A.LATINA-Conflitos podem estancar crescimento da mineração
22/12/06
Por Marco Aquino
CAJAMARCA, Peru (Reuters) – Os moradores da região próxima à maior jazida de ouro da América Latina saíram da sua pobre comunidade andina para denunciar a ambientalistas que a atividade mineradora contamina toda a área.
Perto dali, enquanto isso, os trabalhadores da mina dão toques finais a uma proposta de reajuste salarial para começar a negociar sob ameaça de greve.
Esse cenário de possíveis conflitos parece crescer junto das pujantes mineradoras da América Latina, que devem ter em 2007 ganhos recorde devido aos altos preços internacionais dos metais, segundo os analistas.
Os conflitos colocaram em xeque as mineradoras de Chile, Peru e México, beneficiadas pela crescente demanda de matéria-prima por gigantes como Estados Unidos e China.
O Chile é o maior produtor mundial de cobre, o Peru é o terceiro em cobre e zinco e o quinto em ouro, enquanto o México é um dos maiores produtores de cobre e prata.
Apesar de tudo, os analistas afirmam que a América Latina continua com a preferência dos investidores e prevêem que a região deve receber mais de 25 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, principalmente em projetos de cobre, ouro e zinco.
“A greve é nossa única arma para pressionar porque não sentimos o benefício dessa bonança”, disse Guillermo Nina, secretário-geral do sindicato de Yanacocha, a maior mina de ouro da América Latina, em Cajamarca, no norte do Peru.
Um conflito anterior em Cajamarca –onde há 500 anos um chefe inca ofereceu em vão aos conquistadores espanhóis um quarto de ouro pela liberdade deles– obrigou a Yanacocha a cancelar um promissor projeto que poderia elevar a produção.
Yanacocha é controlada pela segunda maior produtora de ouro no mundo, a Newmont Mining .
RECLAMAÇÕES E PREÇOS
Assim como em Yanacocha, os mineiros da estatal chilena Codelco, a maior produtora mundial de cobre, buscam também negociar com a empresa e esperam um novo contrato salarial. Se não forem atendidos, prometem uma greve no começo de 2007.
A chilena Escondida, a maior mina de cobre do mundo, sofreu em agosto com 25 dias de greve dos trabalhadores e no México, as minas Cananea e La Caridad, do Grupo México –o terceiro produtor mundial de cobre– tiveram uma longa paralisação, o que manteve alerta o mercado global do metal vermelho.
Na província argentina de Mendoza, ambientalistas estão convencendo os parlamentares para deter a exploração de mineração a céu aberto, que exige importantes quantidades de água e químicos para recuperar os metais.
O brilho das mineradoras quase sempre está em descompasso com o povo pobre perto das jazidas mais ricas, onde se sobrevive sem serviços básicos e sem ajuda do Estado.
Há três anos, todas as mineradoras da América Latina, a maioria estrangeiras, multiplicaram os ganhos, já que os preço do cobre subiram 320 por cento nesse período, do ouro, 40 por cento, e do zinco, 460 por cento.
“Os preços das commodities devem ter uma leve queda, mas nunca um colapso” no ano que vem, disse à Reuters o diretor executivo do Centro de Estudos do Cobre e da Mineração (Cesco) do Chile, Juan Carlos Guajardo.
Os analistas antecipam uma leve queda no preço do cobre para 2007, mas ainda em um nível médio alto. O ouro –um refúgio frente à volatilidade do dólar– deve superar o preço deste ano, que atingiu o pico em 25 anos.
“Quando os preços são altos, surgem esses problemas. Os trabalhadores e os que dependem da indústria querem a sua parte e por outro lado o governo assume também esse tipo de atitude”, disse Víctor Robles, analista do HSBC Securities em Nova York.
No últimos dois anos, os governos do Chile e do Peru aprovaram mais impostos sobre a venda ou sobre a produção da mineração, apesar do descontentamento inicial das empresas do setor.
O governo peruano conseguiu em agosto comprometer as mineradoras a dar um aporte extra de 774 milhões de dólares para financiar programas sociais nos próximos cinco anos.
INVESTIMENTO APESAR DE TUDO
Na Bolívia, o governo do esquerdista Evo Morales busca a “segunda nacionalização” dos recursos naturais, entre os quais os da mineração, após violentos protestos no país, que é um dos maiores produtores de estanho do mundo.
Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez revisa todos os contratos de mineração e quer elevar em 40 por cento a produção nas estatais Venalum e Alcasa, as principais produtoras de alumínio no país.
Robles afirmou que a situação é mais tranquila no México, Argentina e Brasil, onde não são previstas mudanças na política de mineração, apesar da possibilidade de aumentarem nos próximos anos os pedidos de licenças ambientais.
Mas o panorama da mineração é alentador para a América Latina.
O Chile espera investimentos mineradores de cerca de 13 bilhões de dólares entre 2006 e 2010. O Peru aguarda aproximadamente 8 bilhões de dólares nos próximos cinco anos e a Argentina, 6 bilhões até 2009, segundo números oficiais e privados.
O principal motivo dos investimentos é garantir a produção diante da voraz demanda de EUA, China, Japão e Índia, os principais clientes da mineração da região.
“Espero que a China siga liderando a expansão da demanda com o crescimento econômico de 9 por cento” em 2007, disse Fabio Barbosa, o diretor financeiro da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a maior produtora de ferro do mundo.
Para o analista da filial do Citigroup no México Rafael Urquía, os conflitos poderiam diminuir no ano que vem porque os principais acordos trabalhistas já foram firmados ou estão perto de serem concretizados, com vigência de até dois anos.
“A outra questão é que a Codelco aparentemente está arrumando os seus problemas sem chegar a greves”, disse Urquía.
Ele acrescentou que “uma maior oferta combinada (entre a percepção de menos greves) e a desaceleração dos Estados Unidos podem resultar em um moderado excedente”.
(Com colaboração de Frank Daniel, no México, Manuel Farías, no Chile, Fabian Cambero, na Venezuela, Peter Blackburn e Julio Villaverde, no Brasil, e Teresa Céspedes em Lima)
Reuters