Vale ampliará presença nos EUA
24/10/06
Carros híbridos e energia nuclear são dois dos novos segmentos, diz presidente do IBRAM.
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Rio e São Paulo, 24 de Outubro de 2006 – A compra da mineradora canadense de níquel Inco Limited vai abrir as portas do mercado norte-americano para a Companhia Vale do Rio Doce. Atualmente, apenas 10% das vendas da mineradora brasileiras são destinadas para a América do Norte, patamar que passará a 17% depois da compra.
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O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, avaliou que Vale pode se beneficiar de projetos de montadoras dos Estados Unidos que pretendem investir em carros híbridos – movidos a gasolina e eletricidade – com baterias a base de níquel. “A operação vai abrir o mercado americano para o Brasil”, disse Camillo Penna. “A tendência é que o preço do níquel continue alto”, afirmou.
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A mineradora canadense possui as maiores reservas mundiais do produto e tem a segunda maior produção, que no acumulado de janeiro a setembro atingiu 181,8 mil toneladas. A empresa encerrou em 30 de setembro o terceiro trimestre deste ano com o maior lucro líquido para um trimestre em 104 anos de história.
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Na sexta-feira, a empresa anunciou ganhos de US$ 701 milhões entre julho e setembro, contra apenas US$ 64 milhões em igual período do ano anterior. Nos nove primeiros meses do ano, o lucro acumulado pela Inco é de US$ 1,3 bilhão. Os bons resultados foram fruto, segundo o presidente da companhia, Scott Hand, fruto de uma “força sustentável sem precedentes no mercado de níquel”.
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A negociação também servirá para diversificar a produção da companhia brasileira, hoje capitaneada pelo minério de ferro, que representa 74% das receitas da empresa. Com a compra da Inco, o produto passará a 56% das receitas, com o níquel em segundo lugar, com 20% do total.
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Camillo Penna lembra ainda que a Vale do Rio Doce pode se beneficiar de uma possível retomada da indústria de energia atômica no Brasil, já que a usina de Angra 3 está prevista no plano decenal para entrar em operação até 2015. Por não sofrer deformação a temperaturas extremas, o níquel é utilizado nos tubos que recebem vapor quente e água gelada dos sistemas de resfriamento das usinas.
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Maior operação na AL
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A aquisição da Inco pela Vale é a maior operação de fusão e aquisição já realizada por uma empresa sediada na América Latina. A constatação é do vice-presidente do ABN Amro Real, João Teixeira. “Esta transação confirma a tendência de companhias brasileiras se tornarem players globais”, afirmou Teixeira, ao avaliar o crescente fluxo de internacionalização de companhias brasi-leiras. Para dar uma idéia de grandeza, o executivo informou que dois dos maiores empréstimos sindicalizados – com a participação de vários bancos como o que a Vale está fazendo para adquirir a Inco – ocorridos recentemente foram para Petroleos Mexicanos (Pemex), de US$ 5,5 bilhão, e para a Teléfonos de Mexico (Telmex), de US$ 3 bilhões.
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Investimentos
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A Vale do Rio Doce já investiu US$ 3,89 bilhões em aquisições desde maio de 2000. Entre os negócios fechados estão Feterco, Samitri/Samarco, Alunorte, Canico e Valesul.
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Diversificação
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A aquisição da mineradora canadense Inco é um marco da estratégia da Vale de diversificar o portfólio de produtos e a atuação geográfica. “A Vale deverá continuar expandindo sua atuação no mercado internacional em outros segmentos para diversificar sua receita”, disse a analista da Coin Valores, Elaine Rabelo. A Analistas também apontam a possibilidade da venda de 13% dos 23% de participação que a empresa tem na Usiminas, o que incluiria a Vale no bloco de controle da siderúrgica. Essa venda resultaria em cerca de US$ 1 bilhão, que ajudaria a empresa a pagar a compra da Inco ? que faturou US$ 4,51 bilhões e produziu 177 mil toneladas no ano passado, ficando na segunda posição na produção mundial de níquel, atrás da russa GMK Norilsk Nickel. O analista da Link Corretora, Adriano Blanaru, acredita que a empresa deverá comprar ativos em alumínio e cobre, outros dois metais com forte valorização na LME (Bolsa de Metais de Londres).
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Venda de ativos
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A Merrill Lynch informa que não ficará surpresa se a Vale cortar parte do seu programas de investimento nos próximos dois anos e vender ativos que não são seu foco, como caulim e ferro-ligas, para acelerar o pagamento dos débitos e reduzir risco de queda do seu agencias. O único porém apontados pelos analistas é o fato de que a aquisição da Inco vai aumentar a dívida da Vale, que terá que diminuir seus investimentos em novas aquisições para gerar caixa para quitar essa compra.
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A empresa também corre um pequeno risco de deixar de ser investment grade, o que poderia gerar uma pressão para a venda dos papéis da empresa. Alguns bancos de investimentos só indicam a compra de ações para empresas com investment grade. “Mas acreditamos que a aquisição não prejudique a empresa já que ela fez um empréstimo ponte para essa negociação e está tentando alongar o perfil do seu endividamento”, ponderou Rabelo. Antes da aquisição da Inco, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) já planejava se tornar, a partir de 2008, o maior produtor brasileiro e dos maiores do mundo de níquel.
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Crescimento
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A Vale do Rio Doce surgiu em junho de 1942 criada pelo Governo Federal. Em 1977 a empresa foi privatizada. Desde então a empresa experimenta crescimento significativo. Dados da consultoria Economática mostram que a Vale era avaliada em US$ 654 milhões em 1990, alcançou US$ 7,5 bilhões em 1997 e atingiu US$ 54,97 blhões em outubro passado. Os números da consultoria consideram quantidade de ações ON Ex tesouraria e os preços das ações PN Ex tesouraria. A Vale do Rio Doce prorrogou por duas vezes o prazo para aquisição das ações da Inco para atender as exigências legis canadenses.
Gazeta Mercantil – Rafael Rosas, Solange Guimarães, Gustavo Viana e Luciana Collet