Vale descarta ser sócia da Usiminas em nova usina
06/10/06
A Companhia Vale do Rio Doce não deverá ser sócia da Usiminas na construção da nova usina de placas no Sudeste. O presidente da mineradora, Roger Agnelli, negou ontem que tenha intenção de entrar como sócio no projeto. Segundo ele, a Vale está disposta a entrar com capital novo na siderúrgica mineira caso a empresa precise disso para viabilizar o projeto. Mas a participação terá de ser na própria Usiminas. “Nós somos sócios, queremos continuar sócios da Usiminas, mas é ela quem tem de fazer o investimento ou achar o parceiro”, disse. “Não faz sentido entrarmos num projeto abaixo da Usiminas.” A Vale é sócia da siderúrgica e negocia a entrada no bloco de controle da companhia.
Em diversas oportunidades, o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, anunciou que a Vale estaria disposta a entrar com 20% dos US$ 3 bilhões previstos para a construção da nova usina, que teria capacidade para produzir até 5 milhões de toneladas anuais e seria construída em algum Estado da região Sudeste. Como a Usiminas planeja investir no projeto US$ 1,5 bilhão, cerca de 70% do capital já estaria garantido. A siderúrgica mineira, segundo Soares, estava em busca de um sócio estratégico disposto a bancar os 30% restantes e com condições de garantir mercado para a produção de placas.
Agnelli confirmou ontem a intenção da Vale de entrar para o bloco de controle da Usiminas com uma participação menor do que a que tem hoje, de 23% do capital votante. As conversas, garantiu ele, estão caminhando bem. O executivo lembrou, entretanto, que não se trata de uma negociação fácil. A reestruturação societária da Usiminas, segunda maior fabricante de aços planos do país, vem sendo discutida há mais de um ano. A expectativa do mercado é de que a Vale coloque a venda 13% do capital, ficando com 10% no bloco de controle, do qual fazem parte principalmente Nippon Steel, a Caixa de Empregados da Usiminas, os grupos Votorantim e Camargo Corrêa.
Analistas de bancos da área de mineração e siderurgia estranharam a declaração de Agnelli, já que seu discurso anterior era totalmente diferente. Para estes especialistas, na verdade a Usiminas não precisa da Vale como sócia minoritária neste projeto, pois tem caixa suficiente para bancar um investimento. O correto é a Usiminas buscar um sócio estrangeiro para garantir fornecedor para a placa no mercado internacional. E na avaliação dos analistas, não deve faltar gente interessada neste negócio. O papel da Vale, caso ela não entre mesmo no empreendimento, seria de fornecedora de minério de ferro, já que não tem outra alternativa no mercado brasileiro, destacaram os analistas.
A venda de ações da Usiminas resultará em injeção de recursos no caixa da mineradora. Mas Agnelli negou que a operação tenha qualquer relação com a necessidade de fazer caixa para a compra da canadense Inco. O executivo garantiu ontem que não existe necessidade de vender ativos para sustentar a aquisição. Ele garante que a Vale poderá administrar confortavelmente o endividamento para compra da Inco. O prazo para amortização do empréstimo, segundo ele, será próximo de sete anos. “Dá para adquirir com muita tranqüilidade com o endividamento que estamos assumindo”, disse. “Vamos ter dinheiro para pagar (o endividamento).”
Agnelli confirmou que há negociações em curso para reduzir a participação da Vale no negócio de ferro-gusa que tem em sociedade com a Nucor, em Carajás. A exemplo do que informou sobre a Usiminas, o presidente disse que a operação foi iniciada há bastante tempo e que também não tem relação com a compra da Inco.
Repercutindo rumores do mercado sobre possíveis venda de ativos para bancar a aquisição da mineradora canadense, Agnelli negou a Vale tenha interesse de vender sua participação na California Steel Industries (CSI), nos Estados Unidos. A Vale é sócia da japonesa JFE, com 50% do capital. Na avaliação do executivo, a siderúrgica da Califórnia é um ativo estratégico, uma “porta de entrada” para o mercado americano. “A Vale, hoje, não quer vender nem comprar participação na CSI.”
Em São Gonçalo do Rio Abaixo, no interior de Minas, a Vale inaugurou ontem uma usina de beneficiamento de minério de ferro com capacidade instalada para produzir até 30 milhões de toneladas anuais. O Complexo Brucutu, o maior do mundo em início de operação, custou US$ 1,1 bilhão à companhia. Os recursos foram aplicados na expansão da mineração, que era de cerca de 6 milhões de toneladas anuais, e na construção da usina de concentração de minério. As reservas do complexo somam mais de 737 milhões de toneladas de itabirito e hematita. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)