Barro Alto 2: Valor dos imóveis triplica
09/01/07
Chegada da Anglo American a Barro Alto aquece o mercado imobiliário e eleva preço do metro quadrado no município goiano. Casas passaram a valer tanto quanto apartamentos de médio porte de Goiânia
LUCIANO PIRES
ENVIADO ESPECIAL
Barro Alto (GO) ? Casas antigas e modestas sendo negociadas a preços exorbitantes. Propostas de compra e venda anunciadas em praça pública quase que diariamente. O preço do metro quadrado em Barro Alto está nas alturas desde que a Anglo American confirmou o investimento bilionário na construção da metalúrgica. A valorização dos imóveis supera os 200% nas áreas centrais.
A cidade é vítima de uma especulação imobiliária nunca vista antes. O mercado aquecido é o terreno preferido dos corretores e médios investidores que fizeram pequenas fortunas em outros municípios. Prova disso é que uma casa de três quartos, dois banheiros e quintal amplo ? que até 2005 poderia ser facilmente comprada por R$ 30 mil ? foi arrematada por R$ 100 mil. A supervalorização equiparou os imóveis de Barro Alto a apartamentos médios, e bem localizados, anunciados em Goiânia.
No entanto, nada justifica esse movimento. A cidade simplesmente inflou antes da hora suas expectativas em relação à chegada dos novos moradores. O fluxo de pessoas interessadas em fixar residência, por enquanto, é reduzido. Por outro lado, há poucos imóveis para alugar. E é com essa escassez que os especuladores jogam. ?Se não baixar, o jeito é ir embora de novo?, lamenta uma jovem que vive em Goianésia (distante 50 km).
A prefeitura atua para neutralizar a especulação. Novos bairros estão sendo criados e casas populares levantadas em regime de mutirão. O déficit habitacional é de 300 moradias. A falta de um teto atinge principalmente os mais pobres, mas a ganância dos especuladores prejudica a escolha de bons terrenos.
Além disso, as moradias populares não estão sendo erguidas na mesma velocidade da especulação. Uma das conseqüências do descompasso é a manutenção do déficit habitacional em nível elevados.
Terras
O que está ocorrendo na área urbana é reflexo da bolha imobiliária na zona rural. Fazendeiros antigos que mantinham terras sobre a mina receberam propostas da Anglo American para desocupá-las. As indenizações acima da tabela de mercado animaram alguns a exigir mais da companhia, causando o surto especulativo.
Como há poucas fazendas a serem desocupadas ? a Anglo adquiriu a maioria dos terrenos que precisava há cinco ou seis anos ?, os antigos donos lançaram seu patrimônio em uma espécie de leilão e estão negociando
permutas. Alguns ganharam muito dinheiro e, na cidade, passaram a ser chamados de ?novos ricos?. ?Teve gente que dormiu pobre e acordou rico?, conta um antigo morador.
Símbolo da valorização rural, uma fazenda com 16 alqueires (o alqueire corresponde a 4,84 hectares) não contínuos foi trocada há alguns meses por outra área, bem maior e mais fértil. O ex-dono ainda embolsou R$ 100 mil, resultado de uma permuta extremamente vantajosa. Outro agricultor disputa com a companhia, mas não deverá obter sucesso. A fazenda dele está sobre a mina e tem o alqueire avaliado em R$ 60 mil. O fazendeiro jogou a cotação para inacreditáveis R$ 550 mil.
Niquelândia antecipa corrida
Niquelândia (GO) ? Na estrada, o letreiro instalado no trevo de acesso informa ao visitante que ele acaba de chegar à ?capital nacional do níquel?. A 110 km de Barro Alto, Niquelândia exibe a prosperidade conquistada à base do minério. Ruas largas e asfaltadas, trânsito intenso no centro, prédios, comércio variado, faculdades, hospitais e escolas não deixam dúvida: o progresso chegou para ficar.
Rica em níquel, a cidade viu sua população crescer em poucos anos. A oferta de empregos explodiu (ainda é abundante), conquistando os corações de jovens goianos, paulistas e mineiros. Niquelândia virou pólo regional.
O município viveu antes o que provavelmente acontecerá com Barro Alto, assim que a metalúrgica começar a operar. Duas metalúrgicas, uma da Votorantim e outra da Anglo American (a Codemin), exploram o minério e ajudam a empurrar os demais elos da economia da cidade. Niquelândia é forte no turismo, no comércio e na agropecuária. ?A cidade era só atoleiro antes das indústrias. Evoluiu muito?, afirma o lavrador Rosário Santos.
A Codemin, por exemplo, está na cidade há 25 anos. No início, beneficiava o material retirado da serra próxima ao lago Serra da Mesa. Atualmente, industrializa o minério extraído de Barro Alto ? transportado por caminhões todos os dias. Os projetos são de expansão, mesmo depois que a planta de Barro Alto for concluída. Já a Votorantim investirá em 2007 R$ 738 milhões em Goiás.
Com uma população de 51 mil habitantes, Niquelândia lida com o dilema clássico da província que ganhou músculos da noite para o dia. Não há roubos ou ocorrências violentas, mas os profissionais mais experientes reclamam de exclusão do mercado de trabalho. ?O desemprego está grande. Quem não tem estudo, não trabalha?, reforça Rosário Santos.
É comum ouvir dos moradores relatos de que os filhos que foram para Goiânia ou Brasília estudar ou trabalhar decidiram voltar. Há poucas semanas, a Codemin abriu uma seleção para o preenchimento de cinco vagas. Os salários de R$ 700, plano de saúde e incentivos para concluir o curso superior atraíram nada menos do que 600 pessoas. A maioria jovens na faixa dos 20 anos. (LP)
AS DUAS CIDADES:
BARRO ALTO
Localização: Norte de Goiás, a 210 Km do Distrito Federal
Número de habitantes: 7 mil
PIB: R$ 8 milhões
Déficit de moradias: 300
Escolas: 6
Hospitais: 1
Principais atividades econômicas: Agropecuária e cana-de-açúcar
Idade: 50 anos
Frota de veículos: 2 mil
Temperatura média: 40º
NIQUELÂNDIA
Localização: Norte de Goiás, a 250 Km do Distrito Federal
Número de habitantes: 51 mil
Renda per capita: R$ 1.180
Principais atividades econômicas: Agropecuária, turismo e minério
Idade: 272 anos
Arrecadação mensal de impostos: R$ 4 milhões
Número de empregos diretos
gerados pelas mineradoras: 3,5 mil
Correio Braziliense