Vale vai contratar 62 mil pessoas
19/03/08
Mineradora fará campanha internacional para recrutar pessoal no Brasil, EUA, Inglaterra, Austrália e Canadá
A Vale dá, neste sábado, início à primeira campanha global de recrutamento de funcionários feita por uma empresa brasileira. Serão arregimentados profissionais simultaneamente no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Canadá para uma previsão de 62 mil contratações em cinco anos. A iniciativa expõe o aquecimento de mercado que levou não só a uma alta dos preços de minérios e outras commodities, como também está chegando com força ao mercado de trabalho dos setores siderúrgico, de mineração e petróleo. No Brasil, a escassa mão-de-obra qualificada é disputada de forma aberta e agressiva pelas empresas dos três setores. Há um mês, um ônibus da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), empresa que só começa a operar no ano que vem, aporta diariamente em Volta Redonda, onde fica a sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). De lá, o veículo sai lotado de ex-funcionários da CSN, que viajam duas horas para Santa Cruz, onde ficará a sede da futura siderúrgica. Todos farão também treinamento na Alemanha, sede da Thyssen, sócia majoritária do projeto. “Já dá para me virar em alemão, como pedir comida em um restaurante“, conta Hércules Bastos, de 43 anos, 22 de CSN, contratado como supervisor de alto forno da CSA. Ele fez curso intensivo de alemão custeado pela nova empregadora. A Vale, que iniciou a maratona de contratações, também tem de se esforçar para manter os funcionários livres do assédio de concorrentes. Nem sempre consegue. Em Carajás, no Pará, mineradoras rivais, como BHP e Rio Tinto, publicam anúncios em inglês em busca de funcionários qualificados. “Os anúncios aparecem de todos os lados, dos Estados Unidos à Austrália”, diz a diretora de planejamento de RH da Vale, Maria Gurgel. “Mas também estamos recrutando profissionais na Austrália. É o reflexo da empresa globalizada”, brinca. Toda essa procura está inflacionando salários num mercado de trabalho carente de qualificação. Um soldador, cargo de nível técnico disputado pelos três segmentos com maior demanda de mão-de-obra, tem salário inicial entre R$ 1,2 mil e R$ 2,1 mil. Todas as empresas estão investindo em qualificação, com universidades corporativas, geridas por instituições de ensino privadas. “Montamos grades curriculares específicas às nossas necessidades. Para especificações como engenharia ferroviária, mineração e porto”, diz Maria Gurgel, sem revelar o montante investido no treinamento.A Petrobrás também está perdendo talentos para concorrentes. O grupo de Eike Batista arregimentou dezenas de profissionais de primeira linha da estatal oferecendo, inclusive, participação acionária em suas empresas. O presidente José Sérgio Gabrielli reconhece que a escassez de mão-de-obra é uma de suas maiores preocupações, ao lado da insuficiente capacidade de produção de bens e serviços. “Temos 60 mil empregados: 40 mil têm mais de 17 anos de casa e 20 mil, menos de 7 anos. Entre 7 e 17 anos não tem ninguém. Ou seja, temos de agilizar o treinamento dos mais jovens para ocupar gerências intermediárias”, diz o executivo. Em 1989, a Petrobrás tinha 60.028 empregados. Caiu para 32.809 em 2001. A partir daí, foram admitidos mais de 20 mil, uma renovação sem precedentes.
Estadão