Brasil vai pesquisar ouro e diamante no mar
29/07/08
Em tempos de alta dos preços das commodities metálicas, projetos antes inviáveis tornam-se cada vez mais competitivos e a busca por novas reservas é mais agressiva. Por isso, a pesquisa da geologia marinha e os projetos para exploração de recursos minerais no mar, que há algum tempo poderiam ser considerados quimeras de Julio Verne, em seu “20 mil Léguas Submarinas”, hoje são assunto de grandes companhias e nações desenvolvidas e envolvem milhões de dólares.
Atualmente são estudadas, prospectadas e até exploradas formações geológicas que podem apresentar reservas significativas de metais como cobre, zinco, chumbo, ouro e prata. Além disso, em algumas regiões do planeta areias, cascalhos, carvão e diamantes já são produzidos a partir de depósitos no leito marinho. No Reino Unido, por exemplo, cerca de 25% da produção de areia e cascalho é feita no mar; no Japão, 30% do carvão é proveniente de jazimentos submarinos. Diamantes são retirados das praias da África do Sul e da Namíbia, consideradas as áreas marinhas mais ricas na pedra preciosa.
Milhas e milhas distantes
No Brasil, porém, o recurso mineral que há anos vem sendo estudado no território marítimo e hoje já conta com bom volume de produção é o petróleo. Pouco se conhece sobre o potencial geológico marinho do Brasil. E o País não possui sequer produção de areia e cascalho, que poderia ser utilizada para a recuperação de praias erodidas e principalmente para abastecer a indústria da construção, que sabidamente possui um déficit de alguns insumos, como areia e cascalho.
Mas, a situação está mudando, pelo menos no ponto de vista da pesquisa. Atualmente diversos estudos sobre a geologia marinha brasileira estão em andamento, projetos que já têm aprovados R$ 4,5 milhões em recursos e para os quais já foram solicitados, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões.
A tarefa está a cargo do Sistema Geológico do Brasil – também chamado de Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM), empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). A idéia, segundo revelou o diretor-presidente da CPRM, Agamenon Sérgio Lucas Dantas, é estudar o potencial de exploração especialmente de rochas polimetálicas (em que estão presentes depósitos de metais não ferrosos como cobalto, manganês e níquel), granulados marinhos e fosfolitos.
Não é exatamente a primeira vez que o Brasil tenta realizar esse estudo. Desde 2001 o MME tem planejado realizar a pesquisa do potencial mineral da plataforma continental e criou o “Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica do Brasil (Remplac)”, o que deveria levar cerca de 10 anos e estava orçado em aproximadamente R$ 900 milhões. No entanto, os custos exigidos contrastavam, e muito, com o orçamento disponível para o levantamento, de entre R$ 300 mil e R$ 400 mil por ano. “Era uma proposta muito ambiciosa, de um projeto completo, mas a um custo muito alto”, afirmou Reinaldo Brito, chefe do departamento de recursos minerais do CRPM.
Projetos
Por isso hoje o órgão governamental passou a focar os esforços em alguns projetos principais em regiões específicas. O mais desenvolvido deles é o Projeto Granmar, de avaliação do potencial mineral dos granulados marinhos (para uso no combate à erosão das praias e insumos para a construção civil, como areia, sílica industrial e carbonato de cálcio), na plataforma continental rasa do Ceará, no qual devem ser gastos R$ 8,5 milhões até 2010.
Além disso, existem outros três projetos em andamento: o Projeto Ouro Viseu Carutapera, para avaliação do potencial mineral de ouro e metais pesados associados na plataforma continental Pará-Maranhão; o Projeto Diamante do Jequitinhonha, de estudo dos depósitos de diamantes na foz do Rio Jequitinhonha; e o Projeto Fosforita de Santa Catarina, que visa pesquisar depósitos de fosforita das bacias de Pelotas e Santos.
Os recursos já obtidos, dentro do Projeto Piloto de Investimento (PPI) foi aplicado em capacitação e aquisição de equipamentos, o que possibilitou o início dos programas. O orçamento para 2008 é de R$ 1,78 milhão.
Embora seja uma iniciativa importante e necessária, para estar à medida do possível pari passu com o desenvolvimento internacional da pesquisa e exploração marinha, o Brasil ainda não possui sequer um mapeamento geológico mais detalhado de todo o território nacional emerso. “As pesquisas minerais marinhas também são importantes do ponto de vista geopolítico”, disse Brito. “Assim vamos nos credenciando também para ir para áreas marítimas internacionais.”
De fato, já existem equipes internacionais que em consórcio realizam pesquisas nas chamadas áreas internacionais dos oceanos, que estão além dos limites da soberania nacional. São trabalhos para a exploração dos nódulos polimetálicos e existem contratos com seis investidores pioneiros, como Japão e Alemanha. “Seria interessante se o País pudesse colocar um pesquisador e ser sócio em uma rodada de pesquisa, mas para isso seria necessário colaborar com cerca de US$ 6 milhões”, volume superior ao que o Brasil atualmente dispõe para toda a pesquisa da geologia marítima brasileira.
De qualquer forma, o País já solicitou algumas áreas internacionais situadas no Atlântico Sul, limítrofes à plataforma continental jurídica brasileira, onde há presença de sulfetos polimetálicos e crostas cobaltíferas.
No Pacífico, previsão de produzir cobre
O principal projeto hoje em andamento para a produção de metais em jazidas marinhas tem o nome do famoso submarino idealizado por Verne: Nautilus. Fruto de uma parceria da russa Epion Holdings, do grupo metalúrgico Metalloinvest, da canadense Teck Cominco e da Anglo American, a Nautilus Minerals Inc. está listada nas bolsas do Canadá e de Londres e possui hoje recursos de US$ 308 milhões para pesquisar o fundo oceânico de diversas áreas no Oceano Pacífico.
Entre os principais acionistas, a Epion possui 22,4% de participação, a canadense Teck Cominco detém 7,2% e a Anglo American participa com 5,7%. A Teck Cominco, além de acionista, é parceira da Nautilus no programa de exploração da empresa e deve investir US$ 12 milhões no programa da parceira.
A intenção da empresa é explorar depósitos de sulfetos polimetálicos onde se pode encontrar depósitos de cobre, zinco, ouro e prata.
De acordo com a própria Nautilus, a companhia é a primeira a explorar comercialmente ouro e cobre nos depósitos de sulfetos polimetálicos no solo oceânico e prevê iniciar a produção até o quarto trimestre de 2010. Atualmente a empresa detém 365 mil quilômetros quadrado de alvarás de pesquisa e requerimentos de exploração nas áreas territoriais de Papua Nova Guiné, Ilhas Fiji, Reino de Tonga (estado da Polinésia), as Ilhas Salomão e a Nova Zelândia, ao longo do oeste do Oceano Pacífico.
A área mais avançada é no Mar de Bismark, a oeste de Papua Nova Guiné. Ali, está em fase de exploração o projeto Solwara 1, para o qual pesquisas mineralógicas e metalúrgicas de 1,2 tonelada de minério retirado dali constataram a existência de cobre com boas concentrações, com porcentagens superiores a 28% do metal.
“Adicionalmente, indica um baixo custo de capital e operacional para o tratamento do minério de Solwara 1”, informou a Nautilus em relatório ao mercado em maio passado, quando confirmou que o projeto tem viabilidade comercial. “Os concentrados produzidos são ?limpos? com baixos níveis de elementos deletérios o que demonstra que nós temos um produto comercializável”, declarou na época o então presidente da empresa, David Heydon, no informe. Além disso, a empresa destaca que há potencial para a produção de ouro e prata.
A empresa já possui contratos para o fornecimento de equipamentos e sistemas para o projeto no valor de US$ 186 milhões.
O programa de exploração da Nautilus para este ano contempla pelo menos 165 dias de pesquisas no mar, e serão voltados para completar o estudo de viabilidade ambiental de Solwara 1 e também em pesquisas em áreas de propriedade da companhia em Tonga.
Gazeta Mercantil