17/02/08

As articulações da Vale, a segunda do mundo, para comprar a Xstrata, a sexta no ranking mundial, se concretizadas, transformariam a empresa global, com sede no Brasil, na maior mineradora do planeta. E é exatamente isso que a Vale busca, além da oportunidade de ampliar o leque de diversificação de seus negócios.Hoje a Vale é a maior produtora mundial de minério e a anglo-suíça Xstrata, a maior produtora de carvão. O negócio, que poderia chegar a US$ 90 bilhões, seria o maior na história do Brasil. O valor de mercado da gigante Vale é de US$ 125 bilhões e com a compra concretizada, saltaria para US$ 202 bilhões.Além de ultrapassar a maior mineradora do mundo, a BHP Billiton, que tem valor de mercado de US$ 169 bilhões, com a compra da Xstrata, a Vale teria outras conquistas importantes para sua posição de maior mineradora global.Poderia ser a maior produtora mundial, além do minério de ferro, de carvão e níquel e ainda grande produtora de cobre. Em 2007, o valor de mercado da Xstrata, empresa que explora cobre, níquel e carvão, era de US$ 71 bilhões.As informações de mercado dão conta que a proposta da Vale seria o pagamento de US$ 50 bilhões em dinheiro, e o restante em ações preferenciais. A forma de pagamento teria sido aceita pela Xstrata e pela Glencore, uma negociadora de commodities, que controla 35% da mineradora.Outro ponto que favorece a Vale, se a negociação for concretizada, é que a mineradora seria aquela com maior diversificação no setor mineral, do ponto de vista geográfico e também em relação às variedades de minérios que passaria a gerenciar. A diversificação de mercados e de minerais é uma das metas perseguidas pela Vale, há anos.InserçãoNa avaliação do presidente do Centro de Estudos Avançados em Mineração (Camin) e consultor José Mendo Misael de Souza, a estratégia da Vale é vencer desafios para conquistar mercados e ampliar sua inserção mundial, meta que vem sendo perseguida desde a sua privatização. A concretização do negócio, destaca, é de grande importância para a Vale.Seria a consolidação de uma empresa brasileira como grande grupo global. Isso, avalia, seria importante não só para a Vale, mas também para o Brasil. E para os brasileiros que teriam a excepcional oportunidade de trabalhar em uma grande empresa.Mendo, um profissional com longa experiência no mercado de mineração, é cauteloso quando analisa as possibilidades de concretização do negócio. Avalia, entretanto, que a mineradora está no caminho certo ao buscar alternativas para tornar-se a maior do mundo.”A diretoria da Vale, desde a sua privatização, tem mostrado uma grande competência estratégica. Vem negociando bem o produto e implantando os planos de expansão e ganhando credibilidade no mundo”, ressalta. “A compra da Xstrata pela Vale seria muito bom para o Brasil e teria reflexos muito positivos para o Espírito Santo, que se destaca na mineração e na siderurgia” José Mendo Misael de Souza. presidente do Centro de Estudos Avançados em MineraçãoGigantes
Pioneirismo. A Vale é uma mineradora pioneira que trabalha transformando recursos minerais em ingredientes essenciais para o dia-a-dia das pessoas.
Global. É uma empresa global sediada no Brasil, com mais de 100 mil empregados, entre próprios e terceirizados. É a segunda mineradora do mundo
Diversidade. A Vale produz e comercializa minério de ferro, pelotas, níquel, concentrado de cobre, carvão, bauxita, alumina, alumínio, potássio, caulim, manganês e ferroligas.
Alcance. Tem negócios em 27 países
Canadá
Estados Unidos
Colômbia
Peru
Chile
Brasil
Argentina
Nova Caledônia
Austrália
Indonésia
Cingapura
Japão
Coréia do Sul
China
Mongólia
Índia
Omã
Moçambique
África do Sul
Angola
Guiné
França
País de Gales
Suíça
Alemanha
Inglaterra
Noruega
Variação.Maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale tenta há alguns anos diversificar seus ativos
Oferta.A primeira tentativa expressiva foi a oferta pela canadense de níquel Noranda, em 2004, que não foi adiante
Compra.Em 2006, a Vale comprou a produtora canadense de níquel Inco, o que fez o valor da brasileira nas bolsas saltar US$ 15 bilhões
Valor.No final de 2007, o valor de mercado da Vale era de US$ 80 bilhões
Reflexo.Com a compra da Xstrata, rica em cobre, níquel e carvão, entre outros, a Vale se tornaria a maior produtora de níquel do mundo.
NegociaçãoA Vale iniciou negociações com a Xstrata no ano passado. A combinação dos dois grupos criaria a maior mineradora do mundo, superando a BHP Billiton.
Geografia.A aquisição também tornaria a Vale, dentre as grandes mineradoras do mundo, aquela com maior diversificação no setor mineral, seja do ponto de vista geográfico, seja em relação à variedade de minérios que passaria a gerenciar.
ampliação.Ampliar a produção de níquel, de 300 mil para 385 mil toneladas/ano, o negócio quadruplicaria a produção de cobre, além de tornar a Vale uma das grandes produtoras mundiais de carvão mineral.
Tentáculos.A anglo-suíça Xstrata é a sexta maior mineradora do mundo. O grupo opera em 18 países:
Argentina
Austrália
Brasil
Canadá
Chile
Colômbia
República Dominicana
Alemanha
Nova Caledônia
Noruega,
Papua Nova Guiné
Peru
Filipinas
África do Sul
Espanha
Tanzânia
Estados Unidos
InglaterraMineração segue a siderurgia O setor de mineração hoje está vivendo a mesma situação antecedida pela siderurgia que é a união de grandes empresas, em um movimento de concentração. É só lembrar as inúmeras fusões ocorridas no mercado da siderurgia.Um exemplo dessas fusões pode ser mostrado com o que aconteceu no Espírito Santo, e no Brasil. A antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) transformou-se na ArcelorMittal Tubarão. A CST ? junto com outras siderúrgicas brasileiras ? foi adquirida pelo grupo francês Arcelor, que depois se uniu ao grupo indiano Mittal.As concentrações que estão acontecendo na mineração, avalia Mendo, não deverão prejudicar os grandes compradores de pelotas de minério, que são as siderúrgicas. “O duelo é de titãs”, justifica. Os chineses e os japoneses, que também são gigantes, “negociam em blocos”.Nada contra à união de gigantes, mas nessa disputa global de espaço não se pode esquecer que empresas menores também estão no mercado e que precisam comprar insumos e vender sua produção. Para evitar que os menores sejam prejudicados os governos devem estar atentos para assegurar as regras da livre concorrência, alerta Mendo.O importante, explica, é que sejam estabelecidas condicionantes e que os governo acompanhe a negociação para que não ocorra desequilíbrio de contrato. As empresas, lembra, precisam obter a aprovação da União Européia e também ter as condicionantes aprovadas.A concretização do negócio, avalia Mendo, trará uma grande sinergia para os dois grupos. Ele lembra que a Xstrata não é forte onde a Vale é muito forte. E a Vale não é tão forte nas regiões de grande presença da Xstrata.

A Gazeta – ES