Vale investe para recuperar meio ambiente
23/04/07
Vera Saavedra Durão23/04/2007
Leo Pinheiro/Valor
Reis, diretor de Meio Ambiente, diz que maior parte dos recursos será usada na recuperação de áreas degradadas de mineração
;A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), segunda maior mineradora diversificada do mundo, quer ser “verde”. Para o diretor executivo de Ferrosos, José Carlos Martins, é absolutamente possível ser verde e ser minerador. “É uma questão de enfoque empresarial”, diz . Pragmático, Martins não vê o meio ambiente sob a ótica do amor à natureza, mas dos negócios. “Se não respeitamos a Amazônia o cliente não compra o minério”.
Martins reconhece que hoje há uma pressão internacional em relação a preservação do meio ambiente, que se tornou estratégica para as empresas. Por conta deste novo cenário mundial, a Vale, de olho nos investidores, decidiu destinar este ano R$ 423 milhões à área ambiental, 30% a mais do que em 2006. Deste total, 70% serão gastos em projetos de controle ambiental e recuperação de áreas degradadas de mineração, informou Maurício Reis, diretor de meio ambiente da empresa.
O maior investimento em controle ambiental da multinacional brasileira está sendo feito no complexo de Tubarão, no Espírito Santo. Nos próximos três anos, conforme acordo assinado com o governo local, a empresa deverá aplicar R$ 250 milhões na região, onde existem pelotizadoras, porto e infra-estrutura ferroviária. A meta é reduzir a poluição local.
O controle ambiental envolve controle das emissões atmosféricas (só um filtro de uma pelotizadora custa US$ 25 milhões), tratamento de efluentes e resíduos. Todos os procedimentos têm normas, procedimentos e padrões e são auditados e constam dos fluxos de verificação de procedimentos da empresa da lei Sarbannes Oxley. A Vale gastou US$ 25 milhões para se adaptar à lei (exigência da SEC americana para fiscalizar melhor as empresas).
Os programas de recuperação de áreas degradadas é uma outra categoria ambiental importante para uma mineradora. “Só em recuperação de áreas degradadas estamos investindo pesado, principalmente no sistema Sul, onde as minas são mais antigas. Mas, também não descuidamos de Carajás”, conta Reis. A empresa introduziu um mecanismo de provisão financeira para assegurar que uma mina em operação, quando fechar, terá os recursos necessário para ser recuperada ambientalmente.
Desde os anos 90 a Vale tem um Instituto Ambiental. Hoje, ele conta com 300 funcionários incluindo biólogos, engenheiros florestais e gente com competência na área de ecossistemas, funcionando como um celeiro de conhecimento em relação a sustentabilidade.
O instituto permitiu à Vale exportar, recentemente, tecnologia ambiental para a Nova Caledônia, colônia francesa onde a CVRD Inco (subsidiária canadense da Vale) tem projeto de níquel de Goro em desenvolvimento. Em fevereiro, um grupo de técnicos ambientais do instituto que trabalham nos projetos internacionais da Vale – Indonésia, Mongólia, Moçambique – , viajou para a Nova Caledônia.
Eles trabalharão na redução dos gargalos ambientais de Goro, cuja solução é fundamental para a mina começar a operar. Trata-se de investimento de US$ 3 bilhões e produção prevista de 60 mil toneladas/ano. O que está acontecendo, no caso, é intercâmbio ambiental. A Vale trouxe ao Brasil técnicos de Goro para visitarem as minas de Carajás e verificarem como a empresa abre e fecha minas.
Na sua estratégia de se tornar uma empresa verde, a Vale adotou um código de ética e princípios em relação as leis ambientais e ao desenvolvimento sustentado. Recentemente, a empresa surpreendeu o mercado anunciando que vai combater guseiros predadores da Amazônia que usam madeira de floresta nativa da região. A Vale pretende suspender contratos de fornecimento de minério de ferro com as empresas guseiras que violam as leis ambientais.
A mineradora também tem uma empresa de ferro gusa na Amazônia. Trata-se da Ferro Gusa Carajás (FGC). Em março, a Vale comprou 22% da sua parceira americana Nuccor, passando a deter 100% da FGC. A guseira da Vale só usa carvão de mata plantada de eucalipto da antiga floresta da Cemar (Celulose do Maranhão), de sua propriedade. “Vamos usar a FGC como exemplo e mostrar aos guseiros que este é o caminho a ser seguido”, declarou Martins.
Além do orçamento previsto para o meio ambiente, a empresa pretende tocar o programa Vale Florestar, que inclui reflorestamento e revegetação de áreas degradadas da mineração. Para tocar este programa, ela conta com um viveiro de reprodução de espécies em Linhares, no Espírito Santo com mais de 4 mil mudas de espécies nativas. Lá, a Vale cultiva um hectare de Pau Rosa, cujo concentrado é usado para fabricar o Chanel nº 5. “Cerca de 100 gramas deste concentrado custa US$ 17 mil”, diz Reis, para quem o programa mira a biodiversidade, maior ativo que o país dispõe para futuro.
Ibama aplicou 56 autos de infração à mineradora nos últimos dez anos
Do Rio23/04/2007
A relação da Vale do Rio Doce com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra que há algum trabalho a ser feito para a mineradora ser considerada “verde”. Apesar do órgão não atender aos pedidos de entrevista do Valor para falar da empresa, argumentando que não se pronunciaria sobre companhias específicas, sua assessoria confirmou que dados divulgados pela revista “Piauí” foram fornecidos pelo Ibama.
A revista informa que nos últimos dez anos, desde a sua privatização, a mineradora levou 56 autos de infração, no valor de R$ 37 milhões. No ano passado, segundo o dado oficial, a empresa recebeu 14 autos de infração no valor de R$ 2,9 milhões, dos quais apenas R$ 217 mil foram pagos.
Entre as acusações estão o consumo de carvão proveniente de floresta nativa, vazamentos de postos de gasolina na estrada-de-ferro Carajás e embargo do posto de abastecimento de combustível do pátio de manobras de trens em Carajás, por risco de explosão.
Também foi citada multa de R$ 2 milhões referente a mina de cobre de Sossego, em 2004 por danos à Floresta Nacional de Carajás, onde a empresa teria lançado rejeitos que deveriam ter sido confinados a lagos artificiais. As informações foram contestadas em parte e outras confirmadas pela área jurídica da mineradora. O problema ambiental da mina de Sossego foi confirmado e decorreu de falha circunstancial no processo inicial de operação das instalações da mina. A Vale foi autuada por lançamento de efluentes provenientes da usina de beneficiamento, em área ainda ocupada por vegetação da mina.
A empresa não quis entrar em detalhes dos números de autos dos últimos dez anos, por considerar que não há registro de eventos ocorridos em datas tão remotas. Foi negado o fato de a Vale ter sido autuada por consumir carvão de floresta nativa. “Tal insumo não é utilizado na atividade de mineração. O mesmo é utilizado largamente pelas guseiras de Marabá, as quais não fazem parte do grupo econômico CVRD, exceto a Ferro Gusa Carajás, única produtora de gusa da região totalmente abastecida por suas próprias florestas industriais. A FGC nunca foi autuada pelo Ibama por consumir carvão vegetal de floresta nativa.”
A Vale disse que levou seis autos de infração do Ibama em 2006, que somaram R$ 4 milhões. Ela apresentou defesa por não concordar com seus fundamentos e aguarda manifestação do órgão. Os seis autos decorreram de fatos contra a Docegeo, relativa ao incêndio ocorrido em 2003, em Serra Sul, tendo a empresa sido notificada em 2006. Dois deles derivaram de suposta supressão de cavidades naturais; um outro foi por realização de atividade possivelmente poluidora, referente ao posto de gasolina no pátio de manobras de Carajás. A quinta por suposta não realização de programa de áreas degradadas. E uma por incêndio na Floresta Nacional de Carajás, mencionou a área jurídica da Vale. (VSD)
Valor Econômico