Vale e Baosteel desistem de construir usina no Espírito Santo
19/01/09
São Paulo, 19 de Janeiro de 2009 – A fraca demanda por aço fez a Companhia Vale do Rio Doce e o Baosteel Group anunciarem a liquidação da Companhia Siderúrgica de Vitória (CSV), que deveria operar uma usina com capacidade para produzir anualmente 5 milhões de toneladas de placas de aço, que seriam direcionadas para exportação, no Estado do Espírito Santo. De acordo com a mineradora, entre os motivos para a desistência está a crise econômica global, que afetou a cadeia siderúrgica, levando as usinas em todo o mundo a reduzir a produção de aço. O projeto estava orçado em cerca de R$ 10 bilhões e era previsto para começar a operar em 2011.
“A crise econômica global produz um sentimento de cautela em todo o mundo”, afirmou o vice-governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço, ao justificar o cancelamento do projeto. “Os indicadores apontam que o conjunto de unidades siderúrgicas industriais estão com entre 25% e 30% de ociosidade”, disse, acrescentando que somente no Espírito Santo, a Samarco está com duas das três usinas de pelotização paradas, a Vale parou outras pelotizadoras, enquanto a ArcelorMittal reduziu a produção em cerca de 25%.”
Embora o objetivo da Baosteel com o projeto fosse a exportação, o governo capixaba tinha a intenção de criar um polo industrial metalúrgico ao redor da usina. “Agora teremos de aguardar que o cenário melhore”, disse Ferraço.
Inicialmente proposto para ser construído na cidade de Anchieta, ao sul de Vitória, o projeto deveria ser transferido para outro município capixaba, como Itapemirim e Presidente Kennedy, por indicação do governo estadual. Após fazer uma avaliação ambiental estratégica, a secretaria estadual de meio ambiente e recursos hídricos, informou que iria sugerir a transferência porque o estudo indicou que Anchieta poderia sofrer problemas de abastecimento de água e registrar altos níveis de poluição atmosférica caso a usina fosse instalada na cidade.
A sugestão não foi muito bem recebida pelos chineses da Baosteel, que indicaram que o projeto poderia sofrer atraso de até nove meses no início das obras. “Estamos explorando todos os tipos de medidas e estamos em negociação com o governo local, inclusive tentando persuadi-los a deixar que fiquemos em Anchieta”, disse, à época, Liu An, chefe dos projetos externos da Baosteel. “Gastamos muito pelo estudo do projeto. Mudar para um novo local significa que teremos de refazer o projeto a partir do zero.”
No comunicado que informa a liquidação da CSV, a Vale também afirmou que “mudanças no cenário do próprio projeto” também contribuíram para a decisão. Mas Ferraço afirmou que a questão da mudança de localização da usina não foi o fator predominante para a desistência do projeto. “Mativemos um diálogo permanente, as conversas sempre tiveram o tom de tranquilidade, mas a conjuntura global se aprofundou muito, principalmente nas últimas semanas”.
A questão ambiental já havia motivado a Baosteel e a Vale a desistirem, em 2005, do projeto siderúrgico que as duas empresas planejavam construir no Maranhão.
A construção de uma usina de aço com a Baosteel era apenas um dos projetos siderúrgicos com participação da Vale. Como modo de estimular o desenvolvimento do setor e, consequentemente, o consumo de minério no ferro no País, a Vale tem buscado atrair ao Brasil diversos grupos siderúrgicos, originalmente seus clientes, como parceiros na construção de usinas em território brasileiro.
Atualmente a mineradora é minoritária na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), cuja usina, que terá capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de placas por ano, está sendo construída no Rio de Janeiro em parceria com o grupo alemão ThyssenKrupp, em um investimento de US$ 3,6 bilhões. Também possui um projeto em parceria com a DongKuk no Ceará, a Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), projeto de 3,5 milhões de toneladas orçado em US$ 6 bilhões que a siderúrgica estrangeira já avalia adiar. Além disso, a Vale busca uma parceira para um projeto siderúrgico em Marabá (PA), usina de 2,5 milhões de toneladas orçado em US$ 3,3 bilhões que a mineradora se comprometeu a construir no segundo semestre do ano passado.
Para o analista da SLW, Pedro Galdi, o cancelamento do projeto no Espirito Santo ou o adiamento de projetos não geram impacto negativo para a Vale. “Em um ambiente de corte de produção e alto custo de crédito, não teria mesmo como realizar um projeto como o de Anchieta agora, poderia, ao em vez de cancelar, postergar”, disse. “Mas para a Baosteel, o importante é garantir fornecimento de minério, ou placa, que nada mais é que um minério manufaturado, mas ainda precisa de novo processamento.”
Na sexta-feira, a associação de produtores de aço da Europa, Eurofer expressou preocupação sobre a falta de demanda, segundo informou a Dow Jones Newswires.
“O cenário para 2009 é muito desanimador para praticamente todos os setores usuários de aço, particularmente na primeira metade do ano”, avaliou em comunicado. “É esperado que vejamos um adicional enfraquecimento do consumo aparente na primeira metade de 2009, uma ligeira recuperação pode vir no quarto trimestre do ano, em linha com a retomada da economia global” acrescentou.
(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 4)(Luciana Collet)
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