao Valor, por telefone, afirmou que “o tempo é de incertezas.”
“Ninguém pode dizer exatamente o que vai acontecer nos próximos seis ou 12 meses”, disse Vanselow. Ele disse que os primeiros meses de 2009 serão muito difíceis. “O mercado de crédito continua afetando a indústria.”
Para o executivo, os governos conseguiram dar suporte de liquidez aos bancos de cada país, mas a situação de empréstimo entre os bancos é ilíquida. “Eles estão com o capital muito apertado. A parte contábil de avaliação dos investimentos a valor realizável põe muita pressão sobre os bancos”, disse.
Após um périplo com banqueiros nos EUA e Europa, ninguém soube dar uma resposta adequada ao executivo financeiro da BHP Billiton sobre quando o cenário de recuperação começará. “Amanhã [hoje], tenho reunião com os bancos japoneses. Espero uma posição, mas não estou muito animado sobre uma resposta”, disse.
Para projetar seu balanço, a mineradora decidiu utilizar um modelo diferente do passado recente. “Tem curva no formato “V” em que a recuperação é rápida e íngreme. Tem curva em “U” em que é possível detectar os pontos de recuperação. No entanto, o “L” que estamos testando exige mais prudência porque não existe nenhum sinal que indique a recuperação da situação financeira.”
Valor Econômico