Vale tenta reajustar preço do minério já de olho nas negociações de 2009
10/09/08
Vera Saavedra DurãoAs notícias de que a Companhia Vale do Rio Doce está negociando um segundo reajuste de preços do minério de ferro com seus clientes asiáticos voltaram com força ontem. A companhia acabou reconhecendo, em comunicado Ã; CVM, que busca uma “convergência de preços de referência” do produto vendido na Ãsia para o mesmo nível de preço praticado junto a seus clientes europeus, mais caro entre 11% a 11,5%. Se tiver sucesso no ajuste, a Vale terá um acréscimo de faturamento inferior a 3% de sua receita total de US$ 34,481 bilhões, acumulada no período de doze meses encerrado em 30 de junho.Na avaliação de analistas e fontes do mercado financeiro, o que a Vale tenta fazer agora é retirar o desconto que dava Ã;s siderúrgicas asiáticas, por conta de um diferencial de preço histórico baseado no preço do frete (mais caro para a Ãsia) e que vem caindo vertiginosamente nos últimos dois meses. A própria mineradora admite, no comunicado, que “não existe garantia de êxito” nessas conversas. Para as fontes consultadas pelo Valor, a mineradora brasileira pretende equiparar os preços do seu minério ao do produto das concorrentes (BHP Billiton e Rio Tinto). As usinas asiáticas aceitaram pagar mais em 2008 pelo minério dessas empresas. Os interlocutores acham que, ao tocar em aumento de preço a esta altura do ano, a Vale coloca “um bode na sala” para criar um ambiente de negociação de preço para 2009. Segundo essas fontes, a batalha é muito complicada, pois o cenário internacional piorou nos Estados Unidos e na Europa e alguns bancos americanos, como o Lehman Brothers, estão com sérias dificuldades. A ação da Lehman caiu ontem 45%. O mundo vive uma grande crise e, nesse ambiente, falar em aumento de preços pode ser prematuro, alertam os especialistas.Por outro lado, analistas lembram que os preços e a demanda das commodities continuam com tendência de queda, com destaque para o níquel. Ninguém espera que o minério de ferro enfrente esse problema. O crescimento permanece relativamente elevado nos países emergentes, como China e Ãndia. Mas, já há alguns sinais de um certo arrefecimento do consumo nesses mercados. Atualmente, o estoque de minério de ferro nos portos chineses soma 78 milhões de toneladas e o preço do produto no mercado spot local caiu 30% em relação ao pico de preços, alcançando agora US$ 140 com frete incluso. O trunfo da Vale é que o mercado continua consumindo minério de qualidade para fazer a mistura. E um dos principais argumentos da companhia na negociação de um novo reajuste, interpretam as fontes, é que se os clientes querem continuar recebendo produto de qualidade terão de pagar 11% a 12% a mais. “Vamos ver se conseguem convencer”, comentou um analista. As ações da Vale continuaram caindo ontem na Bovespa. As ordinárias despencaram 4,96% cotadas a R$ 37,36, enquanto as PNAs recuaram 4,33%, para R$ 33,34%. Desde o dia da oferta primária de ações, quando a empresa captou cerca de US$ 13 bilhões, o papel, vendido a R$ 39,90, já caiu quase 17%. É bom lembrar que os controladores da companhia colocaram bilhões nesta operação. E certamente, por isso, estão querendo ver uma melhora na performance da ação da maior mineradora de ferro do mundo.
Valor Econômico