Vale fará recompra bilionária de ações
15/10/08
SÃO PAULO – Em sintonia com diversas outras companhias que buscam alternativas diante da queda do mercado, a vale do Rio Doce anunciou anteontem que iniciará um grande programa de recompra de até 69,9 milhões de ações ordinárias e até aproximadamente 170 milhões papéis preferenciais, correspondentes a, respectivamente, 5,5% e 8,5% do número total do disponível no mercado em cada segmento. Ao levar em consideração o fechamento do mercado de ontem, o valor da operação fica em torno R$ 6,7 bilhões, ou US$ 3,2 bilhões, com o dólar valendo R$ 2,09.”Quando a empresa anuncia um processo desses, ela está batendo no peito e garantindo que o preço de seus ativos está abaixo de um patamar justo”, opinou Luiz Jurandir Simões Araújo, professor da Fipecafi. Dessa forma, a companhia diminui o número de papéis em circulação, o que tende a, naturalmente, gerar uma elevação de preço. Caso opte por cancelar os papéis depois disso, o benefício será aos investidores que continuarão detendo os ativos. Se optar por revender mais tarde, a companhia pode, inclusive, contabilizar um ganho de capital. Dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários mostram que em torno de 15 empresas já utilizaram dessa mesma estratégia desde o dia 15 de setembro, o que deve tirar algo em torno de 170 milhões de papéis do mercado. A Klabin, por exemplo, informou recentemente que irá ao mercado para captar até 10% de seu free float, ou cerca de 46 milhões ações preferenciais de um universo de 461 milhões de papéis.Contudo, a teoria não valeu para os negócios de ontem. Depois de registrarem fortes quedas que superaram 5% durante o pregão de terça-feira, as ações ordinárias da vale encerraram o dia com desvalorização de 1,5%, enquanto as preferenciais classe A apresentaram leve alta, de 0,87%.”A notícia de recompra é muito positiva para uma empresa. Mas analisar o impacto em um único dia é muito difícil, principalmente diante de toda a volatilidade do mercado”, lembrou Rossano Oltrami, analista da corretora XP Investimentos.De fato, as condições do negócio como um todo não foram muito positivas ontem. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, por exemplo, encerrou o dia com queda de 0,82%. Em resposta, o Ibovespa – que mede a variação das ações mais negociadas na Bolsa – subiu tímido 1,81%, depois da alta de quase 15% do dia anterior.De acordo com um analista do Banco Banif, no caso da vale, a notícia pode ser interpretada tanto como sendo positiva quanto como negativa. Se, por um lado, um programa de recompra é sempre bem-vindo – demonstra que a empresa acredita em uma precificação melhor do que a apresentada pelo mercado, estimulando uma valorização -, por outro, neste caso específico, deve ser avaliada com cuidado: há poucos meses, a mineradora anunciou uma oferta global de ações que gerou cerca de US$ 12 bilhões em caixa para a empresa.”Se a proposta da oferta foi enfocada na expansão do mercado, por que a empresa destinaria parte dos recursos à compra das próprias ações? Isso demonstra um pouco de ansiedade por parte do controlador da empresa. Do ponto de vista de governança, não vejo a notícia com bons olhos”, comentou.PrazoSegundo comunicado divulgado ao mercado anteontem, a proposta de recompra de ações, aprovada pelos acionistas da mineradora, a valepar, estabelece que o processo seja concluído em prazo máximo de 360 dias. A vale foi procurada para comentar em quanto tempo, dentro do prazo-limite, pretende finalizar o programa, mas preferiu não se pronunciar. “A recompra normalmente tem o prazo de um ano. O processo de conclusão depende da circunstância, mas, em uma crise mais prolongada, é de se imaginar haja uma execução um pouco mais rápida”, ponderou o vice-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre. “Esse tipo de programa significa também que, em momentos de liquidez mais apertada, a empresa quer prover essa liquidez a acionistas que, por algum motivo, precisem vender seus papéis”, adicionou Alexandre. “Significa estabelecer uma comunicação com o investidor.”Para aproveitar o baixo preço das ações, causado pela crise do sistema financeiro global, a Companhia vale do Rio Doce anunciou a recompra de 69,9 milhões de ações ordinárias e quase 170 milhões de preferenciais, a partir de 27 de outubro. Esses papéis correspondem a, respectivamente, 5,5% e 8,5% do número total do disponível no mercado em cada categoria de ação. Ao levar em consideração o fechamento do mercado de ontem, o valor da operação ficaria em R$ 6,7 bilhões, ou US$ 3,2 bilhões.A vale seguiu o exemplo de outras 15 empresas que, desde a metade do mês passado, vão realizar a recompra de cerca de 170 milhões de ações. A Klabin, por exemplo, informou recentemente que irá ao mercado para captar até 10% das ações no mercado ou cerca de 46 milhões de ações preferenciais. “Quando a empresa anuncia um processo desses, ela está batendo no peito e garantindo que o preço de seus ativos está abaixo de um patamar justo”, opinou Luiz Jurandir Simões Araújo, professor da Fipecafi.Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 1,81%, aos 41.569 pontos. O dólar teve queda de 2,42%, cotado a R$ 2,093 no fechamento.
DCI