Usiminas quer acelerar internacionalização
22/02/07
Vera Saavedra Durão22/02/2007
Depois de aproveitar a bonança dos preços do aço a partir de 2003 e se tornar uma das siderúrgicas do país com o menor grau de endividamento, a Usiminas diz estar pronta para um programa de crescimento mais arrojado, que passa pela internacionalização. A onda de consolidação de ativos no setor que ganhou força nos últimos anos passa pelas fabricantes de aço brasileiras, posicionadas entre as mais competitivas do mundo.
No Brasil, a siderúrgica mineira, sediada em Belo Horizonte (MG) toca um plano de investimento de quase US$ 2 bilhões para modernização e expansão de suas duas usinas – em Ipatinga, no Vale do aço mineiro, e Cubatão, na Baixada Santista – e finaliza estudos para erguer uma nova usina, de 5 milhões de toneladas placas de aço, que pode custar US$ 3 bilhões.
Rinaldo Campos Soares, presidente da empresa, no cargo desde 1990, afirmou ao Valor que a Usiminas trabalha com o que ele denomina de “visão 2015”, uma estratégia de longo prazo envolvendo investimentos entre US$ 5 a US$ 6 bilhões no prazo de cinco anos, pois a companhia que dirige aspira chegar em 2015 como líder absoluta do mercado brasileiro de aços planos e como protagonista de porte no mercado mundial de placas e laminados.
“Temos escala, produtos de alta qualidade, relacionamento internacional intenso e vantagens comparativas, como o baixo custo do aço nacional, que nos garante chegar lá”, disse Soares, convicto de sua estratégia, traçada e apresentada ao conselho da Usiminas no fim de 2005.
O executivo não teme que a empresa se transforme em “caça” dentro do acelerado movimento de consolidação da siderurgia mundial. No seu raciocínio, a recente reestruturação societária ocorrida no ano passado, depois de um longo processo de negociações entre os acionistas, pelo qual alguns sócios fortaleceram suas participações na empresa, a coloca na condição de “caçadora” de ativos no processo de consolidação da siderurgia mundial. O novo perfil do bloco de controle teve uma maior presença da japonesa Nippon Steel e dos grupos nacionais Votorantim e Camargo Corrêa, além da entrada da Vale do Rio Doce, maior mineradora de minério de ferro do mundo e fornecedora exclusiva da matéria-prima à Usiminas.
Os controladores, observa Soares, formam “um grupo muito sólido” de investidores de longo prazo, que no seu entender “blindam” a Usiminas de ameaças de assédio. “Este grupo de acionistas, sobretudo a presença efetiva da Nippon Steel, é um sinal forte em relação a essa questão. Sinalizaram para o mercado que estão aqui para valer”, afirmou.
Para o executivo, os primeiros passos no movimento de internacionalização da Usiminas já foram dados em 2005, mais efetivamente. Soares lembrou que na época a empresa converteu suas pequenas participações em duas siderúrgicas – Siderar, na Argentina, e Sidor, na Venezuela – em uma participação maior, de 14%, no capital da Ternium, companhia controlada pela argentina Techint que reuniu Siderar, Sidor e a mexicana Hylsamex.
A Usiminas passou a ter alguns direitos de veto e dois assentos no conselho da Ternium, sediada em Luxemburgo e com ações negociadas na Bolsa de Nova York desde fevereiro do ano passado.
A internacionalização, para Soares, é consequência natural do projeto para instalação da nova fábrica de aço da Usiminas, previsto para iniciar operação por volta de 2010/2012. “Uma das condições para se fazer uma usina de 5 milhões de toneladas de semi acabados de aço – volume que o mercado interno não absorve – é ter garantia de distribuição da produção”, afirmou.
Segundo Soares, “trabalhar no mercado `spot` (vendas sem contratos definidos com clientes) é muito arriscado. Para que tenhamos garantia da compra das placas da nova usina, ela poderá contar com um parceiro estratégico que absorva parte da produção e contar, sem dúvida, com alguma complementação de agregação de valor lá fora”, destacou.
O executivo, de 68 anos e uma longa carreira dentro da siderúrgica mineira em vários cargos, disse que constantemente são analisadas oportunidades de negócios para a aquisição de ativos no exterior pela Usiminas. “O mercado americano é o que mais interessa a uma empresa do Brasil, pela logística. Depois vem o da Europa. No Sudeste asiático não somos competitivos por causa da logística. Temos tudo isso mapeado”.
Este ano, segundo ressaltou, será o ano em que a Usiminas vai preparar esta estratégia de crescimento com detalhes e especificações e decisões sobre o projeto da nova usina, para que 2008 seja um ano de real implementação do projeto e também de efetivação de parcerias, se for o caso, disse o executivo.
A empresa, com produção na casa de 9 milhões de toneladas de aço bruto por ano e 29ª no ranking mundial, dispõe hoje de uma situação financeira confortável, contando com um caixa superior a US$ 1 bilhão, segundo Soares, e um baixo nível de endividamento. A relação dívida líquida/resultado operacional (Lajida) é de 0,4. Ou seja, a Usiminas necessita de apenas quatro meses de geração de caixa para pagar sua dívida líquida, que até setembro somava US$ 768 milhões.
No início de março, a companhia deve divulgar seu balanço de 2006. Pedro Galdi, analista de mineração e siderurgia do ABN Amro projeta um lucro líquido de R$ 2,5 bilhões para a empresa (sistema Usiminas), margem líquida de 21% (lucro líquido sobre vendas líquidas), Lajida de R$ 4,3 bilhões e receita líquida de R$ 12,1 bilhões. O lucro do exercício é quase R$ 1 bilhão inferior ao obtido em 2005 (quando os preços chegaram ao auge), que fechou em R$ 3,4 bilhões. Galdi atribui isso, se se concretizar, a momentos de preços do aço e de preços de insumos diferenciados e câmbio. No último trimestre de 2006, segundo sua previsão, a Usiminas fechou com lucro de R$ 722 milhões.
Em 2007, a Usiminas deverá investir em seus projetos de expansão e modernização cerca de R$ 1,7 bilhão, incluindo a área de meio ambiente, informou Soares. Ele acredita que será um ano em que o mercado interno de aço será aquecido, com crescimento da demanda entre 8% e 9% e com os preços estáveis.
O analista do ABN Amro concorda com a avaliação de Soares e acredita que 2007 será ótimo para a empresa, que tem um plano de investimento pesado e uma dívida quase nula e ganhou grau de investimento da agência Fitch. “Prevejo alta na demanda por chapa grossa de medidas grandes para projetos de infra-estrutura, que vai beneficiar a Usiminas. Acredito até que irá reduzir exportações”. Apesar de considerar a gestão da Usiminas muito conservadora, o analista acha que seria muito bom para a Usiminas ter uma laminadora no exterior.
Valor Econômico