Vale avança no caminho da internacionalização
28/06/07
Francisco Góes28/06/2007
A compra da mineradora canadense Inco, em 2006, por US$ 17,6 bilhões, coroou a estratégia de internacionalização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que já havia feito aquisições de ativos na França, Noruega e formado parcerias na China. A expansão além fronteiras vem sendo sustentada por um plano que combina portfólio de reservas minerais de alta qualidade, diversificação geográfica e redução do custo de capital, o que foi garantido com o investment grade obtido pela empresa em 2005.
Passada a compra da Inco, especialistas em mineração e analistas de mercado se perguntam quais serão os próximos passos da Vale no front externo. Uma das discussões é se a Vale fará outras aquisições de porte até terminar de pagar a Inco. Há quem não espere nenhuma grande compra importante a curto prazo e quem considere que podem surgir oportunidades para a Vale até que ela quite a mineradora canadense, que lhe permitiu passar a ser líder no mercado mundial de níquel.
“Não dá para especular. Quem entende que a Vale, uma vez comprada a Inco, tem de ir mais devagar tem razão porque o balanço da empresa está ocupado com uma dívida que precisa ser paga para não perder o investment grade. Mas quem avalia que a aquisição da Inco aumenta o poder de fogo da Vale também tem razão”, diz Gabriel Stoliar, diretor-executivo de planejamento e desenvolvimento de negócios da CVRD.
Stoliar diz que o portfólio da Vale busca colocar a empresa em posição de liderança nos negócios nos quais está presente na mineração (minério de ferro, níquel, alumínio, cobre e carvão). “Queremos que o conjunto chegue a ser número um, mas existe regra segundo a qual a empresa estará bem posicionada se estiver entre os três primeiros colocados em cada setor”, diz o executivo.
Segundo ele, a Vale não está fechada a fazer novos negócios em minério e níquel, mas em função do tamanho da empresa nestes setores a tendência é aumentar a presença da companhia em alumínio, cobre e carvão. Uma das metas da Vale é atingir produção de 450 milhões de toneladas de minério de ferro em 2011 (em 2007 serão 300 milhões de toneladas).
Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia, entende que a Vale deve continuar a desenvolver projetos de crescimento orgânico de forma sustentável. Na visão dele, a internacionalização da CVRD, focada em projetos de grande escala de classe mundial, deve-se à necessidade de diminuir a exposição de risco a um único país e à dificuldade de diversificar seus negócios no Brasil, onde as oportunidades de aquisição no setor são limitadas.
“Entendo que a Vale pode fazer aquisições de porte médio no exterior, na faixa de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões, até que a empresa termine de digerir (pagar) a Inco. E a empresa já deixou claro que um dos targets vai ser o carvão”, diz Mendes de Paula. Um dos focos da Vale no carvão é Moçambique, onde ganhou o direito de explorar as minas de Moatize. A empresa já fez a entrega formal do plano de desenvolvimento do projeto ao governo moçambicano e está em fase final de negociação em relação à logística do projeto, envolvendo ferrovia e porto.
Na avaliação de Mendes de Paula, não restam dúvidas de que a Vale avança para ser a empresa mais importante do país em matéria de internacionalização. Hoje a Vale desenvolve trabalhos de pesquisa mineral em 19 países, incluindo Peru, Chile, Colômbia, África do Sul, Gabão e Guiné nas áreas de cobre, manganês, minério de ferro, níquel, caulim, bauxita, fosfato, potássio, urânio e PGMs (platinum group metals).
A empresa também tem diversos ativos fora do Brasil e está presente nos cinco continentes. Entre 40% e 45% das receitas e ativos da companhia estão no exterior. Em 2007, a Vale anunciou a compra da australiana AMCI, que opera e controla projetos de carvão. Na China, a Vale participa de joint ventures em carvão e coque e fez acordo para a construção de pelotizadora.
Roger Downey, do Credit Suisse, avalia que a Vale deve manter foco no crescimento orgânico e continuará a olhar aquisições de forma oportunista. “Não espero nenhuma aquisição de volume até o fim de 2008”, diz Downey.
Para Gabriel Stoliar, o diretor executivo da Vale, a internacionalização da companhia resulta de decisão estratégica tomada em 2001, após o descruzamento acionário com a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), em que se estabeleceu um mote em inglês, para a venda de ações da companhia, que dizia: “we are a global mining company.” A busca e a consolidação de um portfólio de reservas minerais de alta qualidade foi uma das razões para a internacionalização. “Não há como crescer na escala que o mundo globalizado exige se não tiver reservas de alta qualidade em volume, especificação e distribuição geográfica adequada”, diz ele.
Valor Econômico