Vale começa a negociar os preços para o próximo ano
27/11/06
As negociações de preço do minério de ferro para 2007 já começaram no fim da semana. As conversas preliminares tiveram início na primeira reunião da Vale do Rio Doce com os chineses. Esta semana os entendimentos dão prosseguimento em encontros marcados com as siderúrgicas da Europa e do Japão.
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A Vale, que tem liderado o processo nos últimos cinco anos, já nomeou um executivo para coordenar as rodadas. Foi escolhido para a tarefa Renato Neves, responsável pelo escritório de Tóquio, da Rio Doce Ásia, subsidiária comercial da Vale, apurou o Valor. Neves tem 40 anos de Vale e está há cinco no Japão. No Brasil, era gerente da área comercial da companhia.
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As expectativas para as negociações de 2007 são de de menos tensão que neste ano, quando os entendimentos entre mineradoras e usinas da China só chegaram a termo em junho. Segundo fontes que acompanham o processo, este primeiro contato da Vale com os chineses, liderados pela Baosteel, na quinta-feira, em Xangai, se deu num clima bem mais amistoso.
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As avaliações do novo cenário são de que a China, como maior consumidora de minério, quer continuar influindo no rumo das conversas para o reajuste da matéria-prima em 2007. Mas, alguns analistas acreditam que as usinas chinesas não partirão para o confronto, como neste ano, quando foram necessários oito meses de negociação até os chineses decidirem acatar o novo reajuste. “Elas (as siderúrgicas da China) estão cientes da demanda aquecida pelo minério”, avaliam analistas.
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As projeções da própria Cisa, entidade que reúne as chinesas, apontam aumento de 13% do consumo de aço na China até 2010. O que aponta para uma demanda extra de minério de ferro de mais 80 milhões de toneladas anuais. Deste total, entre 40 milhões e 50 milhões de toneladas deverão ser importadas pelas usinas locais.
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O mercado transoceânico deverá movimentar até o fim de 2006 até 745 milhões de toneladas de minério, das quais 335 milhões para a China, avaliam especialistas de bancos. Para 2007, a estimativa é de vendas de 800 milhões, das quais 425 milhões para a China.
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Apesar do forte poder de barganha dos chineses, as mineradoras têm uma expectativa de que haja um equilíbrio maior de forças entre as siderúrgicas nas negociações de preço para 2007, com a entrada de um novo player de peso nestes acertos, a Arcelor Mittal, maior siderúrgica do mundo, e de atuação mais ativa de usinas japonesas.
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Entretanto, segundo informação obtida pelo Valor, a Arcelor Mittal não pretende entrar muito fundo na briga para conter possível nova alta dos preços do minério. A avaliação é que com isso o custo do aço chinês sobe e perderá competitividade nas exportações para o Ocidente. A gigante do aço tem a vantagem de estar bastante hedgeada nesse negócio: tem produção própria de minério suficiente para atender até 47% de seu consumo. Esse percentual deve subir para mais de 60% em 2010.
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As projeções de reajuste de preço do minério em em 2007 variam de 5% a 10%. O Credit Suisse prevê 10%. A Merrill Lynch, mais conservadora, mantém aposta em 5%, mas prevê alta de 5% para pelotas de minério, que este ano tiveram uma queda de 3% no preço. Rodrigo Barros, do Unibanco, estima um reajuste de 8% para o minério.
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Na sexta-feira, a Vale assinou seu maior contrato de longo prazo de fornecimento de minério com a alemã ThyssenKrupp. Foi acertado que a mineradora vai entregar anualmente, durante 15 anos, 8,6 milhões de toneladas de minério de ferro para a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), usina brasileira da Thyssen, na qual a Vale será dona de 10% do capital. Deve entrar em operação em 2009, produzindo 4,5 milhões de toneladas de placas de aço. O contrato prevê entregar 130 milhões de toneladas para CSA até 2021, com valor da ordem de US$ 7 bilhões.
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Karl Ulrich Kohler, presidente do conselho ThyssenKrupp, não quis se pronunciar sobre as negociações de preços. “Estou aqui para falar do contrato da CSA.” No ano passado, a alemã foi a primeira siderúrgica a fechar preço com a Vale. O aumento foi de 19%. José Carlos Martins, diretor de ferrosos da Vale, também evitou falar do assunto. Já Roger Agnelli, presidente-executivo da Vale, destacou que “esta é uma questão que só se resolve na mesa de negociação”.
Valor Econômico