Uso industrial de argilas maranhenses
09/09/09
Com maior reserva de zeólitas do país, o estado pode utilizar o material para purificações de óleos, bebidas e biodiesel e em reações com petróleo
A versatilidade e variedade de usos da argila são conhecidas desde a Antiguidade, sendo usada inclusive para limpeza de lãs, num processo chamado de adsorção. No Maranhão, as olarias utilizam esse material na produção de tijolos e cerâmica. Apesar da abundância desse recurso no estado, proveniente de origem geológica sedimentar, o potencial industrial das argilas maranhenses ainda não havia sido avaliado. Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão se debruçaram sobre o tema para avaliar o uso de argilas e zeólitas locais como adsorventes industriais. As zeólitas são minerais altamente porosos, por sua estrutura geometricamente ordenada e assim como as argilas, têm sido utilizadas em processos de purificação, filtração e clarificação de fluidos variados, de óleos vegetais e minerais a bebidas, como cervejas e refrigerantes. A utilização de zeólitas no Brasil ainda é restrita, pela não uniformidade das ocorrências no território. A área escolhida para coleta é a bacia do rio Parnaíba, que segundo pesquisa da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) é a maior reserva de zeólitas do país. A equipe formada por um mestrando e três alunos de iniciação científica recolheu mais de 200 quilos de material nos municípios de Carolina, Montes Altos, Governador Edison Lobão, Codó, Barra do Corda e Presidente Dutra, analisados na Universidade e em laboratórios de parceiros, como a Oleama e o Instituto Nacional Tecnológico. Depois da retirada das impurezas das amostras, essas foram testadas na clarificação de óleos vegetais, em especial o de babaçu, bastante produzido no estado. Os óleos para consumo humano precisam da clarificação para não terem sabor e validade prejudicados, em virtude da grande quantidade de amido. Segundo o coordenador da pesquisa, professor José Wilson da Silva, do Departamento de Tecnologia Química da UFMA, as amostras têm grande capacidade de uso na adsorção industrial, o que significaria o uso de materiais de origem locais por indústrias maranhenses que vêm importando argilas de outras regiões para clarificação de óleos. ?Fizemos uma análise geral e já percebemos o grande potencial do material. Agora precisamos aprofundar as pesquisas em amostras mais promissoras?, diz ele, referindo-se às argilas provenientes de Barra do Corda e Balsas. As amostras coletadas deram origem a um banco de amostras, que servirá de base para pesquisas acerca de outras propriedades de argilas e zeólitas, como o craqueamento de petróleo e purificação de biodiesel. As conclusões dessa etapa deram origem à tese de mestrado do estudante Gilvan Figueiredo, da pós-graduação em Química da UFMA. Argilas e combustíveis Nas refinarias, a argila pode ser usada no craqueamento do petróleo. Por suas propriedades químicas, esse material atua como catalisador ácido, acelerando essa reação de quebra, fundamental para a produção de gasolina, querosene, lubrificantes e outros subprodutos. De acordo com José Wilson, a refinaria a ser instalada pode aproveitar o recurso disponível no estado para esse fim. Outra aplicação das argilas maranhenses é a purificação de biodiesel a seco. No processo normal, são utilizados no mínimo três litros de água para retirada de impurezas de um litro de biodiesel; essa água se torna não-potável e exige tratamento. Com a lavagem a seco utilizando argilas, pode-se reduzir o consumo de água em até 70%. O mesmo pode ser feito com a glicerina, subproduto do biodiesel, onde a redução por meio do uso da argila atinge 50%. Perfil José Wilson da Silva é graduado em Engenharia Química pela UFRN, com mestrado e doutorado na mesma área na Universidade de Campinas, sendo professor da UFMA desde 2006, lotado no Departamento de Tecnologia Química.
SECOM /UFMA
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