A conveniência de Angra 3
22/04/08
Depois de 22 anos de paralisação e muita polêmica, as obras da usina nuclear Angra 3, no estado do Rio de Janeiro, vão recomeçar no segundo semestre deste ano. A notícia foi anunciada pelo presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, durante o seminário Diálogos Capitais. Assim que receber a licença prévia ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), prevista para maio, a estatal iniciará a concretagem da laje do edifício reator. A previsão é iniciar a operação da usina a partir de 2014.Com capacidade de geração de 1,3 mil MWh, Angra 3 teve os equipamentos adquiridos em meados da década de 70, durante a ditadura, em um acordo com a Alemanha. Iniciada em 1984, a construção da usina foi paralisada dois anos mais tarde. Mais de 13 mil toneladas de equipamentos importados estão armazenadas desde então. A consultoria suíça Colenco, contratada pelo governo federal para avaliar os gastos do empreendimento, estima que a obra custará 7,3 bilhões de reais. Nas últimas duas décadas, de acordo com a Eletronuclear, mais de 1,5 bilhão de reais foram investidos no projeto.Apesar de ser uma fonte de energia pouco poluente, que não emite gases de efeito estufa na atmosfera nem gera grandes impactos ambientais durante as obras, a energia nuclear é vista com bastante desconfiança por ambientalistas e organizações não-governamentais, a exemplo do Greenpeace. Embora a possibilidade de um acidente seja reduzida, consideradas as experiências internacionais na área, os danos de um desastre nuclear são incalculáveis e muitas vezes irremediáveis.Outro problema diz respeito ao fato de o Brasil ainda não ter encontrado uma solução satisfatória para os resíduos das suas usinas, o chamado lixo atômico. Hoje, o material de alto teor radioativo está adequadamente despejado na piscina dos reatores nucleares. Mas os resíduos de baixo e médio teor, como as ferramentas e luvas dos operários, continuam armazenados em depósitos provisórios dentro do complexo nuclear. Essa é uma das razões que levaram o Ministério Público Federal a exigir a revisão do estudo de impacto ambiental de Angra 3.Um dos principais argumentos a favor da energia nuclear é o alto rendimento energético. Uma central pode concentrar a potência de 1,5 mil megawatts em apenas 10 hectares. Para gerar a mesma energia numa hidrelétrica, seria necessário criar um reservatório de água de, no mínimo, 20 mil hectares. A quantidade de emissões de carbono poupada pelo sistema também é bastante expressiva. ?Entre 2000 e 2005, apenas as duas centrais nucleares em atividade no Brasil deixaram de emitir 47,4 mil toneladas de carbono equivalente. Isso corresponde a 40% do que o etanol poupou no mesmo período?, compara Pinheiro.Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), discorda da análise de Pinheiro. ?As usinas podem não ter contaminado o meio ambiente até agora, mas um acidente nuclear, embora muito remoto, seria uma catástrofe para a região, como já ocorreu em outros lugares do mundo.?Pinguelli também critica o alto custo de construção da usina ao se levar em conta a capacidade de geração. A Eletronuclear avalia a possibilidade de embutir o custo de manutenção de produtos já comprados para a usina, que demanda cerca de 20 milhões de reais por ano. Com esse acréscimo, a previsão de 138,20 reais por MWh pode aumentar. A título de comparação, o recente leilão da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, definiu o preço de 91 reais por MWh.Juntas, as três usinas de Angra poderão atender a 75% da demanda de energia do Rio de Janeiro. As duas em atividade são responsáveis por metade do que é oferecido no estado. Até 2030, o governo federal estuda instalar outras oito usinas nucleares no País.
Carta Capital