Apetite das grandes estimula bancos a abrir os cofres
20/07/09
A liquidez está voltando para as empresas brasileiras. Seja na modalidade de crédito para capital de giro ou nas grandes operações estruturadas de investimentos, e até mesmo para a emissão de papéis no mercado interno, os bancos estão abrindo paulatinamente seus cofres.
As primeiras linhas a serem oferecidas pelas instituições se concentravam no curto prazo. Aos poucos, as operações voltadas ao comércio exterior também foram ganhando liquidez e, nos meses de abril a junho, negócios de maior porte já foram registrados no mercado.
“No Brasil, não tivemos problemas de liquidez. O que houve foi um empoçamento devido ao receio dos bancos em conceder empréstimos, porque não sabiam com clareza onde a crise iria parar”, afirma Henrique Vianna, diretor de médias e grandes empresas do banco HSBC Brasil.
Segundo ele, no segundo trimestre deste ano, tanto o apetite das empresas por financiamentros quanto a disposição das instituições em emprestar melhoraram. As operações do banco voltadas para o comércio exterior chegaram a aumentar 15% em dólares nesse primeiro semestre, diz o executivo.
De janeiro a junho, o HSBC emprestou R$ 11 bilhões para grandes empresas, o que representa um pouco mais de 10% sobre os contratos fechados de janeiro a junho de 2008, isso levando em consideração as companhias com faturamento acima de R$ 100 milhões anuais e as grandes corporações multinacionais.
“Com a crise global e a redução da liquidez externa, as grandes empresas que precisavam levantar fundos tiveram que contar com o mercado local para as suas necessidades financeiras”, afirma Therese Rabieh, presidente do banco WestLB do Brasil. De acordo com ela, a demanda das empresas foi, principalmente, para o financiamento de exportações, capital de giro e alguma coisa em financiamento de aquisições e para investimentos em concessões rodoviárias.
A Caixa Econômica Federal não viu retração no crédito neste ano. Luiz Carlos Formigari, superintendente nacional em exercício do banco estatal, diz que a demanda por crédito cresceu este ano. As linhas de capital de giro, por exemplo, registraram uma expansão de 101% sobre o mesmo período do ano passado. “O pico de empréstimos para empresas aconteceu em março, porque fizemos algumas operações de grande porte”, afirma Formigari. As maiores passaram de R$ 1 bilhão. “A Caixa está começando a ser percebida como um banco para médias e grandes empresas”, acredita o executivo.
Somando-se as linhas para capital de giro, crédito rotativo, antecipação de recebíveis e crédito para investimentos, a Caixa emprestou R$ 6 bilhões no semestre, calcula Formigari. Nessa última linha, explica, a retomada é tímida.
Para o diretor de operações estruturadas do banco Santander, Jean Pierre Dupui, o banco vem notando uma melhora muito grande no mercado de crédito para grandes empresas ao longo deste ano. “O nível de liquidez voltou com toda a força. Não digo aos níveis pré-crise, mas está indo bem”, avalia. Dupui conta que, durante o primeiro semestre, realizou uma captação no valor de R$ 1 bilhão para uma empresa concessionária por um prazo de 18 meses, numa operação de crédito sindicalizado. “O prazo nesse caso não era um problema. Fazia parte da operação. Hoje se fala em operações de três a quatro anos”, diz ele. Para o executivo do Santander, os negócios envolvendo empresas brasileiras, que estavam com o prazo concentrado em um ou dois anos, agora já estão sendo fechadas por períodos maiores. “Isso sinaliza um movimento do mercado para prazos mais longos.”
O banco Santander vem trabalhando numa operação internacional US$ 1,3 bilhão para uma companhia brasileira de grande porte financiar sua expansão. O empréstimo será por dez anos e chegará ao mercado em agosto. “Depois do que aconteceu em 2007 e 2008, com uma operação dessas fica claro que voltou a liquidez para o longo prazo. Vamos ver muitas operações, tanto em reais como em dólares, se for para empresas boas, de primeira linha”, afirma Dupui.
O WestLB também tem participado de operações estruturadas. Segundo Therese Rabieh, o banco foi um dos quatro líderes de um financiamento no valor de US$ 190 milhões para a mineradora de níquel e cobre Mirabella Mineração do Brasil, fechado no primeiro semestre. “Foi um dos primeiros project finance clássicos estruturados no Brasil fora dos tradicionais setores de infraestrutura e energia”, diz ela. O projeto, localizado na Bahia, tem uma investidora australiana, o que facilitou os trâmites da operação.
O custo dos empréstimos é um entrave para os grandes negócios. Vianna, do HSBC, no entanto, afirma que as taxas estão em queda. “No último trimestre de 2008, o custo estava muito elevado. Os spreads foram para as alturas. Já no primeiro trimestre deste ano houve uma queda, que se acentuou de forma bastante marcante no trimestre seguinte”, acrescenta o executivo. “Não chegamos ainda, no entanto, aos níveis anteriores à crise, quando o Brasil obteve a classificação de grau de investimento”, ressalva. “A questão hoje não é se o preço do crédito está alto ou baixo. O importante é que ele existe em abundância. Para operações estratégicas, o dinheiro está absolutamente disponível”, rebate Jean Pierre Dupui, do Santander.
O Santander, de acordo com o diretor, está discutindo mais de 30 operações de project finance, entre aquisições, programas de expansão e alongamento de dívida. “É um volume expressivo e mostra uma saúde muito boa por parte do mercado”, afirma. Segundo ele, neste segundo semestre o mercado estará muito melhor. “Quem quiser expandir ou comprar uma empresa, vai ter respaldo dos bancos, isso no conceito de liquidez.”
Enquanto, no início do ano, a disposição dos bancos em conceder empréstimos não melhorava, as companhias brasileiras encontraram liquidez na colocação de debêntures e notas promissórias. A disposição em comprar esses tipos de títulos vem aumentando, segundo Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbid (Associação Nacional de Bancos de Investimento). “Em janeiro, só se conseguia fazer operações por seis meses. Agora, está havendo uma retomada para prazos entre dois a três anos. Esperamos que ela se alongue para três a cinco anos”, conta Kiraly.
Segundo dados da Anbib, as operações de renda fixa e variável no mercado interno somaram R$ 31,4 bilhões no primeiro semestre deste ano. O volume é bom, mas representa ainda uma redução de quase 37% na comparação com os R$ 49,6 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Uma grande contribuição para o saldo dos primeiros seis meses de 2009 veio da oferta pública inicial de ações -uma operação de renda variável- da Visanet, que chegou a quase R$ 8,4 bilhões. As debêntures também foram destaque, com um total de quase R$ 9 bilhões no período.
Valor Econômico