Vale critica a falta de ação do governo do Pará para conter invasões da ferrovia de Carajás
15/05/08
A falta de uma ação policial do governo do Pará capaz de inibir novas invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em ferrovias da empresa foi criticada por dirigentes da Vale do Rio Doce durante uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (14) em sua sede no Rio. O diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade, Walter Cover, disse que em todas as 11 ocupações ocorridas nos últimos 13 meses a polícia chegou apenas depois que a Justiça já havia expedido mandado de reintegração de posse e os invasores já haviam desocupado a ferrovia. A nova ocupação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) aconteceu na terça-feira (13), no mesmo ponto do município de Parauapebas, no Pará, em que ocorreram as ocupações anteriores. Um grupo de cerca de 400 pessoas do MST e do MTM, um movimento de garimpeiros de Serra Pelada que atua em conjunto com os sem-terra, interrompeu o tráfego na ferrovia sob a alegação de que representes do governo haviam interrompido as negociações para atendimento de sua pauta de reivindicações. Cover declarou que as ações promovidas pelos militantes ligados ao MST, com o apoio de um grupo de garimpeiros, ?foram atos de sabotagem muito bem organizados, precedidos de atos de vandalismo`. De acordo com nota distribuída pela Vale, a ferrovia permanecia interditada nesta quarta-feira, apesar da saída dos invasores, ?em razão da falta de condições operacionais?. O tráfego do trem de carga foi retomado na noite desta quarta-feira, mas o de passageiros permanecia interrompido. Entre outros atos de vandalismo, a Vale cita que os invasores retiraram 1.200 grampos que fixam os trilhos ao solo, num trecho de mais de 200 metros de extensão; cortaram os cabos de fibra ótica que passam pelos trilhos, interrompendo a comunicação via celular de Carajás; atearam fogo em pneus sobre os trilhos, danificando mais de 300 dormentes; e usaram macaco hidráulico para levantar os trilhos, comprometendo a sustentação da linha. ?Por essas razões, a simples liberação da via pelos invasores não significa que os trens possam voltar a circular de imediato?, diz a empresa. Esses crimes, segundo a Vale, representam um grave risco à operação do trem, principalmente em relação à segurança dos passageiros. Com a paralisação da EFC, deixam de ser transportadas por dia 1.300 pessoas, que têm no trem de passageiros seu principal meio de transporte entre 23 municípios do Maranhão e do Pará. Com a paralisação, deixaram de ser transportadas 285 mil toneladas de minério de ferro, fora os danos à sinalização e aos equipamentos da ferrovia. A Vale ainda não calculou o prejuízo causado pela invasão, mas estima em US$ 22 milhões as perdas provocadas por um dia de paralisação. Estimativas preliminares da Vale dão conta de que serão necessárias mais de 100 horas-homem de trabalho para reparar os danos provocados pelos invasores. A empresa informa também que obteve, na noite de terça-feira, mandado de reintegração de posse da EFC. ?A Vale considera inadmissível que uma empresa privada, que tem mais de 500 mil acionistas (número que inclui milhares de pequenos investidores, sem contar os trabalhadores que usaram recursos do FGTS para comprar ações, não somados neste total), seja usada como instrumento de pressão para forçar os governos federal e do Estado do Pará a negociar uma pauta de reivindicações do interesse de um grupo restrito, e que não guarda qualquer relação com a empresa?, diz a nota da mineradora brasileira. Essa foi a 11ª invasão a uma unidade da Vale desde março do ano passado, ?e a ação do MST demonstra que esse tipo de prática criminosa será mantida até que os governos federal e do Estado do Pará tomem as medidas necessárias para a solução definitiva do problema? Na entrevista coletiva, Walter Cover disse que se o governo decidiu negociar, ?que não deixe brechas detonadoras de ocupações?. Para ele, os governos têm que ser mais ágeis, pois há uma percepção de que o movimento está se tornando cada vez mais organizado, sem improvisações. Cover acredita que se trata claramente de uma estratégia, pois quando a polícia chega, eles já não estão mais na ferrovia, o que dificulta a prisão em flagrante dos sem-terra. Zenaldo Oliveira, diretor de Logística da Vale, alertou que uma paralisação das operações da Vale provocada por essas invasões pode interromper o escoamento da produção de minério de ferro, pois a empresa não está conseguindo formar estoque da matéria-prima nos portos, em razão da forte demanda existente no mercado mundial. Rompimento de negociações Em nota à imprensa, o Governo do Pará informa que, embora a pauta de reivindicações dos garimpeiros que invadiram a Estrada de Ferro de Carajás seja dirigida ao Governo Federal, tem acompanhado de perto as negociações com o Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração (MTM). ?O governo estadual também elaborou uma pauta de negociações e atendeu ou estava atendendo vários pontos reivindicados pelos garimpeiros. Diante da ocupação da ferrovia Carajás, o governo considera que houve rompimento nas negociações por parte dos garimpeiros e vai tomar todas as medidas necessárias para coibir abusos e manter a ordem pública?, acrescenta a nota. MST nega participação Em nota divulgada por sua direção nacional, o MST afirma que a obstrução dos trilhos da Estrada de Ferro Carajás, em Parauapebas (PA), na terça-feira (13), foi realizada pelo MTM (Movimento dos Trabalhadores na Mineração), ?para reivindicar a retirada da mineradora de parte de uma área de Serra Pelada, a criação do Estatuto dos Garimpeiros e aposentadoria especial para a categoria?. O MST reafirma que apóia manifestações ?que denunciam a responsabilidade da Vale por suas ações que desrespeitam os direitos sociais e ambientais das comunidades que vivem em torno das suas instalações, dos garimpeiros e dos seus trabalhadores?. A nota do MST diz ainda que o delegado que cuida do caso teria afirmado que ?os trabalhadores entraram e saíram pacificamente, e que não houve paralisação do trem da mineradora nem danos à propriedade ? diferentemente do que diz a nota divulgada pela empresa?. Os sem-terra completam a nota reivindicando mais uma vez a reestatização da Vale. Invasões do MST a unidades da Vale A Vale divulgou também uma relação cada uma das 11 invasões a suas dependências promovidas pelo MST. Segue a cronologia: 13 de maio de 2008 Um grupo invadiu desde das 13h30 a Estrada de Ferro Carajás, no mesmo local da última ocupação, ocorrida durante o `Abril Vermelho`. Dois empregados da Vale foram feitos reféns. 9 de maio de 2008 O transporte da Estrada de Ferro Carajás foi interrompido, por volta das 9h47, na altura do quilômetro 842 . A ferrovia foi liberada às 11h21. 17 de abril de 2008 Cerca de 600 militantes do MST e do MTM (Movimento dos Trabalhadores da Mineração) invadiram a EFC por sete horas. 10 de março de 2008: Um grupo de cerca de 600 pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e à Via Campesina invadiram a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), no município de Resplendor (MG). As operações da ferrovia foram paralisadas e o maquinista Pedro de Jesus Simões, de 63 anos, foi feito refém, sendo impedido de deixar a cabine da locomotiva durante mais de 12 horas. 08 de março de 2008: O MST invadiu as instalações administrativas da Fazenda Monte Líbano, da Ferro Gusa Carajás, empresa da Vale no Maranhão. Eles depredaram a sede da empresa e usaram de extrema violência. 08 de dezembro de 2007: A Ferrovia Centro Atlântica (FCA) foi invadida por integrantes do MST na Bahia, paralisando a ferrovia próxima ao município de Queimados. Cerca de 200 invasores participaram da ação. 07 de novembro de 2007: O MST invade a Estrada de Ferro Carajás (EFC), com interrupção dos transportes de minérios e de passageiros. Cerca de 15 pessoas encapuzadas, armadas de foices, picaretas e porretes de madeira tentaram quebrar os vidros das janelas da locomotiva, no município de Parauapebas (PA). 17 de outubro de 2007: O MST invade a Estrada de Ferro Carajás (EFC). Cerca de 300 pessoas ocuparam os trilhos da ferrovia, no município de Parauapebas (PA). 8 de outubro de 2007: O MST invadiu a Estrada de Ferro Carajás (EFC), na altura do distrito de Vila dos Palmares II, no município de Parauapebas (PA). Eles não conseguiram paralisar os trens, mas ficaram acampados próximo à Ferrovia, gerando um clima de insegurança. 22 de agosto de 2007: O MST invadiu o prédio da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), em Belo Horizonte (MG), e fez dois empregados da empresa reféns. 07 de março de 2007: 250 manifestantes do MST invadiram a mina de Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Os invasores bloquearam o acesso à área por quase uma hora.
Pará Negócios