Aumenta pressão sobre o minério de ferro
04/11/08
As grandes mineradoras, numa súbita reviravolta, estão se preparando discretamente para cortes significativos nas próximas negociações de preço com as siderúrgicas mundiais, devido ao enfraquecimento da demanda do setor automotivo, de construção civil, infra-estrutura e eletrodomésticos.
Embora os contratos só devam ser assinados ano que vem, há indícios de que as siderúrgicas vão barganhar por um corte de 20% a 40% em relação ao preço fechado este ano com a BHP Billiton, a Rio Tinto e a Companhia Vale do Rio Doce, que juntas têm 75% do minério de ferro do mundo. Isso representaria uma virada dramática em comparação a este ano, em que as mineradoras conquistaram reajuste de 85% e os preços à vista mais do que triplicaram, para US$ 200 a tonelada.
Numa tentativa de evitar que os preços desabem, as mineradoras estão cortando rapidamente a produção. No fim de semana, a Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, começou a cortar 30 milhões de toneladas anuais, o que resultará em demissões e fechamento de minas. Diante da incerteza sobre quanto durará o esfriamento, a Vale não quis informar quando ou se pretende reiniciar a extração nessas minas.
“Acreditamos que esta decisão, neste momento, contribuirá para minimizar riscos de maiores danos no futuro, sobretudo no que diz respeito aos nossos empregados e às comunidades onde possuímos operações”, informou a Vale em comunicado.
Por enquanto, a BHP e a Rio Tinto já informaram que pretendem continuar com a produção atual, mas não está claro se continuarão resistindo caso as vendas e os preços das siderúrgicas continuem caindo.
“Não temos planos de cortar”, disse Alberto Calderon, diretor comercial da BHP. “Até o momento estamos entregando todos os nossos contratos.”
O diretor-presidente da Rio Tinto, Tom Albanese, disse mês passado que a empresa estava reavaliando as despesas de capital diante da desaceleração econômica mundial. A produção de ferro, entre outras coisas, pode ser reajustada.
O enfraquecimento da demanda por ferro pode colaborar com a oferta da BHP para comprar a Rio Tinto, que tem resistido. As autoridades da União Européia devem divulgar esta semana as condições para aprovarem a fusão, entre as quais a de que a BHP venda produção equivalente a cerca de 50 milhões de toneladas de ferro. As autoridades do mercado em todo o mundo estão preocupadas com um possível controle excessivo da BHP-Rio Tinto sobre a oferta mundial de minério de ferro e a insistência por preços mais altos. Diante do declínio na demanda e na cotação do ferro, não está claro se a BHP conseguirá se desfazer de tanta capacidade de produção.
O preço do ferro à vista ficou recentemente abaixo do preço dos contratos, revertendo uma tendência dos últimos anos. O ferro era vendido ontem a cerca de US$ 70 a tonelada no mercado à vista. Os preços de longo prazo estão na faixa dos US$ 80 a US$ 90 a tonelada. Um fator crucial nesse declínio é o enfraquecimento da demanda por aço, cujo preço do produto de referência, o laminado a quente, caiu cerca de um terço.
A associação de siderúrgicas da China informou que a produção será cortada em 20%. A ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo em produção, já começou a reduzir em 15% a produção de algumas de suas unidades. Amanhã, durante a divulgação de seus resultados, ela também deve anunciar novos cortes de produção diante do contínuo enfraquecimento mundial de setores como o automotivo e o de construção, entre outros.
Antes da crise de crédito, as siderúrgicas pressionavam por negociações antecipadas com as produtoras de minério de ferro, na esperança de fechar um preço menor e garantir o suprimento. Os contratos geralmente são assinados em abril. Agora os produtores querem esperar para o caso de a demanda se recuperar. Os analistas do setor, entretanto, não prevêem que os preços ou a demanda se recuperem antes de meados de 2009, o que fornece às siderúrgicas mais poder de negociação e melhores chances de obter preços menores.
“Nossa visão é que o preço do minério vai cair 20% no ano que vem”, disse Alex Hacking, analista do Citigroup Investment Research.
Valor Econômico