Vale fecha reajuste de 9,5% para minério
22/12/06
Francisco Góes22/12/2006
A Companhia Vale do Rio Doce anunciou ontem, em prazo recorde, que concluiu as negociações com a Baosteel, a maior siderúrgica da China, para aumentar em 9,5% os preços do minério de ferro em 2007. Como é o primeiro contrato de preço do minério fechado para vigorar no ano que vem, servirá de referência de mercado nas negociações entre mineradoras e siderúrgicas ao redor do mundo.
Em comunicado, a Vale reconheceu que é a primeira vez que os preços do minério de referência são fechados com os chineses. Na negociação, a Baosteel representou todos os produtores de aço da China, que é a maior consumidora de minério de ferro do mundo. As projeções são de que, em 2007, a China absorva mais da metade do volume comercializado no mercado transoceânico, estimado em 800 milhões de toneladas.
Chamou a atenção de analistas a velocidade com que a Vale chegou a um acordo com os chineses, menos de um mês depois das discussões terem começado, no fim de novembro. A última vez que a Vale havia fechado uma negociação de preços em dezembro foi em 1994, há 12 anos. Se o prazo para concluir as negociações surpreendeu, o reajuste veio dentro do esperado. O mercado trabalhava com um aumento entre 5% e 10%.
Patrick Conrad, analista do Santander Banespa, disse que houve percepção por parte dos chineses de que o mercado de minério de ferro está desequilibrado, com uma demanda forte e uma oferta apertada. Essa demanda continuará forte em 2007 e, na visão de Conrad, não adiantaria postergar o aumento, o que traria incertezas ao mercado.
Na negociação de preços para 2006, os chineses resistiram ao aumento e as negociações foram fechadas somente em maio deste ano quando a Vale acertou com a alemã Thyssen Krupp Stahl reajuste de 19% para o minério fino de Carajás e do sistema Sul (Minas Gerais). Em 2005, a negociação foi fechada em fevereiro com a Vale acertando reajuste de 71,5% com a japonesa Nippon Steel. Nos dois casos, os reajustes se estenderam às demais siderúrgicas, o que também deverá ocorrer agora.
Os novos preços de referência, acertados, em tonelada métrica seca, são de US$ 0,732 por unidade de ferro para o minério de Carajás e de US$ 0,7211 por unidade de ferro para o minério produzido pela empresa em Minas Gerais. Ontem, após o anúncio do acordo, a ação da preferencial da Vale na Bolsa de Valores de São Paulo fechou em R$ 53,20, com alta de 0,15% sobre o fechamento da véspera. O Ibovespa caiu 0,27%.
Conrad acredita que o reajuste de 9,5% deve ser seguido rapidamente por outras siderúrgicas dada a importância da China no mercado transoceânico de minério de ferro. Leonardo Messer, diretor de renda variável da Meta Asset Management, afirma que o acordo tende a fortalecer a hipótese de que 9,5% seja usado como benchmark (referência de mercado).
Messer estimou que o aumento do minério deverá ter um impacto marginal para as siderúrgicas brasileiras. Em média, o minério de ferro responde por cerca de 20% a 25% do custo das usinas integradas. Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e Belgo Mineira, empresas da Arcelor Brasil, e a Usiminas compram minério da Vale. Em geral, essas empresas têm de pagar o mesmo reajuste das siderúrgicas no exterior, mas ganham descontos sobre o frete.
Andrea Weinberg, da Merrill Lynch, disse que o acordo entre Vale e Baosteel indica que os fundamentos entre oferta e demanda continuam ajustados. Ela previu que a Vale deve fechar nas próximas semanas as negociações sobre o preço das pelotas com produtores de aço na Europa. Ela estima, em relatório, que os preços das pelotas poderão aumentar 5% em 2007. A Merrill Lynch trabalha com a perspectiva de que, em 2008, os preços do minério permaneçam estáveis, com possibilidade de queda em 2009 e 2010.
Cenário semelhante é traçado pelo Santander Banespa. A queda nos preços do minério, a partir de 2009, seria resultado de equilíbrio entre oferta e demanda como resultado da entrada em operação de novos projetos de produção.
Valor Econômico