Vale ganha na exportação com dólar alto, mas crise global preocupa
14/10/08
O caos no sistema financeiro internacional terá impactos distintos para a mineradora Vale – que divulga o balanço do terceiro trimestre no próximo dia 23 – no curto e médio prazos. Como exportadora, a recente disparada do dólar tende a engordar os lucros da empresa, que tem mais de 80% de suas receitas vindas do exterior. No primeiro semestre, respondeu por 55% do saldo positivo da balança comercial. Mas, analistas ouvidos pela Agência Estado alertam que a médio prazo a situação é bem mais preocupante. A possibilidade de a crise gerar uma recessão mundial de grandes proporções tende a reduzir significativamente a demanda por minério de ferro e ainda influenciar no cronograma de investimentos da Vale.
O cenário nebuloso contribuiu para a queda das ações da companhia na Bolsa de Valores de São Paulo nas últimas semanas. Desde setembro, quando a crise se aprofundou e os reflexos sobre a economia mundial tomaram corpo, o valor de mercado da mineradora brasileira já encolheu R$ 70 bilhões. No ano, os papéis da companhia amargam uma perda de mais de 50%. Além das preocupações com front externo, o analista da SWL Corretora Pedro Galdi lembrou que o fato de os papéis da mineradora terem muita liquidez no pregão paulista também influencia no comportamento. A grande dúvida hoje é saber qual o tamanho da desaceleração econômica que a crise financeira irá provocar. “Se houver uma recessão, a Vale vai vender menos e as receitas vão cair”, explicou. O analista acredita que o cronograma dos investimentos também pode ser alterado em função de um quadro de maior incerteza internacional. “A empresa tem investimentos pesados (US$ 59 bilhões) para fazer, a gente não sabe se alguma coisa vai ser postergado. Provavelmente, ela deve adiar”, disse. Rogério Zarpao, do Unibanco, já trabalha com uma desaceleração maior para economia mundial, especialmente da China, país que responde sozinho por cerca de 17% do faturamento da Vale. “Estimamos agora um crescimento de produção de aço de 7,5% em 2009, contra nossa projeção inicial de 10%”, afirmou o analista em relatório. A mudança de premissas já levou o banco a rever suas apostas para o reajuste do preço do minério de ferro para 2009, que passou de 15% para apenas 6,5%. “Em meio à atual turbulência, é difícil avaliar a extensão real da crise financeira e seu verdadeiro impacto nos preços das commodities”, disse.
Como o preço do minério de ferro é reajustado anualmente, a receita da companhia com este produto não está sendo afetada agora pela crise. Já o faturamento com outros produtos, em especial o níquel, deve sofrer com a derrocada nos preços das commodities metálicas. “O níquel já chegou a representar 37% das receitas da Vale quando o preço da atingiu o pico de preço, a US$ 55 mil a tonelada”, lembrou um analista que não quis se identificar. Hoje, o valor da tonelada gira na casa dos US$ 11,9 mil. Quando a Vale comprou no final de 2006 a canadense Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo, o preço do produto era cotado a US$ 19 mil.
Agência Estado / Brasil Infomine