Valorizada, montanha de sinter vira negócio atraente
02/01/07
De São Paulo02/01/2007
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Além de usar minério fino de ferro nos próprios negócios, como na aquisição de créditos da Ultralar, Sérgio Duarte vende o produto a terceiros, para uso como garantia em processos de execução fiscal. Vende com deságio em relação ao valor de mercado (acertado uma vez por ano entre mineradoras e siderúrgicas), o que é um excelente negócio para as empresas endividadas.
A negociação é caso a caso. De modo geral, o deságio é de 70%. O ativo para garantir uma dívida de até R$ 1 milhão, por exemplo, custa R$ 300 mil. Ou até menos. Duarte aceita parcelamento, parte do pagamento em veículo e até imóvel. Enfim, estuda propostas. “As empresas me procuram quebradas, sei que não têm dinheiro.”
Ele costuma explicar que suas pilhas de “sinter feed” são uma caderneta de poupança com data imprevisível para saque. Sem perspectiva de vender o produto no mercado, faz melhor negócio vendendo com deságio para as empresas endividadas.
A sua mineradora, Emicon, já negociou mais de 10 milhões de toneladas a empresas de diferentes portes, de indústrias a lojas de CD. Uma delas é a Fábrica Nacional de Perfumes (Fanape), dona da marca Água de Cheiro, que entrou em concordata no início de 2004.
A Escritura de Penhor Mercantil e Depósito em nome da Fanape diz que a Emicon lhe vendeu 109 mil toneladas de “sinter feed”. Duarte não revela detalhes da negociação com a indústria – que pagou valor bem inferior ao de mercado e de forma facilitada – mas conta, com orgulho, que foi seu “pó de minério” que ajudou a famosa marca de perfumes a sair da concordata.
Desde 2000, quando fez as primeiras negociações usando finos de minério, Duarte viu esse modelo se tornar cada vez mais lucrativo. Na época, o “sinter feed” estava avaliado em US$ 5 a tonelada. Nos últimos anos, porém, a demanda super aquecida por minério de ferro só fez o preço subir. Hoje, vale em torno de US$ 55. O que significa que, atualmente, compraria os créditos podres da Ultralar com volume onze vezes menor.
Duarte fica ainda mais animado quando pensa na cotação do minério granulado, que está na faixa dos US$ 90 a tonelada. Há poucos dias, mandou tirar no site da Emicon o anúncio que informava “mineradora à venda”. Diz que, agora, não lhe interessa venda nem sociedade. Com a perspectiva de embolsar uma fortuna na rede de eletroeletrônicos do Rio, planeja pôr sua empresa de novo em operação, para vender granulado e aumentar sua poupança em “sinter feed”.
Com a recente aquisição da mineradora Serra Azul, que tem equipamentos para concentração de minério, Duarte já começou a trabalhar em outra frente. Está propondo a alguns credores da Ultralar que, em vez de fechar acordos com desconto em dinheiro, assinem um contrato para processamento dos seus lotes de “sinter feed”, que hoje valem mais do que a dívida garantida em 2000. De fato, sua empresa é quem vai beneficiar o minério e ganhar com a prestação desse serviço e com venda do produto. Segundo ele, um dos credores já aceitou acordo nestas bases – a fabricante de toalhas Teka.
Valor Econômico