Vale diz ter limites para negociar compra da Xstrata
03/03/08
O presidente da Companhia Vale do Rio Doce(Vale), Roger Agnelli, sinalizou na sexta-feira que esfriaram as negociações com a inglesa Glencore para a compra da mineradora Xstrata. O executivo disse que é mais barato e mais importante investir nos projeto que a Vale já possui do que adquirir a mineradora anglo-suíça. `O nível de ativos e de pessoal da Xstrata é muito bom; eles são os maiores da área de carvão (e cobre). No entanto, evidentemente, temos limites, no sentido de que é melhor o crescimento orgânico`, afirmou, sem revelar valores sobre a oferta de compra. No mercado fala-se que a Vale ofereceu US$ 90 bilhões para ficar com a Xstrata. `Isto não é prioridade para a Vale. É mais barato a gente focar nos nossos projetos`, acrescentou o executivo. Outra razão que esfria a perspectiva de compra é o momento por que passa o mercado de metais com preços em escalada. O próprio Agnelli lembrou que `fazer aquisição num momento em que todos os ativos estão sobrevalorizados` pode não ser adequado. `A gente tem de fazer uma comparação com o que é melhor (investir nesta compra ou desenvolver os ativos que já existem).` Analistas como Alexandre Galotti, da Tendências Consultoria vinham defendendo a aquisição por causa da variedade de produtos que o negócio proporcionaria. A mineradora brasileira já é a primeira do mundo em minério de ferro e níquel e teria as maiores minas de cobre e carvão térmico como o próprio Agnelli mencionou. Mas o verbo conjugado no futuro do pretérito indicou uma possível desistência. `Faria sentido por causa da área do carvão térmico e reforçaria nossa posição na área de cobre porque estamos otimistas com o preço`, disse o executivo no anúncio do quinto recorde anual da companhia em resultado financeiro e produção. Agnelli confirmou que uma disputa sobre direitos de comercialização detidos pela Glencore, que possui uma participação de 35% na Xstrata, é o maior obstáculo ao acordo. A Vale já garantiu o financiamento e resolveu questões relacionadas à estrutura do pagamento, disse. ` Comercialização é algo muito importante para nós; gostamos de um relacionamento próximo, forte, com nossos clientes`, afirmou Agnelli. A Glencore tem uma série de contratos lucrativos a longo prazo para vender uma grande fatia da produção de mineração da Xstrata e quer um maior alcance se a Vale comprar a empresa, completou. `Podemos acomodar as coisas, podemos nos comprometer com alguma coisa, mas há princípios que não vamos abandonar. Não é uma tarefa fácil, é muito complexo. Mas sejamos otimistas`, disse Agnelli. O governo, segundo Agnelli, não exerceu qualquer tipo de ingerência nas negociações. Os próprios acionistas, inclusive o governo por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo ele “sabem como é importante manter a Vale brasileira“. Foi noticiado que o presidente Lula teria pedido pessoalmente à Agnelli que tomasse cuidado com a manutenção do controle do capital da empresa no Brasil. `Controle é preocupação de todos, não houve nenhuma ingerência do governo.` Ao detalhar o resultado que levou a um lucro de R$ 20 bilhões em 2007, Agnelli negou que a necessidade de mais energia elétrica seja obstáculo ao crescimento da Vale. O balanço mostra que os custos com combustíveis dispararam. Para resolver a questão, além dos projetos que a Vale tem para aumentar a oferta de energia, estuda construir mais uma térmica, que seria localizada no Rio ou no Ceará. Duas térmicas já estão previstas nos planos da Vale. A de Bacarena (PA) e outra no Maranhão. E, para driblar a falta de energia, estuda transformar bauxita em alumínio na Colômbia. A idéia é levar a matéria-prima e processar na região. Ele defendeu novamente o uso de carvão e lembrou que energias renováveis ainda são caras e limitadas em poder de geração elétrica.
Gazeta Mercantil