Atenção redobrada para os sinais que vêm do Oriente
12/06/07
Por FRANCISCO GÓES DO RIO DE JANEIRO
Em 2006, Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), somou quase mil horas em vôos ao redor do mundo. É um período equivalente a 41 dias gastos nas altitudes do globo terrestre. A compra da mineradora canadense Inco pela Vale, em 2006, por US$ 17,6 bilhões, deverá levar o executivo a bater, em 2007, o próprio recorde em poltronas de aviões. Serão mais viagens, mas Agnelli não se queixa. Sabe que é o preço a ser pago por dirigir uma empresa com operações em cinco continentes.
A diversificação geográfica e a variedade do portfólio de produtos fazem da Vale a segunda maior mineradora integrada do mundo, atrás da BHP Billiton, em termos de valores de mercado. No início de fevereiro de 2007, o valor da CVRD chegou a US$ 82 bilhões. A liderança em minério de ferro e níquel e o bom posicionamento em outros metais, como alumínio, cobre e manganês, permitem à; empresa, mesmo exposta ao mercado global, ver o crescimento de gigantes como China e Índia na mineração mais como solução do que ameaça, avalia Agnelli.
Eleito pela quinta vez consecutiva como melhor executivo na área de mineração, Agnelli faz uma leitura positiva da expansão de China e Índia na produção de minério de ferro, o principal produto da Vale. “A curto prazo é uma concorrência boa para evitar desabastecimento, porque o grande problema das mineradoras, hoje, é atender à; demanda”, diz Agnelli. O pior cenário seria o desabastecimento, que cria incertezas e restringe investimentos futuros em mineração.
Na visão de Agnelli, os novos players mundiais na mineração, incluindo China e Índia, serão no futuro um comparativo de custo para a indústria. “Eles estão criando um patamar de custo um pouco mais elevado”, compara. O aumento da produção de minério por Índia e China, inclusive em terceiros países, apóia-se em projetos cujos custos de implantação são mais altos do que foram no passado, porque exigem investimentos em portos e ferrovias.
Em contrapartida, as empresas com base instalada e ativos de boa qualidade saem na frente e levam vantagem em relação aos novos concorrentes, por terem recursos naturais de qualidade, vida longa e baixo custo. É o caso da Vale, que hoje desenvolve projetos na Austrália, na Argentina, no Canadá, Chile, Peru e Moçambique. Entre 40% e 45% de receitas e ativos da companhia estão no exterior.
A Vale faz pesquisa mineral em mais de 20 países e isso aumenta seu horizonte minede internacionalização, porque vários projetos serão viáveis nos próximos anos. O investimento em exploração mineral tem sido, em média, de US$ 400 milhões por ano. A boa posição é resultado do trabalho de redução de custos desenvolvido pela empresa após a privatização, em 1997. Também contribuiu o ciclo de alta nos preços do minério de ferro e de outros produtos. Nos últimos seis anos, a companhia liderou as negociações de preços no mercado internacional de minério de ferro.
O resultado de todo esse processo foi uma forte geração de caixa e crescimento de produção. Em 2006, a Vale adquiriu a Inco, o projeto de níquel Onça Puma, da Canico, e a mineradora Rio Verde (minério de ferro). Na área de não-ferrosos, comprou a participação da BHP Billiton na Valesul (alumínio). “Batemos recordes de resultados em 2006”, diz Agnelli.
Ele avalia que o Brasil tem vantagens comparativas e competitivas em relação aos demais países que compõem o BRIC. Reconhece que Índia e China apresentam vantagens na área de educação, na qual investem forte. E sugere que o governo brasileiro dê maior foco em saúde, educação, segurança e infra-estrutura para possibilitar o crescimento econômico e permitir que o setor privado acelere investimentos.
Nesses mercados, Setubal diz estar ainda “??adquirindo experiência”. Ter um banco local, segundo ele, é diferente de ter uma agência em Nova York. O objetivo da agência é atender clientes brasileiros. Já no Chile, Uruguai e Argentina, o banco atende, seguindo o mesmo princípio, os clientes desses países. “??É um caminho de aprendizado”, afirma Setubal. “??O maior desafio é levar ao exterior a competência que temos no mercado doméstico.”
ROGER AGNELLI
Idade: 47Formação: economia pela Faap, em São PauloPrimeiro trabalho: BradescoPrincipais cargos ocupados: diretor-executivo do Bradesco; diretor-presidente da Bradespar; e presidente da CVRDHoras médias de trabalho/dia: 14 a 15Hobbies: navegar de lancha em Angra dos ReisEm uma viagem à; Nova Caledônia, onde fui visitar as minas de níquel de Goro, cheguei cinco minutos antes do previsto. O helicóptero pousou em um campo de futebol. Desci, olhei para trás e vi uma igreja. Para surpresa geral, fui direto para a igreja, que estava fechada. Um grupo de pessoas correu para abrir a porta. Entrei, rezei e, quando saí, fui quase aplaudido, porque a comunidade era muito católica. Eu não sabia, foi algo espontâneo de que todo mundo gostou. O brasileiro tem essa característica de ser espontâneo, o que ajuda a descontrair o ambiente. Certa vez fui conversar com um presidente e tivemos grande empatia. Ao final do encontro, dei um tapinha nas costas do presidente, algo que não era comum na cultura local. O gesto provocou certa apreensão, mas, em seguida, o presidente sorriu e a platéia toda riu. Foi um ato com a marca da espontaneidade brasileira. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa e na África, o fato de ser brasileiro gera simpatia.”
Valor Econômico